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Mourão: 'Figuras esquecidas reapareceram na CPI com camisola de virgem'

Andreia Martins, Ana Carla Bermúdez, Gabriel Toueg e Letícia Lázaro

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL

10/05/2021 11h05

Para o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), a CPI da Covid fez reaparecer figuras que, segundo ele, "estavam esquecidas" na política.

"A CPI hoje trouxe à luz algumas figuras da política que estavam esquecidas e que reapareceram vestindo uma camisola nova, de virgem", disse Mourão ao participar do UOL Entrevista, conduzido pela apresentadora Fabíola Cidral e pelos colunistas Josias de Souza e Carla Araújo.

Mourão afirmou que não se envolveu com a CPI "porque não diz respeito às minhas atividades". Questionado sobre a responsabilidade do governo sobre os efeitos da pandemia do novo coronavírus no Brasil, ele declarou que "o governo é responsável por tudo o que aconteça ou deixa de acontecer".

Mas vê como "difícil" que haja o impeachment do presidente Bolsonaro. "Acho muito difícil que ocorra o impeachment do presidente Bolsonaro porque ele não cometeu crime de responsabilidade. São questões de interpretações sempre. Não existe uma pressão popular para isso", disse.

Você pode dizer que o presidente perdeu popularidade em determinados segmentos da sociedade, mas em outros ele continua com a popularidade dele. Além de possuir uma base consistente dentro do Congresso.
Hamilton Mourão, vice-presidente da República

Ao falar do papel da oposição na CPI, como o do relator Renan Calheiros (MDB), nome que o governo federal tentou tirar da relatoria da comissão, o vice-presidente destacou que "tem que saber dialogar com todas as peças do tabuleiro, inclusive a oposição" e que o presidente Bolsonaro "vem procurando fazer esse jogo político".

"Cito aí o ex-presidente [José] Sarney que é um político com uma experiência enorme. Obviamente ele tem uma liderança dentro do partido dele, o MDB, e em outros segmentos. E não se pode jamais deixar de ouvi-lo, até porque eu lembro que, no período de governo do presidente Sarney, ele também enfrentou várias pressões em relação à questão de impeachment", completou Mourão.

Vacinas

Ao falar sobre as vacinas contra a covid-19, o vice-presidente disse que "o mundo inteiro está se debatendo com isso". "Acho que estamos sofrendo uma crítica talvez um pouco além daquilo que é a realidade", disse Mourão. "A União Europeia está com problemas, não consegue avançar numa velocidade de vacinação, tanto que hoje nós temos a notícia da ruptura do contrato com a AstraZeneca, porque ela não cumpriu os prazos."

Segundo o militar, "quem vacinou para valer mesmo são os Estados Unidos, donos da vacina". "Não julgo que o governo lavou as mãos nessa questão da vacina, ele buscou aquilo que se julgou importante naquele momento".

"A maior discussão que pode ser colocada em relação a essa questão da vacina é o termo dos contatos com a Pfizer", disse Mourão. "Desde agosto do ano passado se buscou negociar, e julgo eu que a gente poderia ter buscado isso antes."

Mesmo com a crítica, o vice disse acreditar que o país terminará 2021 com 160 milhões de brasileiros vacinados. "Naquilo que a gente espera, eu julgo plenamente [possível] que nós chegaremos ao final do ano com 150, 160 milhões de pessoas vacinadas aqui no Brasil, e consequentemente atingindo aqueles grupos todos que são prioritários e são necessários que sejam vacinados", afirmou.

CPI da Covid

Mourão comentou ainda o esperado depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI da Covid, adiado por ele ter supostamente tido contato com dois assessores contaminados. Segundo o vice-presidente, será o depoimento mais difícil.

"Esse depoimento dele será o mais difícil, é óbvio, ele tem que se preparar porque vão fazer um interrogatório bem duro em cima das ações que ele fez ou deixou de fazer", disse. "Ele terá que ter dados bem consistentes para apresentar."

Operação no Jacarezinho

Na semana passada, após operação policial na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, Mourão se referiu aos mortos como "tudo bandido". Hoje, ao falar do assunto, o vice-presidente manteve a narrativa. "Os dados que eu tenho [mostram] que a polícia se preparou para aquilo ali. No primeiro minuto um policial é abatido com um tiro na cabeça, que não é um tiro aleatório, é um tiro de um camarada que estava muito bem posicionado", afirmou.

"É uma situação complicada", avaliou. Para Mourão, a polícia "tinha duas linhas de ação ali: a partir do momento em que houve o enfrentamento, ou ela caía fora ou agia como polícia". O vice reconheceu, entretanto, que o combate ao crime organizado no Rio "não passa única e exclusivamente pela repressão". "Enquanto não encaramos a situação das favelas, colocar rua, esgoto, casa com número, escola decente, atendimento de saúde decente, estaremos nesse combate eterno", afirmou.

O estado brasileiro não pode permitir que áreas de uma cidade estejam dominadas por facções criminosas, sejam narcoguerrilhas ou milícias. Hamilton Mourão, vice-presidente da República

Aumento salarial

O vice-presidente comentou, ainda, uma portaria do Ministério da Economia que permite a reservistas e servidores públicos aposentados que exercem também determinados cargos públicos receber acima do teto constitucional. "É legal, mas eu não considero ético no momento que isso aconteça", disse o vice-presidente, que poderá ser beneficiado pela nova norma.