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PMs entraram 'atirando sem pena e sem dó', diz babá de menino morto no RJ

Kevin Lucas dos Santos foi atingido por tiro no peito na comunidade de Torre, na Baixada Fluminense - Reprodução/Redes Sociais
Kevin Lucas dos Santos foi atingido por tiro no peito na comunidade de Torre, na Baixada Fluminense Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Pietra Carvalho

Do UOL, em São Paulo*

07/01/2022 16h07Atualizada em 07/01/2022 19h12

A vizinha que socorreu o menino Kevin Lucas dos Santos Silva, 6, morto ontem ao ser baleado em Queimados, na Baixada Fluminense, durante uma ação policial, afirmou que policiais militares entraram atirando "sem pena e sem dó" na comunidade da Torre. Maria Cláudia da Silva Medeiros nega versão apresentada pelos agentes de que teriam sido alvejados por criminosos.

"A polícia está alegando que foi confronto, não foi confronto. Não tinha bandido no morro, só tinha morador e criança, não tinha bandido nenhum. Eles simplesmente entraram atirando, sem pena, sem dó. Sem saber se tinha morador, se tinha criança, o que tinha lá", afirmou Maria Cláudia ao site Metrópoles. Ela cuidava do menino no momento em que ele foi baleado, na tarde de ontem.

Além de Kevin, outras duas crianças ficaram feridas na ação: Gabriela, de 9 anos, e Ludmila, de 13. Elas foram socorridas para a mesma unidade que o garoto e depois foram transferidas para o HGNI (Hospital Geral de Nova Iguaçu) e para o Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, respectivamente.

Sobre Gabriela, o HGNI informou ao UOL que ela deu entrada na unidade, após ser baleada na perna direita, região da coxa, e passou por cirurgia de emergência. Ela permanece internada e o estado de saúde da menina é estável. Ludmila também tem quadro de saúde estável.

Questionada pela mãe da vítima, Ana Cláudia Oliveira, 27, a médica que atendeu o menino contou que ele foi atingido por um tiro no coração.

"Falei que era mentira da médica, porque não tinha nenhuma marca de sangue na roupa, aí ela pediu pra eu olhar e eu olhei: Foi um tiro certeiro", declarou Maria Cláudia em entrevista ao lado da mãe de Kevin.

Maria Cláudia cuidava do garoto e de seu irmão, de 10 anos, há cerca de cinco meses. Eles ficavam na casa da vizinha quando a mãe saía para trabalhar como vendedora de roupas. No dia do crime, ela conta que o filho não queria deixá-la sair.

"Ele disse: 'Não vai, fica aqui comigo'", lembrou a mãe do garoto, com a babá confirmando que a atitude era atípica. "Ele sempre ficava comigo e nunca chorou. Nesse dia ele chorou", disse a babá.

Isso não vai ficar impune, eu não quero dinheiro do governo, nada vai suprir a dor que eu estou sentindo e não vai trazer meu filho de volta. Eu só quero justiça, mais nada. O sentimento é de dor, uma revolta, um ódio que ninguém vai trazer meu filho de volta. Isso não vai ficar assim, é uma covardia
Ana Cláudia Oliveira, mãe de Kevin

PM diz que foi atacada por criminosos

Em versão contestada por moradores da comunidade, a Polícia Militar afirmou que homens do batalhão da área estavam em patrulhamento na estrada do Riachão, um dos acessos à comunidade, quando foram atacados por criminosos.

A corporação informou que a equipe se abrigou e não efetuou disparos.

"Após cessarem os tiros, os agentes foram procurados por moradores dizendo que uma criança havia sido ferida. Ela foi socorrida para a UPA de Queimados, onde infelizmente não resistiu aos ferimentos", afirmou a PM.

Além de negar a versão de um confronto, a babá afirma que chegou a ser impedida por PMs de socorrer Kevin e que o carregou já morto nos braços até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento).

"Depois dos tiros, quem chegou lá foi a polícia. Viram as crianças e não deixaram eu pegar o Kevin. Eu que meti a mão e falei: 'Vou levar ele para o hospital sim'.", afirmou Maria Cláudia, cuja filha de 3 anos estava ao lado de Kevin quando ele foi atingido.

Segundo a ONG Rio de Paz, 20 crianças/adolescentes morreram baleadas no estado do Rio nos últimos dois anos. Desde 2007, foram 87 vítimas menores de idade.

*Com informações de Marcela Lemos, do Rio