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PM é ocupante irregular de quiosque onde Moïse trabalhava, diz Orla Rio

Moise Mugenyi Kabagambe, espancado até a morte na Barra da Tijuca - Reprodução/ Facebook
Moise Mugenyi Kabagambe, espancado até a morte na Barra da Tijuca Imagem: Reprodução/ Facebook

Marcela Lemos e Lola Ferreira

Colaboração para o UOL e do UOL, no Rio

03/02/2022 14h42

A concessionária Orla Rio informou ao UOL na tarde de hoje que o policial militar Alauir Mattos de Faria é um ocupante irregular do quiosque Biruta, vizinho ao quiosque Tropicália, onde o congolês Moïse Kabagambe foi espancado até a morte na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Ele trabalhou nos dois estabelecimentos.

Quiosques Tropicália, onde o congolês Moïse foi morto, e Biruta são vizinhos na orla da Barra da Tijuca - Google Earth - Google Earth
Quiosques Tropicália, onde o congolês foi morto, e Biruta são vizinhos na orla da Barra da Tijuca
Imagem: Google Earth

A irregularidade motivou a abertura de um processo judicial contra o ex-operador do quiosque para reintegração de posse. Os dois quiosques estão fechados pela concessionária até a conclusão da investigação. O cabo da PM se apresentou hoje na Delegacia de Homicídios após ser intimado no inquérito que investiga o crime.

"A concessionária explica que o contrato para operação do Biruta foi celebrado com Celso Carnaval, que, sem o consentimento da empresa, entregou a operação do quiosque a Alauir", informou a concessionária, por meio de nota.

A Orla Rio ainda informou ter notificado o ex-operador, identificado como Celso Carnaval, em razão dessa e de outras irregularidades, mas que, como ele não as sanou, rescindiu o contrato e entrou com uma ação judicial para reintegração de posse. O processo corre na Justiça desde julho de 2021.

A concessionária informou ter identificado no quiosque irregularidades como a não comprovação da regularização dos funcionários e desrespeito a normas sanitárias.

Em depoimentos à polícia obtidos pelo UOL, o PM e a irmã dele, Viviane Faria, são apontados por dois dos agressores de Moïse como donos do quiosque Biruta —onde o congolês trabalhava— e da Barraca do Juninho, estabelecimentos vizinhos ao quiosque Tropicália, onde o rapaz foi morto a pauladas.

Os funcionários não apontam qualquer indício de envolvimento do PM no crime.

Em conversa com o UOL, Viviane —que também se apresentou hoje para esclarecimentos à DH— afirmou que o estabelecimento está em nome de um tio idoso (ela preferiu contudo não revelar a identidade dele).

De acordo com a irmã do policial, Aluir aparece pouco no estabelecimento e é ela quem cuida de tudo. "Meu irmão nunca respondeu por nada, é uma pessoa íntegra, nunca respondeu por nada nem em briga", disse Viviane.

O UOL procurou Aluir e Viviane sobre a ocupação irregular apontada pela Orla Rio, mas ainda não obteve resposta. A reportagem não localizou Celso Carnaval, apontado pela Orla Rio como o ex-operador do quiosque.

De acordo com documentos internos da Polícia Militar, Aluir já esteve alocado no batalhão da área dos quiosques, o da Barra da Tijuca (31º BPM). Em agosto de 2021, foi transferido para o Batalhão de Irajá (41º BPM).

Dois meses depois, foi transferido para o Batalhão de Jacarepaguá (18º BPM), na zona oeste, onde está alocado até hoje. Em fevereiro, recebeu R$ 3.933,01 líquidos como concursado do estado do Rio.

Moïse trabalhava 'freelancer' para quiosque de PM

Viviane confirmou que Moïse apareceu no Biruta no final de semana antes de ser morto para "cardapear" [prática de oferecer o cardápio aos banhistas na praia], mas que ele não havia realizado vendas.

Segundo ela, todos os colaboradores trabalham de forma informal e não têm dias fixos de trabalho. Assim como os demais, o congolês trabalhava no esquema de pagamento por diárias.

Viviane contou mantinha uma boa relação com Moïse e que o congolês relatava dificuldades na vida pessoal. Segundo ela, ele andava abalado.

Ela ainda negou que estivesse no quiosque no momento das agressões. A responsável pelo Biruta disse que estava comprando bebida próximo ao local e relatou ter corrido ao ouvir os gritos durante a "confusão".

"É uma região que sempre tem problemas e confusão. Quando ouvi a gritaria, saí correndo. Depois fiquei sabendo pelo dono de outro quiosque o que tinha acontecido. Vim embora, pois os meninos sempre ficam por lá", afirmou.