Governo do Rio faz operação com polícias para ocupar Jacarezinho
O Governo do Estado do Rio de Janeiro iniciou na manhã de hoje uma ocupação na comunidade do Jacarezinho, na zona norte carioca. O objetivo é implantar o programa Cidade Integrada, uma nova versão das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
Até as 8h, houve o registro da prisão de um homem ainda não identificado, de acordo com a TV Globo. Ele foi levado por agentes à Cidade da Polícia, que fica ao lado da comunidade do Jacarezinho. A Polícia Civil informou que 1.200 agentes — 400 civis e 800 militares — participam da ação. Os policiais buscam cumprir 42 mandados de prisão e 14 de busca e apreensão.
O Jacarezinho foi palco da operação policial mais letal da história do Rio no ano passado, quando 28 pessoas morreram.
À TV, o porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Ivan Blaz, afirmou que "a vida rotineira tem seguido normalmente [no Jacarezinho]". Para Blaz, "isso é muito importante, estamos falando de uma operação que oferece resultados a longo prazo".
No Twitter, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), afirmou que a elaboração do programa Cidade Integrada durou meses. "As operações de hoje são apenas o começo dessa mudança que vai muito além da segurança", completou o governante no Twitter.
Castro disse que dará mais detalhes sobre o programa Cidade Integrada somente no sábado (22). A princípio, de acordo com o governador, duas comunidades receberão projetos "permanentes". A próxima comunidade a ser ocupada, de acordo com documentos internos, é a Muzema, na zona oeste.
"Servirão de modelo para outros importantes lugares que sofrem com a ausência de serviços e programas que realmente colaborem para melhorar a vida de quem mora nessas áreas", diz Castro.
Além do Jacarezinho, a Polícia Militar também entrou em favelas do entorno: Manguinhos, Bandeira 2 e o Conjunto Morar Carioca. No Twitter, a PM divulgou vídeos da incursão dos agentes na Bandeira 2.
Paes diz que não participou de planejamento
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), publicou uma série de mensagens no seu Twitter na manhã de hoje. De acordo com ele, não houve qualquer planejamento integrado entre governo e prefeitura sobre o tema. No entanto, Paes afirma que foi avisado pessoalmente por Castro na noite de ontem.
"Não é verdade que tenha havido qualquer programação ou reuniões prévias com equipes da prefeitura a esse respeito", escreveu
"Saúdo a iniciativa do governo do Estado em implementar uma política pública de restabelecimento do poder do Estado em todas as áreas do nosso território. Tenham a certeza de que a prefeitura apoiará, como sempre, qualquer ação que traga melhorias para a população carioca", diz Paes.
O que é o Cidade Integrada?
Documentos internos do governo do estado do Rio de Janeiro definem que o Cidade Integrada é um programa que prevê "investimentos em infraestrutura", com construção e reforma de equipamentos públicos, de unidades habitacionais e ações de segurança pública.
Na comunidade do Jacarezinho, algumas das ações previstas e o motivo, de acordo com os documentos, são:
- Reforma do Campo do Abóbora: "São necessários reparos e equipamentos na base do campo, nas arquibancadas, nos espaços infantis e de lazer, na academia ao ar livre."
- Urbanização às margens do Rio Salgado: "Inibirá a ocupação irregular, facilitará a mobilidade através da implantação de calçadas e ciclovias e melhorará as condições ambientais e paisagísticas, com a introdução da arborização."
- Programa de videomonitoramento em 22 vias no entorno da favela, com reconhecimento facial e de placas, para "gerar dados de inteligência" e uma "melhor atuação da Polícia Militar"
As primeiras comunidades ocupadas serão Jacarezinho e o conjunto de comunidades da Muzema, Tijuquinha e Morro do Banco, no Itanhangá, zona oeste, uma região dominada atualmente pela milícia.
Os documentos apontam que, os próximos passos, envolvem ocupar as comunidades do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, em Copacabana, a Cesarão, em Santa Cruz, e depois Rio das Pedras e Complexo da Maré.
UPPs minguaram após intervenção federal
As UPPs foram criadas em 2008, no governo de Sérgio Cabral (MDB), com o objetivo de atuar em regiões que eram dominadas por facções criminosas, para retomar áreas dominadas pelo tráfico e aproximar a população do Estado.
Uma das ideias era de que as unidades atuassem como uma estrutura independente, justamente para desenvolver uma nova forma de atuar da polícia, mais focada no policiamento comunitário.
Mas, a partir de 2018, com a intervenção federal no Rio, unidades começaram a ser extintas. Um ano antes, porém, o programa já havia sofrido um corte de um terço de seu efetivo. Além disso, elas passaram a ser subordinadas aos batalhões da Polícia Militar, quebrando um dos objetivos do programa.
A crise fiscal fluminense foi outro empurrão contra o programa. A verba insuficiente e os poucos investimentos geravam reclamações sobre falta de equipamentos, como coletes e munição. Policiais trabalhavam com armamento obsoleto e sem gasolina nas viaturas. Até hoje, encontram-se estruturas de UPPs abandonadas e sucateadas pelo Rio de Janeiro.
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