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Henry: Pedido de habeas corpus de Jairinho abala outras famílias em luto

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

09/11/2021 04h00

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro julga hoje um pedido de habeas corpus feito pela defesa de Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho. O ex-vereador é réu por homicídio triplamente qualificado no processo que apura a morte de seu enteado, Henry Borel, de 4 anos.

O pedido de habeas corpus mobilizou familiares de crianças que foram vítimas de homicídio dentro da própria casa. Em entrevista ao UOL, eles relatam medo de impunidade e sensação de desamparo.

Henry Borel foi morto no apartamento em que morava com Jairinho e a mãe, Monique Medeiros, em um apartamento na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Monique também responde pelo mesmo crime, mas a defesa dela — que é diferente — não pretende pedir habeas corpus a curto prazo.

O Ministério Público sustenta que Henry sofria agressões dentro do apartamento, por parte do padrasto e com anuência da mãe. A série de episódios, afirma o MP-RJ, culminou na morte da criança no último dia 8 de março.

Monique responde pelo mesmo crime. A defesa dela, no entanto, não pretende pedir habeas corpus a curto prazo.

No sul, pai e madrasta mataram criança em 2014

O episódio guarda semelhanças com outro caso que também ganhou destaque no noticiário exatamente 7 anos antes. Em abril de 2014, Bernardo Boldrini, 11 anos, foi assassinado pela madrasta, Graciele Ugulini, com participação do pai, Leandro Boldrini. O casal e mais dois comparsas foram condenados em 2019.

Ainda hoje, a família materna de Bernardo relembra com dor do caso. Desde a morte do menino, a tia Fátima Uglione e seu marido, Roberto Maia, têm mantido contato com outras famílias que passaram pela mesma perda.

Bernardo Boldrini - Reprodução - Reprodução
Bernardo Boldrini foi morto em 2014 pela madrasta, com apoio do pai
Imagem: Reprodução

Em entrevista ao UOL, Roberto lembra que entrou em contato com Leniel Borel, pai de Henry, para prestar solidariedade. "Não nos conhecemos, mas são perdas muito parecidas. Claro que a dor dele é muito maior, porque ele é pai, mas mesmo assim a gente sente."

Apesar de serem raras as entrevistas, Roberto aceitou conversar com a reportagem por acreditar que é necessária uma pressão popular para evitar que Jairinho responda em liberdade.

"Eu acho uma agressão à memória de todas as vítimas [ele responder em liberdade]. Como cidadão, a gente entende que, se há indícios de envolvimento [com a morte], é importante estar preso enquanto julgado", afirma.

Acusado responde em liberdade por assassinato de bebê

Outro homem que viveu dentro de casa uma dor parecida é Ivan Cesar Bittencourt, avô da pequena Laura. A menina de um ano e sete meses foi assassinada no quintal da casa em que morava com os avós pelo tio-avô com um cabo de madeira.

O homem estava em uma discussão com a avó de Laurinha, como era chamada, e, de acordo com testemunhas, teria dito que iria matá-la e também a criança. Neste momento, bateu com o cabo de madeira no carrinho em que Laura estava.

Laura Bittencourt foi morta após ataque com cabo de madeira - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Laura Bittencourt foi morta após ataque com cabo de madeira
Imagem: Arquivo pessoal

Depois de atingir a criança, ainda tentou agredir a própria irmã. O golpe na cabeça de Laura foi fatal, e a causa da morte foi traumatismo cranioencefálico. O caso ainda não foi julgado e deve ir a júri popular, ainda sem data estabelecida.

Enquanto isso, Ivan relembra a todo momento da dor de perder a neta e lamenta que casos do tipo demorem a ser solucionados.

"A minha impressão é que não ligam para a gente [famílias vítimas]. Eu vi o tio-avô da Laurinha sair da cadeia e hoje ele está solto, vivendo a vida dele, até o julgamento. Eu fico revoltado", desabafa Ivan.

O acusado pela morte da menina responde ao crime em liberdade, após sua defesa alegar problemas de saúde. Após a liberação, Ivan conta que passou a tomar remédios, se vê abalado e, às vezes, grita sozinho dentro de casa.

Ao saber de casos como o de Henry, ele diz que relembra de tudo que sofreu com a neta: "Esses casos não podem ser esquecidos", define.