Arcebispo de Aparecida: 'Para ser pátria amada não pode ser pátria armada'
O arcebispo de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, afirmou hoje que o Brasil, "para ser pátria amada não pode ser pátria armada", durante uma missa para celebrar o dia de Nossa Senhora Aparecida.
Para ser pátria amada seja uma pátria sem ódio. Para ser pátria amada, uma república sem mentira e sem fake news. Pátria amada sem corrupção. E pátria amada com fraternidade. Todos os irmãos construindo a grande família brasileira Dom Orlando Brandes
A fala do religioso foi aplaudida pelos presentes.
"Pátria amada" é o slogan do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Dom Orlando não citou o nome do mandatário, mas facilitar o acesso às armas e munições é uma bandeira de Bolsonaro desde a época em que ele era deputado federal.
No mês passado, o presidente voltou a reforçar, em conversa com apoiadores, o seu discurso armamentista e afirmou saber que um fuzil custa caro, mas pediu a quem não quer comprar a arma que não "encha o saco" daqueles que desejam.
Também em agosto, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes incluiu o presidente na investigação para apurar a disseminação de notícias falsas.
Os ministros da Cidadania, João Roma, e da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, acompanharam a missa. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e o secretário estadual de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, também estiveram no Santuário. Bolsonaro passa o feriado no Guarujá, litoral paulista.
'Brasil enlutado' e 'vacina sim'
Durante sua fala, Dom Orlando também pediu que o povo "abrace o Brasil enlutado" pelas mais de 600 mil mortes pela covid-19. Segundo levantamento do consórcio de imprensa do qual o UOL faz parte, o país registrou ontem 219 novas mortes em decorrência da doença e com isso acumula 601.266 óbitos desde o início da pandemia.
No sermão, o religioso também defendeu a vacina e a ciência. "Mãe Aparecida, muito obrigado porque na pandemia a senhora foi consoladora, conselheira, mestra, companheira e guia do povo brasileiro que hoje te agradece de coração porque vacina sim, ciência sim, e Nossa Senhora Aparecida juntos salvando o povo brasileiro."
Ontem, Bolsonaro pediu para não ser "aborrecido" ao ser questionado sobre a marca de 600 mil mortes por covid-19 no Brasil, atingida na última sexta-feira (8).
Quero pedir que cada um de nós abrace o Brasil. Abrace o nosso povo. A começar pelo povo mais original. Vamos abraçar os nossos índios, primeiro povo dessa terra de Santa Cruz. Vamos abraçar os negros, que logo vieram fazer parte desta terra. Vamos abraçar os europeus que aqui chegaram (...) Vamos abraçar nossas crianças, porque hoje é o dia da criança, vamos abraçar nossos pobres e abracemos também nossas autoridades para que juntos construamos um Brasil pátria amada Dom Orlando Brandes
Fome
Dom Orlando também falou sobre a fome, lembrando o caso de brasileiros que buscam restos de carne em ossos para se alimentar e pediu união, diálogo, empatia e democracia.
"Vamos todos ser aliados do bem em comum. Que nenhum brasileiro e brasileira possa catar no lixo ossos para sobreviver. Aliados na verdade que liberta, na justiça social, que tanto agrada à mãe que rezou 'os famintos serão saciados e os pequeninos serão elevados'".
Histórico de críticas
No ano passado, o arcebispo de Aparecida condenou as queimadas que devastam a Amazônia e, principalmente, o Pantanal. Ele pediu à Nossa Senhora que não deixasse o Brasil se perder em chamas e atribuiu a responsabilidade pelo desmatamento à ação humana.
Em 2019, Brandes falou em "dragão do tradicionalismo" e disse que a direita é "violenta" e "injusta".
Missas presenciais
Pela primeira vez desde o início da pandemia, os devotos puderam ir às missas de celebração a padroeira do Brasil, no Santuário Nacional, em Aparecida (SP). No ano passado, o acesso foi restrito a funcionários do local.
Os fiéis têm que respeitar os protocolos sanitários contra a covid-19. O uso de máscara é obrigatório tanto na Basílica quanto na área externa, assim como distanciamento social.
Este ano, as missas acontecem com capacidade reduzida: 2,5 mil pessoas — a Basílica acomoda 35 mil — e a capacidade por banco é limitada a três pessoas.
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