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Uma em cada quatro cidades da Bahia está em situação de emergência

Herculano Barreto Filho e Carlos Madeiro

Do UOL, em São Paulo e em Maceió

28/12/2021 12h46

Uma em cada quatro cidades da Bahia está em situação de emergência em decorrência das fortes chuvas que castigam o estado nos últimos dias e deixaram 20 mortos, 358 feridos e mais de 470 mil pessoas atingidas, segundo levantamento divulgado no fim da tarde de ontem pela Defesa Civil.

São 116 cidades afetadas —100 delas decretaram situação de emergência, o equivalente a 24% dos 417 municípios baianos, praticamente um a cada quatro. Ainda segundo o levantamento, feito com dados enviados pelas prefeituras e consolidados pelo governo da Bahia, mais de 60 mil pessoas precisaram deixar as suas casas —31.405 delas estão desabrigadas e precisam de assistência do governo para ter uma moradia temporária.

A extensão da destruição é o que impressiona. Parece que houve uma guerra. As crateras, as barragens que foram levadas, as pontes, o dano à infraestrutura é enorme. Nossos técnicos estão avaliando os danos, mas ainda não temos esse dado concreto"
Rui Costa (PT), governador da Bahia

"Temos quase 80 cidades com decreto de calamidade. Pelo menos 50 cidades têm casas debaixo d'água e com extensões grandes. E agora quando a água começa a baixar a gente vê o grande prejuízo que foi provocado", completou o governador, que está em um gabinete avançado em Ilhéus.

Costa anunciou a criação de um auxílio financeiro do governo destinado às famílias atingidas pelas chuvas e a extensão da tarifa social da Embasa (Empresa de Águas e Saneamento da Bahia) para todos os imóveis que tiveram prejuízos com as enchentes nos municípios em situação de emergência.

Segundo o governador, as casas serão construídas em regiões com menor risco de novas tragédias. "Não construiremos casas na beira do rio. Todas têm que estar longe do rio, em lugares altos. As casas construídas pelo governo estadual serão assim. Se no passado alguém não pensou nisso, nós temos que corrigir esse erro", disse.

Em meio ao caos, há casos de luta pela sobrevivência nas cidades atingidas pelas chuvas. Como a história da então gestante Amanda Santana, 26, que abandonou a casa prestes a ser alagada em Ilhéus na tarde de domingo (26) e foi levada às pressas a um hospital, onde nasceu a sua filha Aysha.

Em Itabuna, o aposentado João Alves Nascimento, 71, foi resgatado de casa quando a água já estava na altura do seu peito só com a roupa do corpo e os documentos. A imagem do resgate viralizou nas redes sociais. Na mesma cidade, os próprios moradores usaram um colchão inflável para resgatar uma idosa de 102 anos da laje da casa onde ela mora.

Mas nem todas as vítimas das chuvas tiveram a mesma sorte. "Algumas pessoas só estão com a roupa do corpo, nem documentos têm, e têm que recomeçar sua vida inteira", relatou o governador Rui Costa.

Situação das rodovias no estado

Ontem, a Polícia Militar liberou parcialmente oito rodovias. Entre elas, o trecho da serra do Marçal, na BA-263, que liga as cidades de Itambé, Vitória da Conquista, Itapetinga e Itabuna, com a utilização apenas de uma das vias e revezamento de veículos para subida e descida.

Em Uruçuca, o km 27 da BA-262 também está liberado, após o nível de água diminuir. Entretanto, os policiais recomendam que os motoristas reduzam a velocidade e redobrem a atenção no local. Apesar de estar livre, a BA-549, trecho entre Apuarema e Gandu, requer cuidado devido a existência de árvores caídas e deslizamentos em diversos pontos da via.

A PRF-BA (Polícia Rodoviária da Bahia) mantém interdições em trechos de quatro rodovias federais: a BR-101, BR-330, BR-420 e BR-349. O trecho da BR-415, em Ilhéus, que estava parcialmente bloqueado foi liberado mais cedo.

Chuvas mais intensas dos últimos 32 anos

As chuvas de dezembro na Bahia já são as mais intensas desde pelo menos 1989, segundo dados do Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos). As regiões sul e sudoeste do estado costumam ter média de 150 mm de chuva nos meses de dezembro, mas esse volume foi bem maior em 2021.

A cidade que registrou a maior chuva foi Itamaraju, no sul baiano, por exemplo, já registra 769,8 mm de precipitação. Cada mm corresponde a um litro de água em um metro quadrado.

Segundo o Inema, Itamaraju foi o município com maior chuva no Brasil este mês e apresenta o quíntuplo da média histórica para os meses dezembro, que é de 148 mm. Outros municípios também se destacaram pelo volume nos últimos dias, com destaque para Valença —que entre 9h do dia 23 e às 9h do dia 27 registrou 215 mm de chuva. Em Ilhéus, esse volume também foi alto: 209 mm.

Segundo José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), os índices pluviométricos foram muito altos, mas o maior problema não é o volume acumulado, e sim a quantidade de chuva que cai em um curto espaço de tempo. "Se a chuva cai em pouco tempo, tem potencial para causar um desastre natural maior. Se essa chuva se concentra em dois dias, por exemplo, as barragens são destruídas pela força dela. Esse é o maior problema", diz.