'Ou caía fora ou agia como polícia', diz Mourão sobre mortes no Jacarezinho
O vice-presidente Hamilton Mourão voltou a comentar a operação policial que resultou em 29 mortes na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, na semana passada. No dia da operação, Mourão declarou que todos os mortos "eram bandidos", sem apresentar provas.
"Você tem uma área onde quem passar ali vai levar tiro. Eles [os criminosos] estão com metralhadoras, existem imagens na TV. Então é uma situação complicada. A polícia, ela tinha duas linhas de ação ali. A partir do momento em que houve o enfrentamento, ou ela caía fora, ou ela agia como polícia", afirmou Mourão durante o UOL Entrevista, conduzido pela jornalista Fabíola Cidral, apresentadora do UOL, e pelos colunistas Carla Araújo e Josias de Souza.
Os registros de ocorrências aos quais a imprensa teve acesso mostram que ao menos uma das vítimas não estava armada. Além disso, um terço dos mortos não tem processos criminais no TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro).
O vice disse que, segundo suas informações, "a polícia se preparou para aquilo ali". "No primeiro minuto [da ação], um policial é abatido com um tiro na cabeça. E um tiro na cabeça não é um tiro aleatório, é um tiro de um sniper, de um camarada que estava muito bem posicionado", afirmou.
"O que eu deixo claro, com a experiencia de quem já teve operações realizadas no Rio, é que a situação lá, assim como em outras cidades no Brasil, nós estamos enfrentando uma guerrilha, uma guerrilha estruturada, e força de guerrilha que são aquele bando armado, e muito bem armado, força de sustentação que provê logística e outros tipos de apoio, e força subterrânea que provê inteligência. É isso que ocorre."
Ele fez ainda uma comparação com outras atuações de forças de segurança. "O combate a essas quadrilhas é quase a mesma coisa que o combate ao desmatamento da Amazônia. Ele não passa única e exclusivamente pela repressão. Enquanto nós não encararmos a situação das favelas, que aí, para ficar mais bonitinho, a turma chama de comunidade, colocar rua, esgoto, casa com número, escola decente, atendimento de saúde decente, nós estaremos nesse combate eterno. Ninguém pode ter grupo armado dominando parcela de locais no Brasil", completou.
Vacinas
Ao falar sobre as vacinas contra a covid-19, o vice-presidente disse que "o mundo inteiro está se debatendo com isso". "Acho que estamos sofrendo uma crítica talvez um pouco além daquilo que é a realidade", disse Mourão. "A União Europeia está com problemas, não consegue avançar numa velocidade de vacinação, tanto que hoje nós temos a notícia da ruptura do contrato com a AstraZeneca, porque ela não cumpriu os prazos."
Segundo o militar, "quem vacinou para valer mesmo são os Estados Unidos, donos da vacina". "Não julgo que o governo lavou as mãos nessa questão da vacina, ele buscou aquilo que se julgou importante naquele momento".
"A maior discussão que pode ser colocada em relação a essa questão da vacina é o termo dos contatos com a Pfizer", disse Mourão. "Desde agosto do ano passado se buscou negociar, e julgo eu que a gente poderia ter buscado isso antes."
Mesmo com a crítica, o vice disse acreditar que o país terminará 2021 com 160 milhões de brasileiros vacinados. "Naquilo que a gente espera, eu julgo plenamente [possível] que nós chegaremos ao final do ano com 150, 160 milhões de pessoas vacinadas aqui no Brasil, e consequentemente atingindo aqueles grupos todos que são prioritários e são necessários que sejam vacinados", afirmou.
CPI da Covid
Mourão comentou ainda o esperado depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI da Covid, adiado por ele ter supostamente tido contato com dois assessores contaminados. Segundo o vice-presidente, será o depoimento mais difícil.
"Esse depoimento dele será o mais difícil, é óbvio, ele tem que se preparar porque vão fazer um interrogatório bem duro em cima das ações que ele fez ou deixou de fazer", disse. "Ele terá que ter dados bem consistentes para apresentar."
Aumento salarial
O vice-presidente comentou, ainda, uma portaria do Ministério da Economia que permite a reservistas e servidores públicos aposentados que exercem também determinados cargos públicos receber acima do teto constitucional. "É legal, mas eu não considero ético no momento que isso aconteça", disse o vice-presidente, que poderá ser beneficiado pela nova norma.
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