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Prestes a dar à luz e ter casa alagada, gestante é resgatada em Ilhéus (BA)

Adriano Farias e Amanda Santana seguem com a bebê Aysha em hospital, no aguardo de alta médica - Mauricio Maron/Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio
Adriano Farias e Amanda Santana seguem com a bebê Aysha em hospital, no aguardo de alta médica Imagem: Mauricio Maron/Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio

Juliana Almirante

Colaboração para o UOL, em Salvador

27/12/2021 17h27

Na tarde de ontem (26), a autônoma Amanda Santana, de 26 anos, abandonou sua residência prestes a ser alagada pelas chuvas que assolam Ilhéus, na Bahia. Ao sentir fortes contrações, foi levada às pressas por uma rede de apoio, formada por moradores da região, ao Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio. Já no local, deu à luz uma menina, Aysha.

No início da manhã as águas ameaçaram invadir a casa, localizada no bairro de Salobrinho. Pai de Aysha e companheiro de Amanda, o pedreiro Adriano Farias, de 29 anos, contou ao UOL que, então, a família abandonou o local em busca de abrigo e ficaram alojados em uma igreja por volta das 4h30.

Cerca de uma hora depois Amanda, que estava na 37ª semana de gestação, passou a sentir contrações. Já que várias ruas estavam alagadas, o caminho até a maternidade ficou complicado. Adriano afirma que então eles pediram apoio e começaram a ser auxiliados por um grupo de enfermeiras, ainda na igreja.

"Elas queriam ver se dava pra fazer o parto na igreja, porque as correntezas estavam fortes", disse. Ele comenta que o pai de uma das enfermeiras tentou levá-los para a maternidade de carro, mas o veículo não pôde prosseguir por conta dos alagamentos.

De trator, barco e helicóptero

Com o auxílio de um trator de uma fazenda da região, o casal seria encaminhado ao Hospital Regional Costa do Cacau, o hospital mais próximo. No entanto, o veículo também não conseguiu prosseguir por conta dos alagamentos, segundo Adriano.

Mas a água estava encobrindo também [o trator] e acabou entrando água. E o trator parou no meio do caminho do Hospital do Cacau.

O casal foi auxiliado mais uma vez por um rapaz que passava de barco pelas proximidades. "Muita gente ajudou. Só puxando o barco, foi sete ou mais. Um puxou de um lado, outro de outro. Para o barco não virar", afirma.

Adriano conta que, ao chegar no Hospital Regional do Cacau, Amanda recebeu os primeiros atendimentos, mas ainda precisava ser levada para uma maternidade.

De acordo com a assessoria do Hospital Materno-Infantil, um helicóptero da força-tarefa do governo do estado enviou Amanda e Adriano até o aeroporto de Ilhéus. Do aeroporto, eles ainda foram encaminhados para a maternidade por uma ambulância com uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No Hospital Materno-Infantil, Aysha nasceu às 15h28.

Bebê nasce após mãe ser resgatada por rede de apoio em Ilhéus, na Bahia - Mauricio Maron/ Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio - Mauricio Maron/ Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio
A bebê Asyha nasceu às 15h28 após os pais enfrentarem diversos obstáculos para chegada à maternidade
Imagem: Mauricio Maron/ Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio

Os obstáculos de lá para cá foram complicados. O medo de o barco virar. Ela [Amanda] sentindo dor e sem poder fazer esforço. Foi muita preocupação mesmo.

Depois de passar por esses momentos complicados, Adriano ainda está preocupado com o pai de Amanda, de 83 anos, e com a outra filha da companheira, de sete anos, que ficaram abrigados na igreja e estão sem sinal de celular.

Amanda e Adriano seguem na maternidade aguardando alta. Por isso, ainda não tiveram condições de retornar para casa e saber a situação atual do imóvel após os alagamentos.

"As informações que eu tive foi que abaixou a água [do alagamento em casa], mas ainda assim, tem água na pista", declara.

O pai de Aysha diz que, diante dos transtornos que atingem a cidade, ficou emocionado com todo o apoio, que foi essencial para o nascimento da sua filha. "Essa é a hora de um ir ajudando o outro", disse.

Mais de 500 desabrigados em Ilhéus

De acordo com a Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza de Ilhéus, até o sábado (25), 589 pessoas desabrigadas estavam em escolas e espaços públicos da cidade.

As doações de colchões, roupas, cobertores, alimentos, produtos de higiene e limpeza, água mineral e outros itens podem ser feitas no ponto de coleta localizado na antiga sede da Secretaria de Promoção Social, na Rua Mário Alfredo.

Segundo a prefeitura, a cidade de Ilhéus registrou até a noite de ontem um acumulado de 519 milímetros de chuva. O volume de chuvas superou a expectativa para todo o mês de dezembro, que era entre 160 e 180 milímetros.

Chuva na Bahia

Até hoje, são 31.405 desabrigados e 31.391 desalojados na Bahia, de acordo com dados enviados por prefeituras e totalizados pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec). Já o total de municípios afetados chega a 116. Cem deles já decretaram situação de emergência.

Também foram registrados 358 feridos e 20 mortes. As últimas duas mortes ocorreram em Itabuna. Uma delas foi uma mulher de 33 anos, vítima de desabamento, e a outra foi um homem, de 21 anos, levado pela correnteza.

O governo informou, ainda, que 471.009 pessoas foram afetadas pelas chuvas.