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Racismo no Leblon: acusado de receptar bike elétrica tem caso arquivado

O instrutor de surfe Matheus Ribeiro foi acusado por um casal de jovens de ter roubado a propria bicicleta pela qual pagou  - Divulgação
O instrutor de surfe Matheus Ribeiro foi acusado por um casal de jovens de ter roubado a propria bicicleta pela qual pagou Imagem: Divulgação

Daniele Dutra,

Colaboração para o UOL, no Rio

10/12/2021 11h40

O instrutor de surfe Matheus Ribeiro, que estava sendo acusado pela receptação de uma bicicleta elétrica, teve o caso arquivado pelo TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), nesta sexta (10). Ribeiro, que é negro, passou a ser investigado depois de denunciar um casal branco por racismo e calúnia após eles o acusarem de ter roubado a bicicleta que, na verdade, era dele.

O caso ganhou repercussão em junho deste ano depois que Ribeiro divulgou em suas redes sociais o vídeo do momento em que o casal, Mariana Spinelli e Tomás Oliveira, o abordou na porta do Shopping Leblon, zona sul do Rio. Ao acolher os argumentos do Ministério Público, a juíza do TJ-RJ Paula Fernandes Machado arquivou o processo contra Ribeiro e sua namorada, a vendedora Maria Eliza Faes.

"Estamos muito felizes. O meu sentimento é de mais tranquilidade para seguir na luta, pois, na verdade, esse inquérito nem deveria existir. Mas acredito que essa é uma boa resposta a todos que acompanharam e lutam contra esse racismo institucional"
Matheus Ribeiro, instrutor de surfe

Ribeiro comprou a bicicleta no dia 1º de abril deste ano em um site de vendas de um homem que ele não conhecia. O vendedor se identificou como José Carlos Luna e Ribeiro recebeu o produto na porta do Shopping Nova América, zona norte da cidade. O instrutor pagou R$4,2 mil pelo cartão de crédito de Maria Faes. Ele explica que no ato da compra pediu a nota fiscal do produto, mas que nunca a recebeu. Em depoimento na delegacia, Ribeiro mostrou o comprovante de pagamento e as parcelas feitas da compra.

Além de ter o caso arquivado, o instrutor de surfe e a vendedora conseguiram ter a restituição do dinheiro da compra da bicicleta, explica o advogado do casal, Bruno Sankofa. "Uma decisão antirracista no dia dos Direitos Humanos deve ser elevada a um marco histórico e referenciada como ponto de reflexão de todos os agentes do Sistema de Justiça Criminal", disse ao UOL.

Relembre o caso

Em 12 de junho, Ribeiro foi até o shopping Leblon com a namorada Maria Faes, que trabalha como vendedora em uma loja de roupas em Copacabana. Ela precisava pegar uma peça de roupa na filial do shopping para, então, retornar ao seu local de trabalho. "Fiquei parado em torno de 15 minutos e eles chegaram falando: 'Essa bicicleta é minha'", conta.

O instrutor de surfe foi acusado por Mariana Spinelli e Tomás Oliveira de ter roubado a própria bicicleta. No vídeo publicado por Ribeiro em suas redes sociais é possível ouvir algumas acusações do casal: "Você pegou essa bicicleta ali agora, não foi?", disse o rapaz. "É sim, essa bicicleta é minha", replicou a moça.

Na ocasião, Ribeiro tentou provar que a bicicleta era dele. "Sem entender nada, fui tentar mostrar aos dois que a bicicleta é minha, com fotos antigas com ela, chave, o que foi possível naquele momento de segundo", escreveu no post.

"Não adiantou. Eu só consegui provar que a bicicleta é minha, quando, sem minha autorização, o lindo rapaz pega o cadeado da minha bicicleta e tenta abrir. Frustrado com sua tentativa, ele diz que não me acusou, afinal, o rapaz só estava perguntando", disse Ribeiro em sua publicação viralizou nas redes.

Mariana Spinelli e Tomás Oliveira foram denunciados por Ribeiro, mas a Justiça decidiu arquivar o processo de calúnia contra o casal em 5 de agosto. A polícia identificou Igor Pinheiro, conhecido como "Loirão", como o responsável pelo roubo da bicicleta do casal branco. Em agosto, ele foi condenado a um ano e quatro meses de reclusão e 10 dias de multa por furto qualificado em regime semiaberto.