SP: Ingresso de festa clandestina custava R$ 2 mil e camarote, R$ 18 mil
Ingresso a R$ 2 mil e um lugar no camarote por até R$ 18 mil. Esses eram os preços para uma festa clandestina na zona sul de São Paulo no último sábado (17), segundo a Força-Tarefa criada pela prefeitura e pelo governo estadual para impedir aglomerações durante a pandemia de covid-19.
A balada de luxo acabou antes da hora, depois que a equipe de fiscalização mandou todo mundo para casa. Foi nessa mesma festa —chamada "Bryan" —que uma médica foi flagrada insultando um cinegrafista da Record. Segundo ela, "[profissão de] câmera para mim não vale nada".
O poder aquisitivo das cerca de 1.500 pessoas que foram à festa surpreendeu os fiscais. No estacionamento, havia carros como BMW, Mercedes Benz, Maserati e Porsche. Para entrar, os homens desembolsavam R$ 2 mil; as mulheres, R$ 1,3 mil.
Nos bares, garrafas de vodca eram encontradas a R$ 780 e, de uísque, a R$ 840, servidas também nos camarotes a quem tivesse disposto a pagar entre R$ 12 mil e R$ 18 mil o lugar.
O plano era que a festa fosse até o meio-dia, mas acabou à 1h30, quando a Força-Tarefa chegou e se deparou com 200 pessoas ainda esperando para entrar na balada.
"Essa festa é conhecida, acontece uma vez por mês", contou ao UOL o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP), um dos coordenadores de uma Força-Tarefa. "Monitorávamos desde quarta-feira."
O flagrante
A festa aconteceu em um galpão desativado perto da avenida João Dias, em Santo Amaro. Assim que os fiscais apareceram, segundo o deputado, o segurança tentou fechar a porta, "mas não deu tempo". Primeiro, a Força-Tarefa dispersou os ocupantes da fila, depois entrou no prédio.
"Fomos ao sistema de som e o cara estava falando bem na hora: 'a noite tá só começando'. A gente desligou o som e acendeu a luz de emergência. Aí começaram os comentários e pessoas tentando fugir", disse Frota.
Em seguida, todas as portas de saída foram abertas para a dispersão, que ocorreu por meio de duas filas, uma de homens e outra de mulheres. "Tinha tanta gente que demorou 25 minutos para evacuar", estimou o deputado. "Só deixamos os funcionários."
Eles se acham acima da lei. Dizem que a gente não sabe com quem está falando, diz que o pai é delegado, dá carteirada mesmo."
Alexandre Frota, deputado federal (PSDB-SP)
Segundo o parlamentar, enquanto os participantes voltaram para casa, os organizadores foram autuados. "Levamos para a delegacia o DJ, os promoters, os donos da festa, gerentes, o chefe da segurança e duas testemunhas", enumera. "Apreendemos máquinas de cartão e equipamentos [de discotecagem]."
Procurada, a Secretaria Estadual da Segurança Pública não deu informações sobre a operação até a publicação desta reportagem.
Sem alvará, extintores e nota fiscal
Frota diz que o galpão não tinha alvará, extintores, ou saída de emergência: "Um caos".
"Todo mundo compartilhando copo, garrafa, fumando. Os banheiros estavam imundos", afirma. "Quem fazia os atendimento em bar não era capacitado profissionalmente, as bebidas não tinham nota fiscal e havia exploração ilegal do estacionamento."
O deputado nega a acusação de uma socialite, que recentemente o acusou de só acabar com festa de rico: "Vai pra favela", disse.
"Eu fui a Paraisópolis e fechei a festa Paraíso da Lage. Entrei em Heliópolis e fechei a Helipa Loung. Para a Força-Tarefa, é indiferente a classe social ou religião", diz Frota, que admite dificuldade maior para lacrar as festas com endinheirados. "Pra gente é muito mais fácil fazer intervenção numa periferia do que numa festa como essa no Morumbi ou Vila Olímpia."
Ao todo, 68 homens e mulheres formam a Força-Tarefa, que conta com outros coordenadores, incluindo integrantes do Procon-SP, da Vigilância Sanitária estadual e da municipal, do Corpo de Bombeiros, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em São Paulo, da Polícia Civil e do Garra, da PM, da Guarda Municipal, do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania, além de profissionais da perícia, fiscais, delegados e seccionais.
De acordo com o deputado, nos cinco meses de atuação da Força-Tarefa, a equipe descobriu "uma rede de prostituição, máfia das casas noturnas, políticos envolvidos com casas noturnas, vereadores que fatiaram a cidade e um mecanismo de propina e corrupção". As denúncias foram protocoladas no Ministério Público.
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