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Vizinhos reclamam de choro de crianças especiais e dentista é multado no PR

Odontopediatra foi responsabilizado por barulho de pacientes, em geral, crianças com necessidades especiais - Arquivo pessoal
Odontopediatra foi responsabilizado por barulho de pacientes, em geral, crianças com necessidades especiais Imagem: Arquivo pessoal

Lorena Pelanda

Colaboração para o UOL, em Curitiba

08/04/2022 17h41Atualizada em 08/04/2022 22h24

O choro de pacientes especiais durante o atendimento odontológico foi o motivo de uma multa aplicada ao consultório do curitibano Edson Higa. Há mais de 30 anos, o odontopediatra é especialista em atender pessoas com necessidades especiais, em especial, crianças.

Há seis meses, o especialista se mudou para um prédio comercial que fica no bairro Centro Cívico, em Curitiba, e, desde então, as reclamações têm sido frequentes. Segundo ele, mais da metade dos pacientes são especiais, com paralisia cerebral, Síndrome de Down ou do espectro autista.

Na tarde de hoje, pais de pacientes e integrantes de ONGs estiveram em frente ao condomínio onde ele atende realizando protesto em defesa do profissional de saúde e contra as exigências da administração do local.

Recentemente, aumentou muito a procura por esse tipo de atendimento, já que não tem especialista que atenda. Eles choram e isso é normal. Fizeram [condomínio] uma pressão para silenciar minhas crianças. Uma vizinha de cima chegou a bater na minha janela enquanto atendia uma criança de dois meses em um processo cirúrgico. Fiquei muito assustado na hora.
Edson Higa, odontopediatra

A multa aplicada é de R$ 322, valor de um mês de condomínio. Segundo o profissional de saúde, a punição pode chegar a dez vezes o valor da infração.

"Durante atendimento é preciso toda uma preparação. As crianças precisam de empatia e de tempo para se acostumar ao ambiente. Tenho que contar uma história e sempre faço massagens nas costas e nos pés para se sentirem mais à vontade. Todo cuidado é necessário para fazer o atendimento. Já tentei colocar isolamento acústico nas janelas, mas elas precisam ficar abertas por causa da pandemia. Isso já foi avisado para eles", afirma o profissional de saúde.

As queixas não pararam por aí. No último sábado (02), a filha de Mirian Cabral, que tem paralisia cerebral, precisou ir até o consultório e utilizar a garagem do local para o desembarque. A pedido do odontopediatra, ela foi orientada a estacionar no local, mas acabou impedida. A indignação da situação foi relatada nas redes sociais.

"Eles não deixaram estacionar dentro da garagem. Qual a dificuldade de liberarem para usarmos o elevador? Era um sábado à tarde, não tinha movimento e não ia atrapalhar a vida de ninguém. Temos que brigar para ter mais respeito. Muito se fala em acolhimento, respeito e inclusão, mas ninguém está tentando incluir nada", desabafa Mirian.

O profissional de saúde encaminhou uma reclamação ao Ministério Público do Paraná pedindo a punição do condomínio e da síndica e vizinha, como pessoas físicas. Por enquanto, o órgão não se posicionou sobre o assunto.

"Eu não estou lutando pelo meu consultório. Estou lutando pelas minhas crianças. Elas não precisam ser sedadas, para não chorarem e luto para que possam ser atendidas por pessoas com capacitação", finaliza o odontopediatra.

A administração do Centro Comercial Cândido de Abreu foi procurada pelo UOL, mas funcionários alegaram que ninguém estava disponível para prestar esclarecimentos e não houve resposta até o momento. A vizinha citada não foi localizada pela reportagem.