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Encalhe de baleias jubarte quebra recorde anual no país (e ainda é agosto)

O ano de 2021 desbancou o triste recorde de baleias encalhadas que pertencia a 2017, com 122 ocorrências - Projeto Baleia Jubarte/cortesia
O ano de 2021 desbancou o triste recorde de baleias encalhadas que pertencia a 2017, com 122 ocorrências Imagem: Projeto Baleia Jubarte/cortesia

Giorgio Guedin

Colaboração para o UOL, em Blumenau (SC)

13/08/2021 16h51

Não é raro ver espécies de baleia no litoral brasileiro. As mais comuns são a jubarte e a franca. Nos últimos meses, porém, a sensação é que elas estão mais presentes no nosso mar e mais próximas aos humanos, por conta das notícias de encalhes e aparições ao lado banhistas e praticantes de esportes náuticos. Mas essa proximidade esconde um perigo que as estatísticas revelam: o país acaba de bater o recorde histórico de baleias jubarte encalhadas, ainda no mês de agosto.

O caso mais recente foi o do animal encontrado em Santos (SP). Segundo o Projeto Baleia Jubarte, que estuda o maior mamífero a transitar no litoral brasileiro, bem como documenta os encalhes registrados, até hoje, 123 espécimes encalharam na costa nacional neste ano. O número mais alto, até então, tinha sido em 2017, quando todo o ano somou 122 ocorrências do tipo.

Em 2021, Santa Catarina concentra 41 encalhes, seguido de São Paulo (35), Espirito Santo e Rio de Janeiro, com 12 cada um. Apenas em agosto, foram 24 até o dia 12, uma média de dois por dia.

encalhe de baleias jubarte no Brasil - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Para além dos números

Para entender o porquê destes encalhes, é necessário compreender o ciclo de reprodução das jubarte. Elas vêm até o litoral brasileiro, especialmente na região sul da Bahia e norte do Espirito Santo, no Banco dos Abrolhos, para acasalar, parir os filhotes até se desenvolverem e fazer a migração de volta a região da Antártica, no fim de outubro. A gestação de uma jubarte dura em torno de 11 meses - ou seja, em uma temporada brasileira ocorre o acasalamento e na seguinte, ocorre a gestação.

Além disso, essa é uma espécie que saiu da lista de extinção. Como há mais espécimes vivas (presume-se em cerca de 20 mil), mais mortes acontecem, por fatores naturais ou também por ações humanas.

Os pesquisadores acreditam ainda que 2021 foi um ano ruim da criação de krill, pequeno crustáceo que serve de alimento às baleias, localizado na região da Antártica. "As baleias que já têm maturidade para realizar a reprodução, a partir dos seis anos de idade, conseguem chegar até a Bahia fazendo o ciclo normalmente. Os mais jovens, com até quatro ou cinco anos de vida, estão com sinais que estão chegando mais magros até nós", afirmou ao UOL, o coordenador de pesquisa do Projeto Baleia Jubarte, Milton Marcondes.

Ou seja, a principal hipótese é que as mais jovens não têm energia suficiente para chegar até ao Banco dos Abrolhos e "estacionam" no litoral mais ao sul em busca de comida, onde há maior concentração de cardumes. E como eles estão mais próximos da costa, onde geralmente ficam as redes e embarcações, o risco de um encontro com as jubarte em busca de alimentação é iminente, o que pode gerar acidentes e também o encalhes.

A legislação brasileira, por meio da Portaria 117 do Ibama, prevê que nenhuma embarcação pode ficar a menos de 100 metros de uma baleia. E a distância para quem mergulha ou nada diminui para 50 metros, como forma de proteção ao cetáceo e também ao ser humano.

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Maior parte dos registros de encalhe de jubartes se deu em Santa Catarina e São Paulo
Imagem: Projeto Baleia Jubarte/cortesia

Francas estão aparecendo mais em 2021

Ao contrário da jubarte, a baleia-franca tem o comportamento mais costeiro e, por isso, o número de encalhes é menor. "A espécie se adaptou a ambientes bastante rasos. Tem lugares, aqui em Santa Catarina, que elas não costumam vir e a população acha que elas estão encalhadas, pois estão bem pertinho da praia. Mas isso é normal", comentou Karina Groch, diretora de pesquisa do Projeto Franca Austral / Instituto Australis.

Até o início de julho, foram avistadas 42 baleias franca, número igual ao que foi registrado em 2020, no litoral catarinense, geralmente na faixa do sul de Florianópolis até Balneário Rincão. Até o momento, apenas duas, filhotes, encalharam, o que está dentro da média, de acordo com os pesquisadores. Por conta do estado de decomposição de ambas, não foi possível determinar a causa da morte.

Em 2021, as primeiras baleias francas chegaram a Santa Catarina em junho, um mês antes do que é registrado. "Ainda não chegamos no pico de visitação delas, que é em setembro. Ou seja, vamos ter uma temporada com mais baleias no nosso litoral", afirmou Karina. A média, contudo, nos últimos 10 anos é de 100 baleias por temporada.

Em relação às jubarte, Milton afirma que não é possível ter uma estimativa de população em 2021. "Nós vamos fazer isso ano que vem. Como elas estão espalhadas pelo nosso litoral, fica difícil avaliar. Aqui na Bahia, eu estava no mar e achei que tem menos, mas em Santa Catarina tem bem mais que o normal", presumiu.