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Réu grita "não sou assassino" e passa mal ao chegar para julgamento da Kiss

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

01/12/2021 12h36

O réu Luciano Augusto Bonilha Leão, ex-produtor musical da banda Gurizada Fandagueira, gritou "não sou assassino" ao chegar ao Fórum de Porto Alegre, na manhã de hoje. Ele é uma das pessoas acusadas de serem os responsáveis pelo incêndio na boate Kiss. O Tribunal do Júri iniciou hoje e deve se estender por mais de 15 dias.

Bonilha, que hoje atua como DJ, estava bastante nervoso e chegou a chorar ao ingressar no prédio. O réu estava acompanhado de seus advogados e precisou ser encaminhado para a enfermaria do tribunal, já que acabou passando mal.

Devido à situação, o sorteio dos jurados acabou atrasando. Ao todo sete pessoas - seis homens e uma mulher - foram escolhidos para compor o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri.

Os quatro réus serão julgados por 242 homicídios simples com dolo eventual (quando, mesmo sem intenção, assume-se o risco de matar) e por 636 tentativas de assassinato. Os números levam em conta, respectivamente, os mortos e feridos no incêndio da boate.

Além de Bonilha, os réus são os dois sócios da boate —Elissandro Callegaro Spohr, conhecido por Kiko, e Mauro Londero Hoffmann — e o músico Marcelo de Jesus dos Santos.

Sobreviventes serão ouvidos no júri

Serão ouvidos no julgamento 14 sobreviventes, indicados pelo MP (MInistério Público) e pela defesa de Spohr.

Além desses, outras 19 testemunhas serão ouvidas: cinco indicadas pelo MP, cinco pela defesa de Spohr, cinco pelos advogados de Mauro Londero Hoffmann e outras quatro pela defesa de Marcelo de Jesus dos Santos.

Apenas Bonilha não indicou testemunhas.

Os nomes das testemunhas não foram divulgados previamente. Porém, o MP informou que chamou cinco sobreviventes da tragédia, além de uma arquiteta, um engenheiro, um funcionário da Kiss que estava de folga na noite do incêndio e dois empresários.

Essa primeira etapa, na qual as testemunhas são ouvidas, é considerada a fase de instrução. Em seguida, haverá o interrogatório dos réus que, se quiserem, podem ficar em silêncio. Na sequência, começam os debates, nos quais acusação e defesas terão oportunidade de apresentar suas teses e argumentos aos jurados. O tempo total para essa fase do julgamento será de 20 horas.

Finalizada essa etapa, os jurados serão indagados se estão prontos para decidir. Eles passarão a uma sala privada para responder ao questionário. O voto dos jurados é individual e secreto. Nele será necessário responder a perguntas formuladas pelo magistrado, mediante o depósito de cédula em uma urna. A maioria prevalece.

De volta ao plenário, o juiz anuncia o resultado e profere a sentença.

Os jurados e testemunhas ficarão isolados e permanecerão incomunicáveis. A diferença é que os jurados ficam nessa condição até o final do julgamento e as testemunhas são liberadas após prestarem depoimento.

Eles serão hospedados em hotéis e acompanhados em tempo integral por oficiais de justiça do tribunal. O transporte também será realizado pelo poder judiciário, enquanto a alimentação será fornecida por uma empresa terceirizada contratada pelo TJ-RS.

O júri não será interrompido aos finais de semana.