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Menina morre baleada em ação da polícia, e Porto de Galinhas tem protestos

Wagner Oliveira

Colaboração para o UOL, em Recife

01/04/2022 12h13Atualizada em 01/04/2022 17h58

Moradores, comerciantes e turistas do município de Ipojuca, no Grande Recife (PE), viveram um dia de protestos ontem. Revoltados com a morte da menina Heloísa Gabrielle, 6, durante uma ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, vários grupos realizaram manifestações ao longo do dia. O clima invadiu Porto de Galinhas, onde está localizada uma das praias mais visitadas por turistas, e novos atos devem ocorrer hoje.

No final da tarde da quarta-feira (30), Heloísa foi atingida por um tiro no peito quando brincava na frente de casa da avó, na comunidade Salinas, em Porto de Galinhas. Testemunhas, incluindo o pai dela, afirmam que a menina foi atingida por um tiro disparado por um policial militar. Moradores da comunidade relataram que os PMs entraram no local perseguindo um homem que estava numa moto e começaram a disparar na tentativa de fazer o suspeito parar. E que, nesse momento, a garota foi atingida.

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A criança foi socorrida e levada para um hospital local, mas não resistiu aos ferimentos e morreu logo após dar entrada na unidade de saúde.

Morte da menina Heloísa Gabrielle, de apenas 6 anos, gerou protestos em Porto de Galinhas - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Morte da menina Heloísa Gabrielle, de apenas 6 anos, gerou protestos em Porto de Galinhas
Imagem: Reprodução/Facebook

PMPE alega que foi alvo de disparos

Em entrevista à imprensa local, o coronel Alexandre Tavares, diretor integrado especializado da PMPE, afirmou que o policiamento na localidade tem sido intensificado devido ao crescimento da "atividade criminosa" nos municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca.

"Os militares que estavam na ocorrência só atiraram depois que tiros foram disparados contra eles. A viatura do Bope tem as marcas das balas. Só a perícia poderá dizer de onde partiu o disparo que atingiu a criança", disse o coronel.

Durante os protestos, os moradores de Porto de Galinhas afirmaram que não houve troca de tiros. Eles alegam que os militares chegaram na comunidade e teriam atirado sem que tivessem sido alvo de disparos.

A polícia diz que houve um confronto entre polícia e traficantes da localidade. "Esses policiais fazem o que querem aqui nas Salinas. Não somos bandidos, somos trabalhadores", reclamou um morador, que pediu para não ser identificado.

'Queria minha menina de volta'

Os pais da menina Heloísa esperam que os responsáveis pela morte da menina sejam presos e punidos. "Eu queria minha filha aqui de volta, minha menina. Só era ela que eu tinha. Eu quero justiça. Tenho fé em Deus que vai dar tudo certo", disse Gleice Anne Rodrigues, mãe de Heloísa.

Já o pai da criança falou sobre a ação da PM. "Eu nunca imaginei que os policiais pudessem chegar atirando aqui, que é uma praça onde tem muita criança brincando. Não teve tiroteio aqui, a polícia chegou atirando e correndo atrás de um cara que estava numa. Um dos tiros tirou a vida da minha filha", afirmou Wendel Fernandes.

Protestos

Os protestos contra a ação da PM tiveram início logo depois da confirmação da morte de Heloísa. Familiares, vizinhos e amigos da família fizeram cartazes e tomaram as principais ruas de Porto de Galinhas pedindo justiça.

O corpo da criança foi sepultado no final da tarde dessa quinta-feira. Após o enterro, uma série de novos protestos aconteceram.

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Morte da menina Heloísa Gabrielle, de apenas 6 anos, gerou protestos em Porto de Galinhas
Imagem: Reprodução/Whatsapp

As rodovias que dão acesso ao balneário foram interditadas. Metralhas e terra foram despejadas na pista por caminhões-caçamba para impedir a passagem de carros. Manifestantes tocaram fogo em pneus, carros, móveis velhos e incendiaram um ônibus.

Viaturas da Polícia Militar e helicópteros da Secretaria de Defesa Social (SDS) foram acionados para controlar a situação.

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Morte da menina Heloísa Gabrielle, de apenas 6 anos, gerou protestos em Porto de Galinhas
Imagem: Reprodução/Whatsapp

Atividades paralisadas

A localidade que vive de turismo e comércio foi obrigar a parar as atividades devido à onda de violência. Várias lojas, padarias, supermercados e outros estabelecimentos passaram o dia fechados. Muitos turistas não deixaram as pousadas e hotéis onde estão hospedados.

Moradores também estão evitando sair de casa temendo um confronto entre a polícia e manifestantes, e a população está com dificuldade para comprar alimentos.

Reforço na segurança

O governo do estado anunciou que cerca de 250 homens das polícias Militar e Civil seguiram para o litoral sul ainda na noite dessa quinta-feira. Foram mobilizados dois helicópteros e 70 viaturas.

O governador Paulo Câmara monitorou os protestos em Porto de Galinhas durante todo o dia, ao lado do secretário estadual de Defesa Social, Humberto Freire, e do comandante da PMPE, coronel Roberto Santana.

"Quero expressar minha solidariedade à família da menina Heloísa e assegurar que o caso será apurado com o máximo rigor. Estamos trabalhando de forma integrada com nossas forças operativas e reforçando o efetivo para restabelecer a tranquilidade no litoral sul", afirmou o governador.