Advogado preso pela Lava Jato vira alvo de suspeitas sobre morte da esposa
O advogado Nilton Serson, preso em 2019 pela Operação Lavo Jato, virou alvo de suspeitas dos próprios filhos após a divulgação de documentos obtidos pela Polícia Federal. Eles acreditam que o pai possa ter participação na morte da ex-esposa, Karin Serson, e que, entre os motivos, estaria o desejo de se apropriar de bens da herança de família dela. Ele nega as acusações e diz estar sendo vítima de tentativa de extorsão dos próprios filhos. Os detalhes do caso foram revelados pelo Fantástico, da TV Globo.
Os filhos do advogado, Eric e Greg Serson, tiveram acesso a documentos — revelados pela Lava Jato, mas considerados inúteis no contexto da operação — contendo movimentações financeiras do pai no início dos anos 2000. Uma delas envolvia a venda de um apartamento, que despertou a suspeita nos irmãos: uma procuração adquirida por Nilton 20 dias antes da morte de Karin levou a venda de uma casa, avaliada em R$ 3 milhões na época, para um sócio do advogado, que comprou-a por R$ 400 mil.
Karin Serson foi encontrada sem vida em 21 de outubro de 2004 em um quarto de hotel de Barueri, na Grande São Paulo, com um tiro na cabeça e outro no peito. A conclusão foi de que a vítima teria cometido suicídio, mas, segundo Eric, Nilton afirmou aos filhos, em um primeiro momento, que a mulher havia sofrido um infarto, mudando a versão apenas uma semana depois, alegando que ela havia se matado por hiperdosagem de medicamentos.
Em entrevista ao Fantástico, exibida na noite de ontem, Eric disse que ele e o irmão acreditaram nesta história por "15 ou 16 anos", até que o advogado foi preso no desenrolar da Operação Lava Jato (e, eventualmente, eles tiveram acesso aos documentos).
O advogado Marco Antônio Sabino, que representa os irmãos, justificou em entrevista ao programa da TV Globo que o apartamento em questão fazia parte de uma herança de família da mulher e que, portanto, Nilton não tinha direito a uma parte independentemente do regime de divisão de bens do casamento.
Os irmãos também trouxeram à tona as movimentações de uma empresa criada pelo casal em 1997. A sociedade teria sido usada para manipular imóveis que pertenciam a pessoas físicas. Dezoito imóveis foram rastreados por conexão com o registro do negócio, a maioria em Barueri. Agora, os filhos querem a quebra do sigilo bancário para esclarecer origem e real patrimônio do pai.
Nós acreditamos que ele tenha envolvimento na participação do assassinato da nossa mãe, por motivação patrimonial, principalmente
Eric Serson
Já Nilton nega as acusações dos filhos e afirma que os dois estão motivados por dinheiro.
"Ela não tinha uma herança muito grande dos pais; isso é uma maluquice do Eric. Eu considero meus filhos uns ingratos, meus filhos simplesmente querem dinheiro pelo dinheiro de qualquer jeito", alegou o advogado em telefonema com Valmir Salaro.
Ele até me falou: 'se você me der dinheiro...', me chantageou. Se você me der metade dos seus bens, eu paro com isso
Nilton Serson
Apesar das negativas, a morte de Karin está sendo investigada pela segunda vez após a divulgação de um novo parecer, requisitado pelos filhos, que apontou a suspeita de assassinato. A polícia já convocou Nilton para depoimento duas vezes, mas ele ainda não compareceu.
Eric e Greg contrataram peritos particulares que encontraram inconsistências no inquérito original e a Justiça permitiu a reabertura da investigação. O parecer técnico apontou "fragilidade" na tese de suicídio, já que a mulher morreu com dois disparos que teriam sido feitos a distância, dois fatores que dificultam a própria execução, explicou ao Fantástico Roselle Soglio, relatora do novo parecer técnico-científico.
Além disso, a perícia no local do crime teria várias falhas. Nas fotos tiradas logo após o incidente, um revólver da marca Rossi estava ao lado do corpo de Karin. Esta arma, de calibre 32, teria "desaparecido" e, em seu lugar, uma Smith & Wesson foi enviada aos peritos, conforme o novo levantamento. As balas no corpo da mulher eram compatíveis com a segunda arma, mas não foi explicado o armamento diferente que aparecia nas fotos originais. Os projéteis encontrados no quarto também teriam sido enviados à perícia em embalagens não lacradas.
O Ministério Público de São Paulo não quis se manifestar. Já a Secretaria de Segurança Pública do estado (SSP-SP) declarou que a equipe do Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP) 'realizou novas diligências visando esclarecer os fatos".
Serson foi alvo da Lava Jato, investigado por envolvimento em movimentações de propina na Odebrecht. À época, procuradores afirmaram que dos R$ 118 milhões movimentados no esquema, a maior parte teria ido para o escritório do profissional. Ele ficou preso duas semanas, mas foi solto logo após Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), retirar a competência do caso da 13ª vara de Curitiba, transferindo-a para Brasília.
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