Agressão, remédio e ciúme: 5 mudanças na versão da mãe de Henry após prisão
A professora Monique Medeiros, mãe de Henry Borel, escreveu na prisão uma carta —revelada nesta semana— alterando sua versão sobre o ocorrido na madrugada de 8 de março e relatando relacionamento abusivo com o vereador Dr. Jairinho (sem partido).
Entre as contradições ante seu depoimento à Polícia Civil em 17 de março, estão mudanças de posicionamento sobre o relacionamento do casal e sobre a convivência de Jairinho com o filho. Outra diferença diz respeito à dinâmica da morte do menino. Veja a seguir:
Agressões contra Henry
À polícia, Monique falou sobre o relacionamento de Jairinho com Henry, conforme trecho do depoimento:
"Monique afirmou que era muito bom, não tendo relatado quaisquer problemas; embora o relacionamento não fosse próximo, já que se conheciam há pouco tempo, Jairo e Henry tinham boa relação, inclusive, ocasionalmente, brincando juntos; Monique não acredita que Jairinho tenha feito qualquer coisa contra seu filho, até porque a relação entre eles era boa, e ele sempre tentava cativar o amor de Henry."
Na carta, Monique confirma que conversou com Thayna Ferreira, babá de Henry. A professora diz que a cuidadora a avisou quando Jairinho chamou o menino para o quarto e fechou a porta. "Eu mandei ela entrar e ver o que estava acontecendo com meu filho várias vezes e ela dizendo que não queria incomodar o Jairinho."
Monique diz que em vídeo-chamada viu Henry mancando e que, ao voltar para casa, confrontou o vereador.
Perguntei porquê [sic] ele levou meu filho pro quarto sozinho, porquê [sic] ele [Henry] rasgou a blusa da Thainá e porquê [sic] ele estava mancando assustado? Ele me explicou que chamou Henry pra ver o que ele tinha comprado e arrumar as malas, que colocou Henry em cima da cama, ligou no desenho, mas que Henry ficou assustado porque ele fechou a porta pra ir ao banheiro e Henry saiu correndo, escorregou da cama e bateu o joelho no chão
A mãe de Henry relata também um episódio ocorrido em janeiro envolvendo o filho e Jairinho.
"Henry veio correndo até a cozinha, uns 15 minutos depois que Jairinho chegou, dizendo que o tio tinha dado uma 'banda' nele e uma 'moca'. Fui até a sala perguntar o que tinha acontecido, e Jairinho disse que ele era um 'bobalhão', que segurou ele pelos braços brincando e passou a perna, mas que Henry nem caiu pois ele estava segurando-o, aí Henry disse pra ele que ia contar pra mim e ele deu uma 'moca' brincando e disse para o Henry parar de ser 'bobalhão' que era só uma brincadeira."
Agressões contra Monique
Diferentemente do relatado à polícia, Monique disse na carta que sofria agressões de Jairinho. Aos agentes, a professora não citou qualquer tipo de anormalidade entre o casal.
"Sutilmente, Jairinho começou me pedindo para apagar muitas fotos do meu Instagram, que ele não poderia ter muita exposição, que muita gente poderia ter uma visão diferente do que eu era e não vi nada demais e apaguei. Depois ele começou a pedir que eu parasse de responder mensagens de amigos homens, então eu parei. Depois ele começou a pedir que eu bloqueasse esses amigos para que não tivessem acesso a mim, assim eu fiz."
"[Jairinho] Colocou localizador no meu telefone e sempre pedia que eu mandasse foto. Jairinho começou a ter ciúme de eu ir na academia e até colocou gente para me seguir e tirar foto de mim malhando para saber com qual roupa eu estava indo treinar", completou.
Na carta, Monique falou também sobre ciúmes do namorado em relação ao pai de Henry.
Lembro de ser acordada no meio da madrugada, sendo enforcada enquanto eu dormia na cama ao lado do meu filho. Quase sem ar, ele jogou o telefone em cima de mim, perguntando, me xingando e me ofendendo do porquê eu não estava atendendo ele e do porquê eu tinha respondido uma mensagem do Leniel [Borel, ex-marido de Monique]
Monique também relatou descontrole de Jairinho por ciúme em outra ocasião.
"Quando Jairinho chegou do trabalho, fui contar toda feliz da sessão da psicóloga, de como tinha sido reconfortante e que o Henry teria alta antes de mim (...). Mas Jairinho 'focou' em uma única coisa: que Leniel tinha ido junto (...). Ele começou a discutir comigo com ciúmes (...). Quanto mais eu explicava, pior estava sendo, e eu falei que iria embora de novo, que não aguentava mais tanta humilhação, e fui pegar minhas malas."
