Topo

Jacarezinho: Moradora acolhe mães de mortos após ataques nas redes sociais

Lorrane Sequeira, moradora do Jacarezinho, criou o Abrace uma Mãe - Arquivo Pessoal
Lorrane Sequeira, moradora do Jacarezinho, criou o Abrace uma Mãe Imagem: Arquivo Pessoal

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio

18/05/2021 04h00

Após a operação policial mais letal do Rio de Janeiro, moradores da favela do Jacarezinho, na zona norte carioca, se unem para tentar se reerguer.

Uma onda de xingamentos nas redes sociais contra as mães dos 27 mortos pela polícia levou a moradora Lorrane Sequeira, 22, a criar o Abrace Uma Mãe —projeto que visa apoiar essas mulheres que perderam os filhos na operação.

O que mais me motivou foi ver na internet a reação das pessoas contra as mães, xingando elas, colocando a culpa nelas, que se o filho virou bandido é porque não deu educação. Sou mãe da periferia e sei como isso é difícil para nós, é uma crueldade esses julgamentos

Lorrane Sequeira, fundadora do Abrace uma Mãe

"Mãe nenhuma cria filho para virar bandido. Nada vai parar essa máquina de ódio. Então que a gente tenha uma reação menos pior, que quando uma mãe tiver que passar por isso, que ela possa procurar por um de nós e ter apoio", disse a estudante de Gastronomia.

A operação aconteceu três dias antes de ser comemorado do Dia das Mães. "Nós recebemos vídeos de pessoas levando palavras de conforto para essas mães. Depois disso consegui parcerias com o LabJaca e o Nica Jacarezinho [projetos sociais que atuam na comunidade]."

Já temos duas mães sendo assistidas. Nos falamos todos os dias. Uma está vivendo a base de remédios e a outra não consegue levantar da cama. O importante agora é que elas não se sintam sozinhas

Lorrane explica que conseguiu o apoio de um psicólogo, mas que precisa de mais voluntários. O projeto também contribui com a distribuição de cestas básicas e remédios.

"Na quinta-feira [20], vamos ter uma reunião com a associação de moradores, com os movimentos aqui da comunidade e acredito que algo saia desse encontro. Eu e uns amigos fizemos uma vaquinha e conseguimos comprar remédio para uma outra mãe. Meu alcance ainda está muito pequeno, mas a gente quer crescer."

Lorrane se encontrou ontem com a presidente da Comissão Especial de Enfrentamento à Miséria e Extrema Pobreza da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Renata Souza (PSOL). Segundo a deputada, a comissão pretende oferecer uma ponte com a Defensoria Pública.

"Inicialmente, a primeira saída é dar um apoio no encaminhamento psicológico. Podemos fazer também um encaminhamento para a Defensoria Pública, para ter uma ajuda jurídica, já que são mulheres que não podem pagar advogados", explicou.

Orientações sobre como ajudar o Abrace uma Mãe estão na página do projeto no Facebook.