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Crianças e mãe estão entre vítimas de Petrópolis: 'Não vou suportar a dor'

Débora Lichtenberger Moreira com os filhos Gustavo, de 5, e Heloise, de 2 anos, estão entre os mortos em Petrópolis (RJ) - Reprdução do Facebook
Débora Lichtenberger Moreira com os filhos Gustavo, de 5, e Heloise, de 2 anos, estão entre os mortos em Petrópolis (RJ) Imagem: Reprdução do Facebook

Herculano Barreto Filho, Lola Ferreira e Marcela Lemos

Do UOL, em São Paulo, em Petrópolis e colaboração para o UOL, no Rio

17/02/2022 14h29

O perfil do Facebook de Débora Lichtenberger Moreira, 22, exibia a imagem dos filhos. Sentado em uma pedra perto de um gramado, Gustavo, 5, aparecia na foto abraçando e dando um beijo no rosto da irmã Heloise, de 2. "Meus anjinhos. Amo vocês eternamente", escreveu a mãe, ao lado da data de nascimento das crianças.

Os nomes de Débora, Gustavo e Heloise agora constam em uma lista de mortos na tragédia de Petrópolis, na região serrana do Rio — o total de vítimas já passa cem e ainda há desaparecidos. Ao lado das identificações, se lê: "[cova] rasa grátis", em alusão ao enterro, ocorrido às 15h30 de hoje no Cemitério Municipal de Petrópolis. Segundo a família, eles morreram enquanto tentavam se proteger do desabamento em um dos quartos da casa onde moravam. Contudo, o cômodo foi o único atingido pelos escombros.

"Eles estavam no quarto juntos e só o quarto caiu, justamente onde eles estavam que deslizou", disse Gerson Souza, cunhado de Débora.

Débora, que postou mensagens de luto pelas mortes dos pais entre novembro de 2019 e abril de 2020, agora motivou um desabafo da irmã Luana Medeiros, na madrugada de quarta-feira (16).

Dor horrível. Esse vazio vai ficar para sempre no meu coração, irmã. Amo tanto vocês. Eu não vou superar a falta de vocês e eu não vou suportar a dor dessa saudade. Meus sobrinhos... Como aceitar isso? Uma chuva veio e traz tanto sofrimento"
Luana Medeiros, irmã de Débora e tia de Gustavo e Heloise, vítimas de chuvas em Petrópolis

Nas redes sociais, Débora compartilhou com amigos e parentes a alegria de ser mãe ainda na adolescência. Ela só tinha 16 anos quando engravidou pela primeira vez, como revelou em uma foto da ecografia no dia 1º de janeiro de 2016.

Três meses depois, sorriu para uma selfie ao exibir a barriga que começava a crescer. O pequeno Gustavo, que nasceu no dia 29 de junho daquele ano, tinha apenas um mês quando apareceu em uma foto no colo da mãe.

Débora Lichtenberger Moreira com os filhos Gustavo, de 5, e Heloise, de 2 anos, estão entre as vítimas fatais da tragédia de Petrópolis (RJ) - Arquivo - Arquivo
Débora com os filhos Gustavo, 5, e Heloise, de 2 anos
Imagem: Arquivo

Em agosto de 2019, um mês antes do nascimento de Heloise, Débora publicou imagens do chá de bebê da criança. E, com apenas quatro dias de vida, a menina já aparecia em uma foto no colo do irmão, que sorria.

Em um dos últimos registros das crianças nas redes sociais, Débora postou uma foto de costas, de mãos dadas com as crianças, com a legenda: "Meu tudo" e um emoji de coração.

Locais afetados por temporal em Petrópolis - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Morro da Oficina concentrou vítimas em nova tragédia serrana - Google Earth - Google Earth
Imagem: Google Earth

Governo do RJ sanciona repasse de R$ 30 milhões

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), sancionou repasse de R$ 30 milhões do Fundo Especial da Alerj (Assembleia Legislativa) à prefeitura de Petrópolis para socorrer a cidade após fortes chuvas.

Além do repasse, também foi autorizada a prorrogação dos calendários de pagamento de IPVA e ICMS na cidade para o segundo semestre deste ano. As medidas foram publicadas na edição de hoje do Diário Oficial do Estado.

O Ministério da Defesa autorizou o envio das Forças Armadas para atuar em conjunto com a Defesa Civil na região. A liberação das Forças foi assinada pelo ministro substituto, o general de Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e foi publicada na edição de hoje do DOU (Diário Oficial da União).

Os riscos de deslizamentos de terra permanecem "muito altos" nesta quinta-feira (17). O Ministério da Ciência, Tecnologia e Informações divulgou, em nota, que os acumulados de precipitações nas últimas 24 horas e nas últimas semanas elevam o nível de umidade do solo, o que pode gerar desastres mesmo sem novas chuvas.

Moradores ajudam a cavar escombros

No bairro Alto da Serra, moradores auxiliavam bombeiros e agentes da Defesa Civil a cavar os escombros e procurar por parentes, conforme relatado pela reportagem do UOL. Há mais de 300 desabrigados e, até a noite desta quarta-feira (16), ao menos 24 pessoas haviam sido resgatadas com vida.

A Defesa Civil divulgou que o temporal foi o pior registrado em Petrópolis desde 1932, mesmo ano em que a medição começou a ser feita pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Num intervalo de três horas, choveu mais do que o esperado para todo o mês de fevereiro.