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Justiça solta jovem negro preso enquanto comprava pão; 'alívio', diz irmã

Jovem negro foi preso enquanto comprava pão; delegado reconheceu "dúvida" - Vinícius Corrêa/Acervo familiar
Jovem negro foi preso enquanto comprava pão; delegado reconheceu 'dúvida' Imagem: Vinícius Corrêa/Acervo familiar

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

08/02/2022 15h23Atualizada em 09/02/2022 20h25

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu em audiência de custódia pela liberdade provisória de Yago Corrêa de Souza, 21, preso no último domingo, no Jacarezinho, Zona Norte da cidade, suspeito de envolvimento com o tráfico de drogas. O jovem tinha saído para comprar pão para um churrasco quando foi abordado por policiais militares.

O incidente gerou protestos da família, que comemorou a soltura. "É um alívio, estou muito feliz. Juntos [os moradores] conseguimos soltar meu irmão. Mas quantos como o Yago existem por aí? Ele é inocente, hoje a favela nasceu", disse Erica Corrêa, irmã de Yago, em entrevista ao UOL.

Hoje pela manhã, familiares e amigos realizaram um protesto na porta do presídio José Frederico Marques, em Benfica, para onde Yago foi levado.

Durante o andamento do caso, familiares, amigos e o próprio Yago Corrêa destacaram que o rapaz não conhecia o adolescente que foi preso com drogas e todos confirmaram a versão de que o jovem iria comprar o pão para fazer pães de alho para um churrasco.

O juiz Antônio Luiz da Fonseca Lucchese destacou no texto não haver provas suficientes contra o entregador.

"Diante das circunstâncias em que teria se dado a prisão, sem perder de vista que aqui há evidente necessidade de que os fatos sejam mais apurados, sobretudo diante da dinâmica dos fatos, certamente faz com que se esvaia qualquer substrato para se cogitar, neste momento, de prisão cautelar, ainda mais diante da manifestação a posteriori da autoridade policial", dizia um trecho da decisão.

"Foram dias de angústia, de dor. Negro tem que estar onde ele quiser. Não existe isso de lugar errado na hora errada. Nós lutamos pelos nossos direitos e fomos ouvidos. Agora quero deitar minha cabeça no travesseiro em paz", exaltou Erica.

Yago Corrêa chegou a ter contra si um pedido de conversão de prisão em flagrante para a preventiva pela equipe de plantão. Em uma nova análise, o delegado adjunto, no entanto, decidiu enviar um despacho à Justiça pedindo pela soltura do rapaz alegando "dúvida razoável".

Familiares tiveram acesso às imagens de câmeras de segurança da padaria e da farmácia onde o rapaz foi preso. Elas mostram Yago chegando na padaria e comprando pães. Em uma outra câmera, de uma farmácia que fica próxima ao estabelecimento, o jovem aparece correndo para os fundos. Logo em seguida surge um policial que o rende. O entregador chega a levantar os braços segurando o saco de pão.

"O próximo passo é mostrar que ele não faz parte do tráfico. Até o dia 10 de março, ele virá para assinar e esperamos que haja a absolvição. O que aconteceu foi racismo estrutural", disse Vivaldo Lúcio da Silva, advogado que representa Yago Corrêa.