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Polícia descobre conversa de Jairinho com ex no dia da morte de Henry

Câmeras de segurança mostraram Jairinho, Monique e Henry no elevador após o menino ser entregue pelo pai, Leniel Borel - Reprodução/TV Globo
Câmeras de segurança mostraram Jairinho, Monique e Henry no elevador após o menino ser entregue pelo pai, Leniel Borel Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

29/03/2021 09h20

Um dia antes e na madrugada da morte de Henry Borel, no dia 8 de março, no Rio de Janeiro, o padrasto do menino e vereador Dr. Jairinho (Solidariedade), conversou com uma ex-namorada que ele ainda ajudava financeiramente, segundo investigações da Polícia Civil do Rio.

De acordo com a apuração da Polícia revelada pelo "Fantástico", da TV Globo, Jairinho foi acusado de agressão pela ex-mulher, Ana Carolina Netto, contradizendo um depoimento à mão, dado na última semana, em que afirmou que ele "sempre fez o bem".

Câmeras de segurança mostraram a professora Monique Medeiros, mãe de Henry, segurando o filho no colo, às 19h18, do domingo (7), poucas horas antes da morte do garoto.

Na ocasião, a professora teria ido com ele em uma padaria para comprar lanches na tentativa de acalmá-lo já que o menino chorava e chegou a vomitar após ser entregue à mãe depois de ficar o final de semana na casa do pai, o engenheiro Leniel Borel.

As filmagens ainda mostram Dr. Jairinho com Monique e Henry no elevador do prédio em que eles moravam, às 19h39 da noite. O parlamentar chega a passar a mão na cabeça do menino dentro do elevador.

Horas depois da morte da criança, as câmeras de segurança do prédio registraram Jairinho, às 9h08 da manhã da segunda-feira (8), deixando o apartamento onde Henry morreu. Ele disse na delegacia que saiu do hospital e foi para casa para trocar o chinelo pelo tênis.

Câmeras do prédio em que o menino morreu registram Dr. Jairinho saindo do local novamente - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Câmeras do prédio em que o menino morreu registram Dr. Jairinho saindo do local novamente
Imagem: Reprodução/TV Globo

A reportagem da Rede Globo também mostrou imagens das câmeras da loja de um shopping que mostraram Henry ao lado do pai e a troca de carinho entre ambos no final de semana antes da morte da criança. "O que eu quero saber é como foi, quem foi e por que fizeram isso com o meu filho", disse Leniel.

Leniel Borel troca carinho com Henry dentro da loja de um shopping no último final de semana que passou com o filho - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Leniel troca carinho com Henry dentro da loja de um shopping no último fim de semana que passou com o filho
Imagem: Reprodução/TV Globo

Novas conversas

A polícia descobriu que Jairinho conversou com uma ex-namorada - que não foi identificada - na tarde de domingo (7) e na madrugada da morte de Henry.

Em depoimento, a mulher disse que no dia 7 (domingo), às 15h47, mandou uma mensagem de texto ao vereador: "Estou cansada de você!". Em resposta, às 1h47, do dia 8 (segunda), o parlamentar respondeu: "Pelo amor de Deus". Segundo Monique foi aproximadamente nesse horário, às 1h50, que ela e o namorado saíram da sala para assistir televisão no quarto de hóspedes para não interromper o sono de Henry.

A mulher explicou que conversa dela com Jairinho seguiu normalmente sem que o parlamentar falasse da morte do menino, e só soube do caso por amigos em comum e pela imprensa. Ela ainda disse que, mesmo separados, ele continuava a ajudando financeiramente.

A mulher que enviou a mensagem para Jairinho no dia 7 também afirmou que o seu relacionamento com ele terminou em outubro do ano passado. Apesar disso, ela declarou que ambos se encontraram presencialmente por três vezes em janeiro deste ano e conversavam frequentemente por mensagem ou telefone - até mesmo durante a madrugada.

Ela ainda revelou que chegou a ficar com o vereador há cerca de um mês e que ambos já brigaram, com trocas de xingamentos, mas sem agressão física.

Ex-namorada denuncia agressões

Outra ex-namorada de Jairinho, que depôs na última semana e denunciou o vereador por agressões contra ela e a filha, enviou uma mensagem nas redes sociais ao pai do menino após saber da morte da criança.

