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PM à paisana mata cão a tiros e é acusado de ameaçar tutor do animal em BH

Polícia foi chamada no local após a morte do cachorro - Arquivo pessoal
Polícia foi chamada no local após a morte do cachorro Imagem: Arquivo pessoal

Bruno Torquato

Colaboração para o UOL, em Betim (MG)

25/06/2021 13h41

Um policial militar que estava à paisana no bairro Letícia, em Belo Horizonte, matou um cão com sua arma de fogo. O homem foi identificado como Renato Esteves da Fonseca e caso aconteceu na manhã de ontem. Segundo testemunhas, o PM ameaçou o tutor do cachorro após o disparo.

Alberto Luiz Andrade Simão contou ao UOL que ele foi comprar carne e deixou seu cão Yankee, de 11 anos e sem raça definida, na guia em um poste. Entretanto, o animal se soltou e correu pela avenida.

"Fiquei 20 minutos atrás dele, eu chegava perto e ele corria, ele estava brincando. Quando ele desceu mais um pouco na rua, tinha esse senhor [o policial] com o cachorro dele", disse.

Nesse momento, os cães teriam se estranhado e rosnado um para o outro. "Ele simplesmente sacou a arma e deu um tiro no meu cachorro. Eu estava há 30 metros de distância e naquele momento era tudo muito surreal, não conseguia falar. Depois do cão caído, ele deu outro tiro", relata Alberto.

O tutor ressalta protestou no momento e foi chamado de irresponsável pelo militar pelo fato do animal estar solto.

Segundo Alberto, o policial afirmou: "Vou ligar para o 190 agora porque você tem que ir preso e tem sorte de eu não dar um tiro na sua cara". As palavras foram confirmadas por testemunhas que, inclusive, foram ouvidas nesta resportagem.

Alberto disse que Renato só foi se identificar como policial quando duas viaturas da PM chegaram ao local. "Apesar que eu já sabia que ele era, pois ninguém dá dois tiros no meio da rua e fica esperando viatura", opina Alberto.

Uma testemunha que não quis se identificar disse ao UOL que se assustou com o despreparo de Renato.

"É perigoso para sociedade, um despreparo muito grande. O cão só rosnou e 'do nada' ele atirou contra o cachorro. O Yankee não tentou atacar, mesmo porque nenhum cão vai atacar de uma vez", disse.

O tutor ainda afirmou que em nenhum momento Renato se desculpou ou mostrou remorso. "Se ele tivesse chegado e falado que se assustou e pedisse desculpa... Desculpas 'aquieta' muito a gente, mas em momento nenhum ele assumiu que fez alguma coisa errada."

Agora, Alberto e sua família vive com a dor do luto e apreensivos sobre as futuras posturas do militar Renato.

"Passamos uma noite infernal e com medo, pois ele é policial. Se ele teve disposição de dar dois tiros em um animal às 11h30 em uma avenida movimentada, tenho medo do que ele pode fazer com minha família. Sou um cidadão comum, não tenho porte de arma, não tenho passagem pela polícia, mas tenho medo porque eu sei como funciona o corporativismo policial", desabafa.

O outro lado

De acordo com o Boletim de Ocorrência registrado sobre o caso, o policial militar Renato Esteves da Fonseca, relatou que caminhava com seu cachorro filhote da raça american bully retornando de um pet shop e que, em determinado momento, um outro cão que estava solto na rua tentou atacá-lo.

O documento ainda mostra que o policial relatou que seu cão tentou defendê-lo, mas que o de Alberto teria sido agressivo com eles. O policial ainda informou que, ao gritar contra Yankee, não teve sucesso em afastá-lo. Ele então conta que utilizou da arma de fogo para se proteger do que seria uma "injusta agressão".

Posicionamento da PM

Questionada pela reportagem, a PMMG (Polícia Militar de Minas Gerais) afirmou que o policial agiu em Estado de Necessidade.

Em nota, a instituição relata a versão do policial de que ele "que estava de folga e à paisana, durante caminhada com seu cão, da raça American Bully".

"Eles foram atacados por um cachorro de grande porte que estava solto na via e que chegou a gritar para que o animal se afastasse. Ainda de acordo com o militar, ao defender-se e defender o seu cão de uma agressão oriunda de outro animal, ele agiu em Estado de Necessidade, conforme previsto no Código Penal brasileiro, efetuando disparos de arma de fogo", diz mensagem enviada ao UOL.

Ainda, segundo a instituição, uma perícia técnica compareceu ao local e a ocorrência foi recebida na Delegacia de Plantão 4. Os envolvidos foram ouvidos e foi instaurado um procedimento para apuração do caso.