Petrópolis: Morador em busca da esposa se desespera com alerta de chuva
Era por volta de 8h quando Marcelo Costa, 49, recebeu um aviso no telefone celular: a Defesa Civil prevê chuva forte para o final da tarde de hoje em Petrópolis. Costa entrou em desespero.
Dois dias após o temporal que deixou mais de cem mortos na cidade da região serrana do Rio, ele teme que uma possível nova tempestade impeça as buscas pela esposa, Simone Costa, no Morro da Oficina. Parte da encosta deslizou e soterrou ao menos 80 casas.
O último contato do casal se deu às 18h16 da terça-feira (15), dia da tragédia, também por meio de mensagem de celular. Costa estava no trabalho e Simone em casa, quando ela mandou um áudio no WhatsApp: "Amor, está chovendo muito, é muita água, estou com medo".
A resposta dele foi imediata, mas o telefone de Simone nem recebeu a mensagem. A partir desse horário, Marcelo busca sem trégua por notícias da mulher. O aviso das chuvas fez com que ele se desesperasse: "Vai ter que parar o serviço [de buscas] todo de novo", disse.
A reportagem do UOL acompanhou hoje as buscas na parte alta do Morro da Oficina, onde as famílias cavam a lama com enxadas em busca de parentes sem a ajuda de bombeiros.
A Defesa Civil de Petrópolis prevê chuva de moderada a forte a partir da tarde de hoje e recomenda que pessoas em áreas de risco deixem suas casas.
Apesar do risco, Marcelo continua por conta própria as buscas no alto do morro. Ele se uniu a outros vizinhos e voluntários para localizar o corpo de Simone e outras pessoas desaparecidas.
Por volta das 12h20, a sobrinha de Simone, criada como filha de consideração, chegou ao local chorando e gritando. "Simone, eu tô aqui, eu vim te buscar." Ela se juntou aos voluntários.
Sobrinhos sobrevivem após ver 'flocos de terra'
No alto do Morro da Oficina, a casa do irmão de Marcelo, Jucimar Costa, 52, resistiu. A imagem impressiona: a poucos metros, um mar de lama levou a casa dos vizinhos.
No dia da tragédia, os três filhos de Jucimar estavam em casa. Era aniversário de Lorena Costa, 23, a filha mais velha, e a mãe dela saiu para comprar um bolo. Nesse meio-tempo, os três filhos — além de Lorena, outros dois meninos de 13 e 17 anos— estranharam que "flocos de terra" estavam passando pela casa.
Eles saíram correndo, gritaram "tia Simone" a fim de alertá-la, e se embrenharam em uma escada no mato, que dá numa rua vizinha ao morro —o local não foi atingido pelo deslizamento.
Jucimar, que estava no estado do Espírito Santo, soube da chuva e se desesperou. Imediatamente, tentou falar com os filhos sem sucesso. Pegou a estrada e chegou a Petrópolis. Hoje pela manhã, chegou à casa onde viveu com os filhos por mais de duas décadas.
Jucimar recolheu documentos e fotos dos filhos. "Essa aqui é minha princesa", disse orgulhoso, exibindo um retrato da filha.
Após os trâmites legais de buscas da cunhada Simone, Jucimar não pretende voltar à casa. Apesar de estar de pé, a moradia está comprometida. "Poderia ter perdido meus filhos e perdi minha cunhada. Eu olho para a casa e só me lembro disso."
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