Paraguaio mantido acorrentado pelo pescoço em sequestro é libertado em SP
Um homem paraguaio, de 42 anos, foi encontrado por policiais na tarde de ontem em um cativeiro na cidade de Miracatu, no Vale do Ribeira, em São Paulo. Vítima de sequestro, ele era mantido aprisionado pelo pescoço, com correntes presas a uma viga de madeira no teto.
A residência onde o homem foi localizado fica na Estrada do Engenho, em uma área afastada na zona rural da cidade. Segundo depoimento gravado em vídeo pelos próprios policiais, os sequestradores criminosos exigiam da família cerca de US$ 300 mil (R$ 1,57 milhão) pelo resgate.
A operação, deflagrada graças a uma denúncia anônima, mobilizou policiais das delegacias de Miracatu, Registro e Juquiá. Ao chegarem ao local, um dos suspeitos notou a presença dos policiais e fugiu pela mata. No imóvel, a polícia apreendeu uma pistola calibre 380 com 13 munições intactas, um aparelho celular, duas correntes de aço, dois facões e um machado.
A vítima foi encontrada em um quarto, acorrentada pelo pescoço, e relatou que havia sido sequestrada na cidade de Praia Grande. Segundo informou, havia, no mínimo, três pessoas no local do cativeiro, onde ele passou 8 dias sob poder dos sequestradores. Nesse período, ele foi alimentado poucas vezes e sentia-se fraco quando os policiais chegaram.
"Nesses 8 dias, se eu comi duas vezes foi muito", declarou a vítima, informando que os sequestradores demonstravam estar com medo antes da polícia chegar. "Eles iam me matar".
Ele disse também que os criminosos exigiram pagamento de recompensa no valor de US$ 300 mil aos seus familiares, no Paraguai. Durante as negociações, os criminosos concordaram em receber US$ 100 mil (R$ 527 mil), a serem pagos até a manhã de ontem.
Os sequestradores localizaram a família do homem pelo Facebook. Entraram em seu perfil e buscaram irmãos e parentes, na intenção de negociar o resgate. Para obter informações, os criminosos ainda torturaram a vítima.
"Eles me batiam com a mão, davam chutes. Eles diziam: 'a gente é profissional, não é a primeira vez que a gente faz isso'."
As longas correntes presas ao pescoço por um cadeado permitiam que ele usasse o banheiro e tomasse banho sem ser solto. Mas a vítima relata que, toda vez que pedia para ir até o outro cômodo, era obrigada a cobrir o rosto e os olhos com uma camiseta. O homem que o conduzia também usava uma camiseta para cobrir o rosto.
"Eu consegui ver um dia que ele tinha uma tatuagem no braço. Quando ele percebeu que eu estava olhando, me deu um tapa na cara", disse o paraguaio.
Cativeiro escondia outras vítimas
O homem revelou que não era a única vítima a ser mantida no cativeiro. "Quando eu cheguei, tinha mais duas pessoas aqui, sequestradas. Eles ficavam aqui no quarto do lado. Dois dias depois, eles foram embora. Todos estrangeiros. Um deles era uruguaio".
A vítima não soube dizer, porém, se entre os sequestradores havia algum estrangeiro. Ele afirma que o homem que cuidava dele era brasileiro. Mas os bandidos já estariam buscando novas vítimas, "de sotaque diferente".
"Pelo que eu ouvi, os caras são do PCC. Eu ouvi eles falando que tráfico já não dava mais dinheiro e que sequestro era um negócio que estava dando muito dinheiro. Que em uma semana, eles iriam pegar mais de US$ 500 mil (R$ 2,62 milhões)".
A vítima contou que recebia as refeições junto com uma colher de alumínio. E que tentou, por várias vezes, usá-la para arrebentar o cadeado. "Eu falei: 'melhor morrer na tentativa do que morrer desse jeito. Eu rezei muito".
Os policiais conseguiram quebrar a corrente com o auxílio de um alicate do tipo corta-vergalhão. Sem conseguir caminhar direito, o homem teve que ser ajudado a deixar o local.
A Polícia Civil informou que todo o local foi periciado. E que novas diligências serão realizadas para identificação e prisão dos envolvidos. Informações que auxiliem as investigações podem ser fornecidas, de forma anônima, através do telefone 181 (Disque Denúncia).
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