PM convoca agentes em investigação sobre suposta ameaça a família de Moïse
A Polícia Militar quer ouvir três agentes em uma investigação interna que apura supostas ameaças à família de Moïse Kabagambe no dia 25 de janeiro, horas após a morte do rapaz no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
Documentos internos da corporação, obtidos pelo UOL, mostram que foram chamados a se apresentar o cabo Alauir de Mattos Faria, apontado como um dos responsáveis pelo Biruta, o cabo Leandro de Oliveira Rigaud e o soldado Cleiton Lamonica Senra. A Polícia Militar também solicitou à Polícia Civil cópias dos vídeos do quiosque Biruta.
Alauir foi apontado como dono do Biruta, onde trabalhavam dois dos homens presos pelo crime contra Moïse e o próprio congolês, de acordo com depoimentos.
Já Rigaud e Senra teriam agido "de forma suspeita" contra a família de Moïse quando os congoleses foram até o quiosque buscar explicações sobre a morte do rapaz. Foram eles também que atenderam a ocorrência na noite da morte, de acordo com o inquérito que investiga o caso.
Os dois policiais relataram à Delegacia de Homicídios que descobriram o episódio envolvendo as agressões e morte de Moïse quando estavam em um patrulhamento de rotina. A reportagem não localizou a defesa dos policiais.
Um áudio gravado pelos familiares e obtido pelo UOL revela um agente, que não foi identificado, orientando eventuais testemunhas a prestar esclarecimentos à Polícia Civil e não à família. A partir dessas denúncias, a investigação interna foi instaurada.
Apontado como dono de quiosque depôs à PM
O inquérito da Polícia Militar foi instaurado pela 2ª DPJM (Delegacia de Polícia Judiciaria Militar). O tenente-coronel Jorge Henrique Cardoso Batalha argumenta que precisa dos depoimentos e das imagens para seguir com as investigações.
Nos documentos internos, Batalha cita a obrigação da DPJM de investigar eventuais crimes cometidos por policiais militares, "quando praticados por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar".
De acordo com os trâmites internos, Alauir depôs à 2ª DPJM na última quinta-feira (3). Rigaud e Senra foram convocados a estar na unidade na sexta-feira (4), mas os documentos apontam que eles não foram apresentados na data estabelecida.
Além dos pedidos feitos aos batalhões dos policiais e à Polícia Civil, a 2ª DPJM solicitou à OAB-RJ o contato dos familiares de Moïse. O objetivo é colher "informações suficientes para elucidação dos fatos", diz o documento.
Quem é Alauir de Mattos Faria
Lennon Correia, advogado de Alauir, afirmou que seu cliente relata que Moïse era "muito tranquilo" e que "nunca arrumou confusão com ninguém". Em depoimentos à polícia, obtidos pelo UOL, o PM é apontado por dois dos agressores do congolês como dono do quiosque Biruta —onde Moïse trabalhava— e da Barraca do Juninho.
Dois dos três agressores trabalhavam nesses quiosques vizinhos ao Tropicália. Os funcionários não mencionam participação de Alauir no crime ou a presença dele no local na noite de 24 de janeiro.
Em seu depoimento, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca — um dos homens presos por envolvimento no crime — afirmou que Moïse trabalhava para o Biruta havia três semanas. O congolês trabalhava no esquema de pagamento por diárias e sem carteira assinada, logo quando deixou de ser funcionário do Tropicália.
Alauir já esteve alocado no batalhão da área dos quiosques, o da Barra da Tijuca (31º BPM). Em agosto de 2021, foi transferido para o Batalhão de Irajá (41º BPM).
Dois meses depois, em outubro, foi transferido para o Batalhão de Jacarepaguá (18º BPM), na zona oeste do Rio, onde está alocado até hoje. Em fevereiro, recebeu R$ 3,933.01 líquidos como concursado do estado do Rio.
Concessionária afirma que ocupação é irregular
A concessionária Orla Rio afirma que Alauir é um ocupante irregular do imóvel onde funciona o quiosque Biruta. A irregularidade motivou a abertura de um processo judicial contra o ex-operador do quiosque para reintegração de posse.
Os dois quiosques estão fechados pela concessionária até a conclusão da investigação.
"A concessionária explica que o contrato para operação do Biruta foi celebrado com Celso Carnaval, que, sem o consentimento da empresa, entregou a operação do quiosque a Alauir", informou a concessionária, por meio de nota.
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