Antes de voltar para o crime, Hello Kitty dizia que arma dela era Bíblia
Os últimos anos de Rayane Nazareth Cardozo da Silveira, 21, conhecida como Hello Kitty, foram marcados por idas e vindas entre o mundo do crime e cultos evangélicos. Pouco antes de morrer em ação policial na última sexta-feira (16), ela cogitou voltar a frequentar a igreja enquanto chefiava o tráfico de drogas da favela Nova Grécia em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio.
Em 2016, após já ter tido envolvimento com o tráfico, ela postou em uma rede social uma fotografia em que segurava uma Bíblia e um texto em que indicava ter abandonado o crime. "Antes andava de pistolas e fuzil, mas agora a minha arma é minha bíblia", escreveu. Esta foi a primeira tentativa de Rayane para deixar o tráfico, porém não durou muito.
Em 2018, Hello Kitty foi alvo do primeiro mandado de prisão por roubo. O envolvimento com um rapaz ligado ao tráfico foi o gatilho para a reaproximação. Desde então, ela ascendeu na hierarquia do crime e passou a ser chamada de "Dama do Comando Vermelho" —a maior facção criminosa do Rio.
Porém, uma amiga de Rayane —que terá a identidade preservada— diz que Hello Kitty fazia recentemente planos para voltar a frequentar a igreja. A informação foi publicada pelo portal G1 e confirmada pelo UOL.
"Ela queria voltar", disse a mulher à reportagem do UOL. Em troca de mensagem entre as duas, a amiga diz que "Deus escreve novamente uma história para ser lida com sucesso. Pra gente ir na igreja". Hello Kitty enviou uma foto aparentemente chorando e respondeu "sim".
Após voltar para o mundo do crime, Rayane deixou de usar o perfil onde publicava suas idas a cultos e textos religiosos. Ela passou a usar outro perfil em que se definia como "foragida e procurada pela Justiça" e usou um palavrão para se referir a polícia.
Agentes encontraram neste perfil fotos de Hello Kitty ostentando armas de grosso calibre, como fuzil. Uma das páginas que Rayane seguia era a do Portal dos Procurados, que divulgou um cartaz com o rosto dela oferecendo recompensa de R$ 1.000 por quem desse pistas sobre seu paradeiro.
Em 2018, ela chegou a ser presa por suspeita de envolvimento com o tráfico, mas foi solta para responder em liberdade. Desde então, Hello Kitty acumulou sete processos criminais no Tribunal de Justiça do Rio por tráfico e roubo majorado —por ter sido empregada violência e arma de fogo. Rayane foi condenada por roubo em ao menos duas dessas ações e tinha seis mandados de prisão preventiva em aberto.
Enterro com queima de fogos
Após a morte de Hello Kitty, a amiga postou um vídeo de Rayane dançando e escreveu: "Quero lembrar de você sorrindo, brincando. Ai meu amor você está fazendo tanta falta".
Uma ex-namorada de Rayane, a DJ Isa, também lamentou a morte nas redes sociais.
"Não existem distâncias quando alguém significa tudo para você. Você se foi, mas ainda te sinto comigo em todos os lugares que eu vou. Te carrego do lado esquerdo do peito e sorrio sozinha sempre que penso em você. A tristeza que eu sinto não será maior que a alegria de ter vivido uma parte dessa vida com você! Te amarei eternamente", disse a DJ Isa.
Durante o enterro, houve queima de fogos em homenagem a Rayane. O sepultamento aconteceu no Memorial Parque Nictheroy, em São Gonçalo. Amigos usaram camisetas com o nome Rayane. Ela deixou um filho pequeno.
Procurada pelo UOL, a Polícia Civil informou que Rayane era monitorada pelo setor de inteligência e que os agentes tinham conhecimento de que Hello Kitty estava no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no dia da ação da Polícia Militar.
A operação deixou ao todo quatro mortos. Foram apreendidas diversas armas, entre elas, uma estilizada cor-de-rosa. Questionada, a PM disse que somente uma avaliação pericial poderá confirmar se a arma pertencia a Rayane.
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