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Boate Kiss: Inquérito do incêndio foi feito pela imprensa, diz ex-prefeito

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

08/12/2021 13h33Atualizada em 08/12/2021 13h41

Em depoimento hoje no julgamento sobre o incêndio na boate Kiss, Cezar Schirmer, que era prefeito em Santa Maria na época da tragédia, desqualificou a investigação da Polícia Civil. Ele foi a 25ª pessoa a ser ouvida no julgamento, em andamento há oito dias na capital gaúcha.

"O inquérito foi feito pela imprensa. Não foi feita uma investigação sóbria, discreta, respeitosa com as famílias", afirmou.

Familiares deixaram o Tribunal do Júri após as declarações do político.

"Parecia que era um desejo de envolver a prefeitura de qualquer forma e eu me refiro só à prefeitura, não quero falar de outras questões ou de outras naturezas. De muitos pontos de vista essa investigação foi medíocre e espetaculosa", prosseguiu.

"Um inquérito, quando morre uma pessoa, quando é assassinado alguém, leva seis meses, em torno disso, um pouco mais, um pouco menos. Esse inquérito levou 55 dias."

O ex-prefeito disse que cerca de 150 servidores da prefeitura foram chamados para depor e que foram tratados com "imenso desrespeito e grosseria", além de reclamações de truculência policial.

Acho que faltou coragem, isenção, respeitabilidade, competência aos responsáveis pelo inquérito, fizeram inquérito movido pelo noticiário da imprensa e de outras circunstâncias de natureza política. O inquérito é muito ruim, doutor. Desculpe fazer essa afirmação."
Cezar Schirmer, ex-prefeito de Santa Maria

"Eu não fiz nada doutor, nada, nada, nada, absolutamente nada doutor que pudesse comprometer a mim e nenhum servidor da prefeitura agiu de tal forma que tenha contribuído para o que aconteceu naquela noite, que foi um incêndio, apenas isso, com vítimas fatais e eu lastimo tudo muito que ocorreu. Até hoje isso me entristece muito", complementou Schirmer.

Ele diz que focou em tentar amparar os familiares das vítimas. "Ao longo de sete, oito anos nunca dei entrevista. Nas poucas vezes em que eu falei, falei por notas oficiais, foram poucas. Eu me autoimpus um silêncio."

"Eu [era] prefeito de uma cidade traumatizada, com tantas vítimas, com pessoas sobreviventes que precisavam de amparo, uma cidade emocionalmente abalada", diz.

O julgamento

Quase nove anos após a tragédia, quatro réus são julgados por 242 homicídios simples e por 636 tentativas de assassinato —os números levam em conta, respectivamente, os mortos e feridos no incêndio. Devido ao tempo de duração e estrutura envolvida, o júri é considerado o maior da história do Judiciário gaúcho.