Hoje já se passaram quase... quase não, oito anos de tudo que aconteceu comigo. E eu nunca fiz nada, nem nunca procurei nada por medo. A verdade é essa. E esse medo, eu vou ser bem sincera, eu tenho até hoje. Hoje, nessa data de hoje, eu tenho medo de alguma coisa acontecer, por ele saber as coisas que eu sei, em relação a mim, que aconteceram comigo e com ele"
Ex-namorada de Jairinho, em áudio enviado ao pai de Henry

No depoimento, a ex-namorada do parlamentar, que não foi identificada, chegou a afirmar que Jairinho rasgou a sua roupa na rua quando a viu chegando em casa depois de ela ir a uma balada. Em outro momento, também de acordo com ela, o hoje vereador queria conversar com ela e quando a mulher se recusou, ele teria a puxado pela grade do portão, fazendo com que ela batesse os seios contra a grade. A ação ocasionou a abertura de alguns pontos nos seios da mulher que havia feito implante de silicone.

Ainda no depoimento, a ex-namorada disse que Jairinho, quando estava sozinho com a filha, afirmava que a menina "atrapalhava a vida da mãe e a vida da sua mãe ia ser mais fácil sem ela". Ademais, o vereador dava "cascudos" na cabeça da garota e torcia seus braços e pernas, e chegou a levar a menina para uma piscina e afundava a cabeça dela embaixo d'água.

Leniel comparou as falas da ex-namorada de Jairinho com as reações que Henry demonstrava. "Foi muito parecido [o relato] das reações que a menina tinha com o que o meu filho tinha. De vomitar, de não conseguir olhar o Jairinho, de não querer ficar perto do padrasto, de preferir ficar com os avós do que ficar com a mãe, não querer está próximo dele [Jairinho] de jeito nenhum."

"Mas, assim, o que mais eu posso te falar é questão de você não desistir, sabe? De não se culpar, não se martirizar porque eu passo por isso todos os dias da minha vida, todos os dias, e por mais que a minha filha olhe no meu olho, como ela já olhou e disse pra mim: 'Você não teve culpa', eu sei, não adianta, é muito ruim"
Acrescentou a ex-namorada de Jairinho, em áudio enviado ao pai de Henry

Ex-mulher fez boletim contra Jairinho

Segundo a reportagem, Jairinho já foi acusado de agressão por Ana Carolina Ferreira Netto, ex-mulher do vereador, em 2014. O boletim de ocorrência aponta que o parlamentar "sempre foi violento" e que ela sofreu "diversas agressões" de Jairinho que chegou a tentar enforcá-la. Mesmo com o registro da ocorrência, o caso foi arquivado.

Apesar da denúncia em 2014, Ana Carolina enviou uma carta feita a mão para a defesa do parlamentar no qual afirma que o homem "sempre fez o bem".

Ao UOL, o advogado André França, que defende Monique Medeiros e Jairinho, enviou três depoimentos escritos à mão por duas ex-companheiras do parlamentar - incluindo Ana Carolina - e um dos três filhos do político. De acordo com ele, o conteúdo das cartas foi anexado ao processo.

No documento escrito por Ana Carolina Netto, com quem Jairinho tem dois filhos, ela diz que o parlamentar é um "cara completamente preocupado com tudo. Fazia questão dos domingos terem o nosso programa de família". Ana Carolina escreveu ainda que para ela "chega ser um absurdo ter que escrever sobre ele [Jairinho], pois sempre fez o bem, com os filhos, funcionários, vizinhos...".

Novo padrão de vida de Monique

Em conversa com o pai de Henry revelada pela reportagem, em janeiro, Monique, que já havia se mudado no mesmo mês para o condomínio de classe média alta com o parlamentar, falou sobre a mudança no padrão de vida.

Estava sem dinheiro para nada. Agora estou tendo a oportunidade de dar uma vida melhor a ele [Henry], de matricular ele numa escola boa e cara"
Monique Medeiros, mãe de Henry

As mensagens que Monique enviou ao pai de Henry no qual relata a melhora da condição de vida - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
As mensagens que Monique enviou ao pai de Henry no qual relata a melhora da condição de vida
Imagem: Reprodução/TV Globo

Defesa nega acusações

De acordo com o advogado André França Barreto, "jamais aconteceu" qualquer agressão do parlamentar contra as ex-mulheres e as crianças.

"Esses episódios [denunciados] teriam acontecido há mais de uma década e sem qualquer testemunha. O que a gente está tentando mostrar é, subjetivamente, que em todas as outras relações, Jairinho não teve qualquer conduta violenta, de agressão", declarou a defesa.

"De tudo o que tem sido apurado até agora, tudo que a gente teve acesso, (...) família ou conhecidos, da natação, do futebol, a gente categoricamente afirma que existem elementos concretos a demonstrar que o Jairinho e a Monique não têm qualquer condição, probabilidade, possibilidade de terem feito dolosamente ou ainda que culposamente qualquer ato de agressão ao Henry", finalizou o advogado.