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De diplomata a capelão: Homem é preso suspeito de 'golpes do amor' em PE

 Lamartine Reis de Castro Uchôa Cavalcanti se relacionava com as vítimas por aplicativos de paquera e redes sociais - Reprodução/Redes Sociais
Lamartine Reis de Castro Uchôa Cavalcanti se relacionava com as vítimas por aplicativos de paquera e redes sociais Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Ed Rodrigues

Colaboração para o UOL, do Recife

04/03/2022 18h10

Um homem que se apresentava com diferentes nomes e profissões foi preso por aplicar golpes financeiros contra mulheres, no bairro Jardim Fragoso, em Olinda (PE). O suspeito, identificado como Lamartine Reis de Castro Uchôa Cavalcanti, se relacionava com as vítimas por aplicativos de paquera e redes sociais. Com documentos falsos, para convencer seus alvos com histórias fantasiosas, ele conseguiu ludibriar e até praticar furtos contra as mulheres.

De acordo com a Polícia Civil, na casa do suspeito foram encontrados diversos documentos falsos. Segundo a Polícia Civil, a investigação já identificou "mais de dez vítimas" do suspeito.

golpista - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
Na casa do suspeito foram encontrados diversos documentos falsos
Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Segundo o inquérito, Lamartine Reis se passou por assessor de uma juíza, por capelão, guarda municipal e diplomata. As várias identidades, aponta a polícia, tinha como objetivo dar credibilidade e impedir que vítimas desconfiassem de algo.

A estudante de direito Fernanda Nunes, 41, conheceu o suspeito em dezembro do ano passado por um aplicativo de paquera. Ao UOL, ela conta que ele se identificou como Júnior Reis, e disse ser da Guarda Municipal de Olinda.

Após ficar sabendo que Fernanda estudava para ser advogada, ele teria dado início a um plano para se aproximar. A conclusão dessa história foi um prejuízo de aproximadamente R$ 6 mil para a vítima, que ainda está sendo perseguida por agiotas.

"Ele me procurou pelo app. Começamos a conversar. Perguntou o que eu fazia e respondi que trabalho para mim e estudo direito. Ele ficou interessado no meu curso e disse: 'Adoro leis. Olha, faço parte de um partido em Olinda e pretendo sair candidato a vereador, mas não tenho conhecimento de políticas públicas'. E me pediu para repassar meu conhecimento para ele", contou.

As conversas continuaram por alguns dias até que a vítima, moradora de São Lourenço da Mata, Grande Recife, precisou viajar para ver os pais, no interior do estado.

"Ele botou carinha de triste. E começou a me procurar muito. Ficou ligando para mim e disse que queria conhecer Nazaré da Mata, terra dos meus pais. Foi bater lá. Chegou de terno e gravata e broche do Ministério Público. E disse que também trabalhava como segurança de uma juíza", continuou.

Na segunda visita, o homem contou que estava com a filha internada em um Hospital de São Paulo e que precisava de R$ 40 mil para pagar uma cirurgia.

Começou a ligar para uma pessoa e dizia que eram irmãs dele. No telefone, mandava essas pessoas venderem carros deles e imóveis para poder pagar. Um dia disse que iria se encontrar com essa irmã em São Lourenço da Mata e como estaria perto da minha casa, me perguntou se poderia tomar banho lá e pediu minha chave. Ele encontrou todo meu dinheiro que estava guardando para pagar a faculdade. Mais de R$ 6 mil que eu estava guardando em cofrinhos. Pegou e colocou pedras dentro.
Fernanda Nunes, estudante de direito

Fernanda descobriu que se travava de um golpista quando derrubou sem querer um de seus oitos cofrinhos e viu areia cair de dentro. Quando abriu os cofres, a surpresa: somente pedras.

"Ele estava na minha casa na hora. Perguntei se ele tinha mexido e ele me disse que havia pegado R$ 13. Abri os cofres e estavam todos com pedras. Ele tentou correr, mas tranquei o portão e chamei a polícia", relembrou.

Como não houve flagrante, porque Lamartine não estava com dinheiro algum com ele, a delegacia local o liberou e abriu uma investigação.

"Depois descobri que ele conseguiu minha chave pix. Pediu dinheiro a agiotas (R$ 3,8 mil) porque inventou que a filha havia morrido e precisava trazer o corpo para Pernambuco. Os agiotas colocaram o dinheiro na minha conta e ele transferiu para a dele. Isso tudo sem eu ver. E agora os agiotas estão me cobrando. Perdi o dinheiro da minha faculdade, nem sei como vou fazer para pagar e ainda tem esses agiotas me cobrando um dinheiro que não fui eu quem pegou", destacou.

Em coletiva à imprensa, o delegado Joel Venâncio contou que chegaram ao "golpista do amor" com informações recebidas da vítima.
"Através dessas informações, conseguimos localizar o endereço onde ele estava escondido. E tomamos conhecimento de que ele tinha vários documentos falsos para dar golpes. Ele cobrava dinheiro para realizar casamentos, angariava recursos para doações para uma filha que estaria doente. Ele tinha vários personagens", disse o investigador.

Ainda segundo o delegado, o suspeito não tem antecedentes criminais e a investigação continua, envolvendo relatos das demais vítimas. Por enquanto, ele foi indiciado pelo crime de uso de documentos falsos, passou por audiência de custódia e teve sua prisão preventiva expedida. Lamartine Reis se encontra no centro de triagem, onde vai aguardar o julgamento. Se condenado, ele pode ter que cumprir pena que varia de um a cinco anos de reclusão.

O UOL ainda não conseguiu localizar a defesa do suspeito. O espaço segue aberto para manifestação tão logo o contato seja estabelecido.