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Advogada acusada de levar bilhetes do CV a presídio terá prisão domiciliar

Segundo a PF, imagem do circuito interno do presídio federal de Catanduvas (PR) mostra Marcinho VP (à esquerda) ouvindo leitura de bilhete feita pelo detento Cleverson dos Santos em banho de sol - Reprodução
Segundo a PF, imagem do circuito interno do presídio federal de Catanduvas (PR) mostra Marcinho VP (à esquerda) ouvindo leitura de bilhete feita pelo detento Cleverson dos Santos em banho de sol Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL

02/07/2021 00h14

A advogada Luceia Alcântara de Macedo, presa preventivamente desde o dia 15 deste mês em uma operação da Polícia Federal e apontada pela investigação como a responsável por organizar um esquema de envio de bilhetes entregues à cúpula do CV (Comando Vermelho) no presídio federal de Catanduvas (PR), teve prisão domiciliar decretada.

O UOL teve acesso à decisão de hoje da Justiça Federal do Paraná, que determinou a substituição da prisão preventiva pela domiciliar em razão da advogada ter uma filha menor de idade e que está sob os cuidados de uma empregada doméstica, pois a criança não tem contato com o pai nem avós maternos e paternos.

" [A investigada] é mãe de uma criança de apenas três anos, devendo ser deferida a prisão domiciliar, conforme prevê o art. 318, V, do Código de Processo Penal", diz trecho da decisão.

Também foi levado em consideração a recomendação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que, por causa da pandemia, diz ser necessário "evitar maior aglomeração de indivíduos dentro do sistema prisional, e recomenda a reavaliação das prisões provisórias de mães responsáveis por crianças."

"Medidas cautelares alternativas à prisão, a exemplo da prisão domiciliar monitorada por tornozeleira eletrônica e da proibição de contato com demais investigados podem, a princípio, resguardar suficientemente o meio social", diz o documento.

Advogada presa movimentou mais de R$ 5 milhões

Apontada pela PF como a responsável por organizar a entrada e a saída de bilhetes na penitenciária federal de Catanduvas (PR) e de fazer pagamentos a mando do CV, a advogada movimentou R$ 5 milhões em transações bancárias em menos de dois anos, segundo a investigação. Mais de R$ 500 mil das movimentações se deu em dinheiro vivo.

"Chama atenção o fracionamento dos depósitos, todos inferiores a R$ 10 mil, a fim de evitar transações suspeitas que podem ser objeto de análise dos órgãos de inteligência financeira", diz um dos trechos do inquérito da PF.

Ela também é acusada de fazer pagamentos a parentes de integrantes do CV detidos no sistema penitenciário federal.

Com base na quebra de sigilos bancários, a investigação verificou a movimentação de valores na conta da filha de 4 anos da defensora. A PF também acusa a advogada de participação em crime de lavagem de dinheiro para ocultar a origem ilícita do seu patrimônio com a aquisição de veículos, imóveis e até de seis cavalos de corrida no Rio de Janeiro.

Como funcionava o esquema

A PF deflagrou no dia 15 deste mês uma operação para cumprir os mandados de prisão preventiva decretados pela Justiça Federal dos 24 envolvidos no esquema, suspeitos de participação em crimes como corrupção, organização criminosa, lavagem de dinheiro e associação para o tráfico.

O UOL teve acesso aos detalhes da investigação, que conta com interceptações telefônicas, quebras do sigilo bancário, fiscal e financeiro dos investigados. No inquérito, há imagens de mais de 30 entregas de bilhetes feitas pelo policial penal Docimar Pinheiro.

Ele foi flagrado por câmeras de segurança do presídio federal de Catanduvas (PR) enquanto entregava esses bilhetes aos chefões do CV. Entre eles, Fabiano Atanásio da Silva, o FB, acusado de ser o principal responsável pela ação atrás das grades. Imagens mostram ainda um detento lendo um bilhete para Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, apontado como o principal chefão da facção criminosa.

O que dizem os investigados

A advogada Paloma Gurgel, que representa Marcinho VC, nega as acusações. "Em nenhum momento foi demonstrado pelas provas anexas nos autos que ele era o destinatário ou emitente dos bilhetes", disse.

A defesa de Fabiano Atanásio da Silva, o FB, e de outros integrantes da cúpula do CV apontados como integrantes do esquema pela PF, não se manifestou alegando não ter tido acesso ao inquérito. A reportagem não localizou a defesa do agente penal Docimar Pinheiro.