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De aspirante a pastor a milionário: Quem é o faraó dos bitcoins alvo da PF

Glaidson dos Santos é suspeito de operar esquema milionário de pirâmide financeira - Reprodução / TV Globo
Glaidson dos Santos é suspeito de operar esquema milionário de pirâmide financeira Imagem: Reprodução / TV Globo

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

01/09/2021 04h00

Preso em operação da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Glaidson Acácio dos Santos, 38, conhecido como "faraó dos bitcoins", mantinha uma vida simples até abrir sua primeira empresa em 2015, em Cabo Frio, cidade da Região dos Lagos do estado.

Em 2003, ele ingressou no treinamento pastoral da Igreja Universal do Reino de Deus, mas acabou afastado pouco tempo depois "por não atender aos padrões do ministério". Mais tarde, em 2014, trabalhou como garçom em um dos badalados restaurantes da orla Bardot, em Búzios. À época, o salário dele era de R$ 800.

Apenas seis anos foram suficientes para que Glaidson se tornasse dono de ao menos quatro empresas que, juntas, somam R$ 136 milhões em capital social.

Na última quarta-feira (25), Glaidson foi preso por suspeita de operar um milionário esquema de pirâmide financeira.

Segundo as investigações, ele prometia lucros de até 10% ao mês nos investimentos em criptomoedas, mas a empresa não investia em bitcoins —os lucros eram pagos a clientes através da entrada de capital de outras pessoas atraídas pela proposta de investimento.

Segundo a PF, a suspeita é de que Glaidson tenha movimentado cifras bilionárias nos últimos seis anos. A maior movimentação aconteceu nos últimos 12 meses.

Das quatro empresas no nome de Glaidson, duas estão cadastradas em Cabo Frio —que ficou conhecida como Novo Egito devido à forte presença do esquema de pirâmides na região.

A G.A.S Consultoria & Tecnologia LTDA foi aberta em 2015 e tem capital social estimado em R$ 75 milhões, de acordo a Receita Federal. Outra, também em Cabo Frio, tem capital social de R$ 60 milhões e foi aberta em 2019. Outras duas possuem o endereço de Barueri, na Grande São Paulo.

Vida de luxo discreta

Glaidson tinha como sócia a mulher, a venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, que é considerada foragida. Os dois mantinham uma casa de luxo em Cabo Frio, avaliada em R$ 9 milhões.

O faraó das criptomoedas foi preso em outro imóvel de alto padrão, na Barra da Tijuca, na zona oeste da capital fluminense.

No local, foram encontrados carros de luxo, como BMW e Porshe, além de 13,8 milhões em espécie e R$ 150 milhões em bitcoins, conforme a cotação daquele dia. No imóvel, a PF ainda apreendeu joias, relógios de alto valor e charutos cubanos.

Avesso a redes sociais, Glaidson mantinha uma vida de luxo discreta com passeios em iates.

Em fevereiro, o ex-garçom contratou o show do cantor João Gabriel para sua festa de aniversário, em Angra dos Reis, na região da Costa Verde do Rio.

Repasses milionários à Universal

Citada em uma lista de empresas que receberam valores volumosos das GAS Consultoria, a Igreja Universal do Reino de Deus entrou com uma ação de antecipação de provas no Tribunal de Justiça do Rio após a operação que prendeu Glaidson.

O objetivo da Universal é evitar que seu nome fosse relacionado ao esquema de pirâmide financeira cujo suspeito realizou doações, segundo o jornal O Globo, de R$ 72,3 milhões por meio de suas empresas.

O UOL apurou que o processo foi distribuído e encaminhado à Vara Cível de Cabo Frio dois dias após a PF e o MPF (Ministério Público Federal) deflagrarem a Operação Kryptos.

De acordo ainda com o jornal O Globo, a partir de maio de 2020, a Universal verificou um expressivo aumento no volume de doações recebidas por meio de transferências bancárias realizadas por Glaidson e pela GAS.

Procurada pela reportagem, a Universal informou que há alguns meses recebeu informações de que o ex-garçom estaria "assediando e recrutando fiéis e integrantes do corpo eclesiástico para participar de sua empresa, que demonstrava sinais que caracterizavam algum envolvimento com pirâmide financeira".

A igreja disse ter apresentado a notícia-crime à Justiça sobre o caso antes da operação que prendeu Glaidson. "Mais recentemente, foi aberto um processo judicial cível solicitando que Glaidson confirme à Igreja que os dízimos e doações que ofereceu como frequentador têm origem lícita", disse a Universal através de nota.

"Ou seja, muito antes da operação policial da última semana que resultou na prisão de Glaidson, a Universal já vinha alertando e cooperando com as autoridades para as devidas investigações."

A reportagem procurou a defesa de Glaidson sobre as suspeitas, mas ainda não obteve retorno.