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Idoso morto a pauladas por suposto abuso é inocentado no ES

Investigações em delegacias da cidade de Serra inocentaram idoso - Reprodução/Polícia Civil do ES
Investigações em delegacias da cidade de Serra inocentaram idoso Imagem: Reprodução/Polícia Civil do ES

Do UOL, em São Paulo

19/07/2021 19h08Atualizada em 19/07/2021 19h08

A Polícia Civil do Espírito Santo anunciou hoje que Antônio Batista da Fonseca, de 74 anos, foi inocentado das acusações de abuso sexual contra duas crianças, de 4 e 9 anos. O idoso foi morto a pauladas em 30 de maio deste ano em Serra, município capixaba.

Segundo o delegado Rodrigo Sandi Mori, da Divisão de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), o crime foi motivado por vingança depois das denúncias do suposto estupro. Entre os presos pelo homicídio, que já são réus, está o pai das meninas. A história teria sido inventada pela mãe das menores, que teve um relacionamento amoroso de cerca de 20 dias com o idoso.

Em ação penal que corre na 3ª Vara Criminal do Júri de Serra, quatro pessoas foram indiciadas por homicídio qualificado, por motivo torpe, meio cruel e sem possibilidade de defesa da vítima, com aumento de pena previsto pelo homem ter mais de 60 anos.

Três delas foram presas 16 dias após o crime: André Luís Alves Ferreira de Souza, de 29 anos, pai das crianças; Márcia dos Santos, de 31 anos, amiga de André, e Patrick Joe Cabrini Alvarenga, de 33 anos, que segundo o delegado não tem ligação anterior com os envolvidos e era conhecido da polícia por seu envolvimento com o tráfico.

Em 21 de junho, um quarto acusado se apresentou na delegacia, na companhia da advogada: Jocimar Lima Ferreira, de 35 anos, marido de Márcia e também amigo de André.

Segundo Sandi Mori, André já havia pedido a Jocimar e Márcia que o avisassem caso vissem Antônio andando no bairro de Central Carapina, onde aconteceu o crime. Os dois estavam em um bar quando avistaram a vítima.

Jocimar segurou o idoso enquanto a mulher tirou uma foto e enviou para o pai das meninas, com o objetivo de confirmar a identidade do idoso. Com a resposta positiva de André, os dois seguraram a vítima no local até a chegada do amigo.

O delegado contou que vídeos feitos no local mostraram a acusada incitando a população contra o idoso, angariando uma multidão de cerca de 50 pessoas ao redor de Antônio.

Uma sobrinha do homem ainda tentou resgatá-lo e levá-lo para casa, mas no meio do caminho os dois foram alcançados por André e Patrick, que desferiram pauladas na cabeça da vítima, até sua morte.

"Foi uma investigação muito complexa, foge do nosso dia a dia. Tivemos que ter um cuidado e uma cautela muito grandes com esse homicídio. Até porque, no final da investigação, ficou confirmado com 100% de certeza que o Antônio não abusou sexualmente das duas crianças, ele morreu sem dever absolutamente nada", destacou Sandi Mori em coletiva na manhã de hoje.

Briga foi motivada por celular

O delegado detalhou que no dia 13 de março foi registrado um boletim de ocorrência na DPJ de Laranjeiras feito pela mãe das duas meninas e por André, ex-marido da mulher e pai das crianças. Os dois acusavam Antônio de estupro de vulnerável.

Mas após a prisão dos 3 primeiros suspeitos, quando foi convocada para prestar depoimento à Polícia Civil, a mulher "mentiu do começo ao fim", segundo Sandi Mori, negando inclusive o relacionamento amoroso com o idoso, confirmado por diversas testemunhas.

O depoimento foi confrontado com os laudos de exames de conjunção carnal das duas crianças, que tiveram resultado negativo para abuso, e com os relatórios do atendimento psicossocial das duas crianças na Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente, em que uma psicóloga e uma assistente social descartaram o estupro.

Questionada pelos investigadores, a DPJ confirmou que o inquérito contra Antônio por estupro de vulnerável não havia sido instaurado e que ele não foi indiciado pelo crime. Provas testemunhais também contradisseram a versão da mãe das meninas, que acabou confessando ter mentido.

Segundo o delegado, a mulher de 27 anos pediu para as filhas de 4 e 9 anos contarem para o pai histórias inventadas sobre o suposto abuso, se aproveitando inclusive de machucados causados por outras situações para plantar a acusação contra o idoso.

"Ela não irá responder por homicídio por não ter participado diretamente, mas vai responder por denúncia caluniosa, com pena que vai de 2 a 8 anos de reclusão", explicou Sandi Mori.

Ainda segundo a autoridade, durante o breve relacionamento, Antônio ajudava a mulher financeiramente e nunca ficava sozinho com as crianças.

A situação entre ele e então namorada mudou após uma briga, em que a vítima pediu que ela devolvesse um celular que havia ganhado de presente. Então, de acordo com o delegado, ela pediu às filhas que mentissem.

Sandi Mori destacou ainda que o suposto crime jamais deveria ser punido com outro crime.

"É importante ressaltar que fazer justiça com as próprias mãos constitui crime, pois cabe ao estado e não às pessoas o poder e o dever de punir. Além disso, tomar decisões precipitadas pode gerar consequências graves, como aconteceu neste caso, em que um senhor de 74 anos foi morto de maneira covarde e brutal sem dever absolutamente nada", destacou.