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Criança ianomâmi de 3 anos morre por falta de suporte médico, diz Conselho

Ianomâmis em registro feito em 2019 pela Funai - CGIRC/Funai
Ianomâmis em registro feito em 2019 pela Funai Imagem: CGIRC/Funai

Isabella Cavalcante

Colaboração para o UOL, de Brasília

19/11/2021 11h55

Uma criança de 3 anos da comunidade ianomâmi morreu em decorrência de malária e pneumonia na quarta-feira (17). O grupo reside, em grande parte, em Roraima e na floresta amazônica que faz fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Segundo o Condisi-YY (Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana), o falecimento do garoto ocorreu por falta de suporte médico.

O presidente do Conselho, Júnior Hekurari Yanomami, contou ao UOL que às 11h da quarta-feira recebeu uma ligação do grupo ianomâmi dizendo que o menino tinha evoluído para estado grave. "Comuniquei ao pessoal da remoção às 11h05 e às 11h10 foi autorizado o atendimento, mas a equipe médica da região de Parima (RR) disse que não tinha gasolina para se deslocar até a comunidade, o que leva quase duas horas de barco", afirmou.

O pessoal autorizou às 11h15 e a criança morreu às 16h30, olha o tempo. Claro que a criança morreu por falta de atendimento médico, ninguém fez atendimento [...] Se tem paciente é para ir. Se chegasse antes tinha tempo para salvar essa criança".

O DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) negou que houve negligência. Em nota para o UOL, a unidade confirmou que houve solicitação para remoção aérea da criança. "Após a autorização da remoção, ao chegar no local a equipe constatou o óbito da menor. O DSEI ressalta que empenhou todos os esforços para o resgate da paciente, e que a denúncia de negligência é infundada", completou.

O Condisi-YY formulou um ofício ao Coordenador Distrital de Saúde Indígena, Rômulo Pinheiro de Freitas, e ao Secretario Especial de Saúde Indígena, Robson Santos da Silva, pedindo esclarecimentos sobre o caso, como o que causou a demora do atendimento, por que não havia combustível e quantos profissionais de saúde são designados para dar suporte na região.

Outros pacientes

O presidente do Condisi-YY afirmou ter sido informado que outras duas crianças conseguiram ser removidas da região para receber atendimento médico em Boa Vista (RR). Elas estariam sofrendo de malária, pneumonia e desnutrição.

"A situação do povo ianomâmi está fora do normal, tem muita criança e gente doente, na mesma comunidade, mesma região. A situação está triste. Isso é a incapacidade dos gestores, do Ministério da Saúde, que está vendo as lágrimas do povo ianomâmi", disse Júnior.

Histórico

Também na quarta-feira, começou a valer o prazo de até cinco dias para o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) explicar a situação dos ianomâmis, segundo o estipulado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

A União deverá informar, entre outras coisas, a situação nutricional, o acesso a água potável e a serviços de saúde e medicamentos. Além disso, o STF exige que o governo indique as providências adotadas, o nome e cargo das autoridades responsáveis pelas questões indígenas.

Um dia antes, na terça-feira (16), a Rede Sustentabilidade enviou ao Supremo um pedido para que o governo federal seja investigado criminalmente pela condição dos ianomâmis.

O partido pede também que caso os direitos dessa população continuem a ser desrespeitados, seja instituída uma multa diária de R$ 100 mil a ser cobrada do patrimônio pessoal dos agentes públicos responsáveis.