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Ninão: Após amputação, homem mais alto do Brasil terá prótese especial

Joelison Fernandes, conhecido como "Ninão", tirou primeiras medidas para ganhar prótese - Joelison Fernandes/Arquivo Pessoal
Joelison Fernandes, conhecido como 'Ninão', tirou primeiras medidas para ganhar prótese Imagem: Joelison Fernandes/Arquivo Pessoal

Lorena Barros

Do UOL, em São Paulo

16/02/2022 04h00

Dois meses após ser submetido a uma cirurgia para amputação de uma das pernas por causa de uma infecção no osso, Joelison Fernandes da Silva, conhecido como "Ninão", considerado o homem mais alto do Brasil, agora aguarda a prótese que o permitirá voltar a andar. Na manhã de ontem, ele fez as primeiras medições para que o equipamento possa ser confeccionado de forma especial, para atender aos 2,37 metros do paraibano.

Ele viajou 100 quilômetros até a cidade de Campina Grande (PB) para fazer a consulta que deve mudar sua qualidade de vida. "Estou muito ansioso e muito feliz por realizar um sonho", diz em entrevista ao UOL.

Os custos de locomoção, assim como as despesas com a fabricação da prótese, estão sendo honrados com parcerias e com a ajuda de mais de 2,4 mil doadores que contribuíram com uma vaquinha virtual. Até o momento, mais de R$ 149 mil foram arrecadados.

Só tenho que agradecer a Deus e a todos que abraçaram essa causa e ajudaram o gigante.

Após receber a prótese, ainda sem previsão para ficar pronta, Ninão deve passar por uma série de sessões de fisioterapia para se adaptar ao equipamento. Ele começou o acompanhamento ainda em janeiro e lembra que a fé o ajudou a superar os obstáculos para se equilibrar e fazer avanços nas primeiras consultas após a amputação.

"Foram muitos dias difíceis, mas tenho um Deus que sempre está de mãos dadas comigo", disse.

O caminho até a mobilidade total dele pode ser lento, mas a esperança de voltar a ter sua independência faz com que ele trace planos para o futuro.

"Quero fazer muitas coisas, a que será meu maior sonho realizado é começar a trabalhar novamente com propagandas", diz.

O trabalho com propagandas do paraibano, que tem mais de 90 mil seguidores nas redes sociais, consiste em fazer pequenas aparições em lojas para chamar atenção de potenciais clientes.

'Prótese de teste' triplamente reforçada

"Nada semelhante apareceu aqui para ser confeccionado assim até hoje. É uma tarefa nova, uma coisa diferenciada", explica Jeová Moraes, proprietário e técnico da Ortotec Ortopedia, responsável por fabricar a prótese para Ninão, em conversa com o UOL.

A prótese será fabricada com fibra de carbono e aço inox. O pé será feito com ajuda de três camadas da fibra, o que oferece tripla resistência à prótese, superior à dupla resistência das fabricações "comuns".

O especialista conta que uma "pré-prótese" será fabricada para que os profissionais consigam entender como o equipamento vai se adequar ao corpo de Joelison. A análise desse material dará base para que uma prótese definitiva seja fabricada em sequência.

Normalmente, os processos de fabricação de uma prótese do tipo duram 15 dias, mas Ninão deve levar mais tempo para acessar o material, já que ele será fabricado de forma diferenciada.

"Não existe uma previsão, porque, pela estrutura de Ninão, a fisioterapeuta ainda vai ter que o colocar de pé e fazer um treinamento. Isso tudo vai ter uma demora maior do que a de um cliente de estatura normal", explica Moraes.

"Estou alegre porque na ortopedia nós aprendemos a cada dia. Esse caso de Ninão também é um aprendizado para mim", conta. As medidas de Ninão foram tiradas em Campina Grande, mas a prótese será feita na cidade de João Pessoa.

Relembre história de Ninão

Joelison Fernandes da Silva, 36, nasceu na pequena cidade de Assunção (PB) e foi reconhecido como o homem mais alto do Brasil duas vezes, com 2,37 metros.

Na adolescência, ele foi diagnosticado com gigantismo e recebeu indicação para se submeter a uma cirurgia. A intervenção seria para a retirada de tumores benignos na hipófise, glândula endócrina localizada na parte inferior do cérebro responsável por produzir o hormônio do crescimento.

Na ocasião, por ter medo da cirurgia, Joelison não aceitou passar pelo procedimento.

Crescendo cada vez mais nos seis anos seguintes, aos 21 anos ele procurou novamente o médico, que então o informou sobre uma cirurgia a laser. Desta vez, ele topou.

Ninão teve um diagnóstico de osteomielite no osso do pé em 2017, o que dificultou a sua locomoção por anos e fez com que ele precisasse amputar a perna no fim de 2021.

A osteomielite é uma infecção no osso causada por bactérias, micobactérias ou fungos, que podem se manifestar em qualquer osso do corpo e em qualquer fase da vida, sendo mais comum na infância e na velhice.

O tratamento pode ser feito com antibióticos e limpeza cirúrgica, mas, após exames feitos em 2020, foi descoberto que, no caso de Joelison, a amputação seria a melhor forma de evitar espalhar a infecção pelo resto do corpo.