Por que Cabo Frio ficou conhecida como Novo Egito
Empresas de investimento estão na mira das polícias Civil e Federal no Rio de Janeiro no município de Cabo Frio, na Região dos Lagos.
A cidade se tornou foco de investigadores após dez empresas serem alvo de denúncias por terem gerado prejuízos aos clientes a partir do esquema de pirâmide financeira. Como consequência, Cabo Frio ganhou o apelido de Novo Egito.
A fama ficou mais evidente após a polícia começar a investigar não só os prejuízos causados pelas empresas, mas também atentados em junho e agosto.
No dia 4 de agosto, Wesley Pessano, 19, foi morto a tiros dentro de um carro modelo Porsche em São Pedro da Aldeia, cidade vizinha a Cabo Frio.
Wesley investia em criptomoedas e tinha se mudado havia um ano para Cabo Frio. Ele seguia para um salão de beleza quando foi vítima do ataque. Um amigo, que estava no banco do carona, também foi baleado, mas já recebeu alta médica.
A principal linha da Polícia Civil é de que o crime tenha relação com a disputa por clientes entre as empresas de investimento. Wesley era o principal negociador da Ares Consultoria, que possui sede em Cabo Frio e é uma das investigadas pela polícia.
Pelas redes sociais Wesley Pessano ostentava carros de luxo e grande quantia de dinheiro.
Segundo a polícia, muitas das vítimas têm baixa renda e procuravam as empresas para conseguir dinheiro e realizar compras como carro e casa.
Muitas vezes com pouco conhecimento, elas então arriscavam no esquema de pirâmide —que precisa a todo momento ter aplicadores novos ou a empresa não terá como cobrir os retornos prometidos.
A prática é crime contra a economia popular com penas que variam de seis meses a dois anos de detenção.
O faraó dos bitcoins em Cabo Frio
Ainda em Cabo Frio, outra empresa que é um dos principais alvos dos agentes é a G.A.S Consultoria Bitcoin. No dia 25 de agosto, a Polícia Federal prendeu Glaidson Acácio dos Santos, que ficou conhecido como o "faraó dos bitcoins". Foragida, a esposa dele, a venezuelana Mirelis Zerpa, é procurada pela Interpol.
A PF informou que ela é suspeita de chefiar junto com o marido um esquema de "pirâmide financeira" em Cabo Frio. A operação teve o objetivo de desarticular uma organização que fraudava valores bilionários envolvendo criptomoedas.
Nos últimos seis anos, a movimentação financeira de quatro empresas de Glaidson apresentou cifras bilionárias —cerca de 50% dessa movimentação ocorreu nos últimos 12 meses, segundo a PF.
A G.A.S Consultoria prometia lucros de 10% ao mês nos investimentos em bitcoins.
Somente nesta ação foram apreendidos 591 bitcoins, ou seja, cerca de R$ 150 milhões. Valores em espécie (R$ 13,8 milhões) foram encontrados em malas na casa de Glaidson na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
De acordo com as investigações, até 2014, Glaidson era garçom e recebia pouco mais de R$ 800. Sete anos depois, ele se tornou milionário.
Dono de empresa é alvo de ataque
Outra empresa com sede em Cabo Frio é a Black Warrior. Segundo os agentes, os prejuízos provocados foram milionários. A empresa fechou as portas e os investidores ficaram com as mãos vazias.
Em junho, o dono da BW foi alvo de um ataque a tiros em Cabo Frio. O carro dele era blindado e, por isso, ele não se feriu.
Ainda em Cabo Frio o Grupo X6 também é alvo da polícia. O dono, Ricardo Oliveira, conhecido como Rick, foi preso no mês passado em Niterói, na região metropolitana do Rio, onde também existe uma sede.
Nas redes sociais, ele se intitula como "empresário, palestrante e consultor financeiro". Segundo a Polícia Civil, Oliveira prometia aos investidores um rendimento de 15% ao mês.
A reportagem do UOL entrou em contato com a defesa de Glaidson dos Santos, mas não obteve retorno. As defesas de Ricardo Oliveira e da empresa Black Warrior não foram localizadas.
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