"Foi quando ele teve uma crise e começou a chutar minhas malas na sala, tomou minha bolsa e escondeu. Corri para o quarto de hóspedes e me tranquei lá. Ele começou a bater na porta, esmurrar a porta, gritar, xingar, até que ele arrombou a fechadura e conseguiu entrar no quarto e começou a gritar comigo, dizendo que só ia parar se eu tomasse remédio e fosse dormir no nosso quarto."
Medicamentos
Ao começar a detalhar a dinâmica do ocorrido no final da noite de 7 de março e a madrugada do dia 8, Monique foi questionada pela polícia se havia sido medicada.
"Perguntada se tomou algum remédio, respondeu que não; perguntada se ingeriu bebida alcoólica ou se Jairo ingeriu bebida alcoólica ou alguma outra droga, respondeu que não."
Entretanto, na carta, a mãe de Henry contou que Jairinho lhe deu dois remédios.
"Me deu dois medicamentos que ele estava acostumado a me dar, pois dizia que eu dormia melhor [Patz e Rivotril de 2 mg], mas eu não o vi tomando. Logo eu adormeci, acho que nem chegamos a conversar."
Em outra ocasião, Monique relata na carta suposta tentativa do namorado de dopá-la.
Um dia fui ao banheiro e quando voltei, peguei ele macerando um comprimido dentro da minha taça na cozinha escondido. Perguntei a ele porquê ele tinha feito aquilo e ele disse que era para eu dormir melhor e eu comecei a brigar com ele, que não fazia sentido. E ele começou a me humilhar, dizendo que eu queria ficar acordada para falar com homem no Instagram (inventando uma história que só existia na cabeça dele)
"Ele tomou meu celular da minha bolsa, me segurou bem forte pelos braços e me jogou no sofá, dizendo que eu não ia a lugar nenhum. Eu saí correndo para o quarto pra me trancar e ele veio correndo atrás, me pegou com mais força e me jogou na cama e todas as vezes que eu tentava levantar, ele me empurrava com mais força, até conseguir deixar meus dois braços roxos."
O que aconteceu na madruga de 8 de março
Para a polícia, Monique disse ter sido a primeira a encontrar o filho caído no chão do quarto e que depois chamou por Jairinho.
"Que já por volta de 03:30H, aproximadamente, a declarante acordou, quando viu a TV ligada e Jairo dormindo ao seu lado; Que a declarante, então, acordou Jairo, mexendo em seu braço, para que fossem para o quarto; Que Jairo, aparentemente, dormia em 'sono pesado'; Que Jairo se levantou e foi ao banheiro da suíte de hóspedes; Que a declarante foi para o quarto do casal e lá já se deparou com seu filho caído ao chão; que ao colocar seu filho de volta na cama, notou que ele estava com mãos e pés gelados, que não respondia aos seus chamados e que os olhos estavam revirados; Que a declarante gritou por Jairo, que veio correndo."
Na carta, a versão é diferente.
"De madrugada ele [Jairinho] me acordou, dizendo para eu ir até o quarto, que ele pegou o Henry no chão, o colocou na cama e que meu filho estava respirando mal. Fui correndo até o quarto, meu filho estava de barriga para cima, descoberto e com a boca aberta, olhos olhando para o nada. Notei que Henry estava com as mãos e os pés gelados e perguntei como ele tinha visto Henry caído no chão?! Ele disse que escutou um barulho que chamou sua atenção e acordou pra ver. Que Henry tinha caído da cama! Então enrolei o Henry numa manta e corremos para a emergência."
Depois da morte de Henry
Os policiais perguntaram a Monique como estava sua relação com Jairinho após a morte da criança.
"Monique respondeu que eles estão juntos e pretendem passar por isso unidos."
Apesar disso, em carta, Monique disse: "Eu não sabia, mas estava sendo manipulada durante todo o tempo em um relacionamento que me oprimia e eu não sabia como sair. Eu tentava a todo custo me afastar e me desvincular dele, mas fui diversas vezes ameaçada e minha família também".
Outro lado
Procurado pelo UOL sobre a nova versão de Monique, Braz Sant'Anna, advogado de Jairinho, chamou o relato de "peça de ficção".
"Sem falar sobre a tese da defesa, o que somente farei após a denúncia, posso adiantar que a carta da Monique é uma peça de ficção, que não encontra apoio algum nos elementos de prova carreados aos autos. Não há realidade no relato dela", disse o defensor, por meio de nota.
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