Guarda quebra cassetete ao agredir trans na cracolândia, em SP
A artista Laurah Cruz, 33, que é transexual, foi agredida hoje por um guarda municipal da Prefeitura de São Paulo na região da cracolândia, zona central da capital paulista. Nas imagens, o guarda bate com tamanha força nela que o cassetete se quebra em pedaços.
Ao UOL, Cruz contou que tinha ido buscar doações de roupas e calçados para o coletivo Tem Sentimento, que ajuda a gerar renda para pessoas na cracolândia. Na volta, foi abordada por dois guardas. No começo, obedeceu às orientações.
"Até que pediram para tirar tudo da minha sacola. Eu virei a sacola no chão e ele [um guarda] pisou em cima, começou a debater comigo, falando que eu devia aceitar o jeito como ele veio me abordar, de forma agressiva", relatou a artista, acrescentando ter levado três jatos de spray de pimenta no rosto.
Sabendo dos meus direitos, não fiquei calada. Chamei a atenção, chutei um cone e foi aí que ele veio atrás de mim. Eu ainda paro, calma, digo que ele está abusando e ele me dá uma cacetada que quebra em três o cassetete."
Laurah Cruz, artista
Ela disse ainda que um dos guardas levantou sua saia para revistá-la. "Fizeram eu levantar a saia, com meu corpo e minhas partes íntimas ali à mostra, com a mão para trás e eles me segurando. Depois eu pedi para abaixar meu vestido", afirma.
A revista, principalmente íntima, deve ser feita por um policial do mesmo gênero. Em 2020, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) considerou que guardas civis não devem fazer revista, por estar fora de suas atribuições fazer investigação policial.
Segundo ela, a atitude dos agentes mudou quando descobriram que ela havia sido presa, anos atrás. "Eu me arrependo da minha vida passada, hoje sou uma mulher trans artista. Também me ameaçaram dizendo que, se eu levasse os vídeos para a Corregedoria, não daria em nada, que só me prejudicaria mais por já ter sido presa", disse.
A artista contou que trabalha há cinco anos no coletivo Tem Sentimento. O projeto visa estimular a prática artística de mulheres trans e cis da região, através de uma oficina de moda que hoje se encontra no Teatro de Conteiner, para que saiam de situação de vulnerabilidade.
Gravadas por uma testemunha que passava pelo local, as imagens foram divulgadas pelo coletivo A Craco Resiste, que criticou a agressão.
"A gente reitera que esse é só um exemplo que foi filmado da atuação cotidiana da GCM na cracolândia. São humilhações e agressões de todo o tipo todos os dias. Não consideramos que seja um erro individual ou uma omissão da prefeitura, pelo padrão de repetição, apesar das inúmeras provas e denúncias. Essa violência é uma política pública para expulsar as pessoas pobres da região", afirmou Daniel Mello, um dos militantes do coletivo.
O UOL procurou a Secretaria Municipal de Segurança Urbana, responsável pela Guarda Civil Metropolitana, para comentar o caso. Em nota, disse que "o Comando Geral da Guarda Civil Metropolitana está apurando os fatos e procederá com as medidas disciplinares condizentes".
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