Fotógrafo sofre ameaças após flagrar ônibus de Hang em local irregular
O fotógrafo Eduardo Matysiak, que registrou o ônibus do empresário Luciano Hang, dono da Havan, estacionado em local irregular em Curitiba, vem sendo alvo de ameaças e ataques em suas redes sociais.
Na última sexta-feira (8), Luciano Hang expôs o fotojornalista e o acusou de agir por motivação política. Segundo Eduardo, os xingamentos começaram logo em seguida à publicação do empresário.
Boa parte do assédio acontece de forma pública, em comentários nas fotos do Instagram de Eduardo. Alguns usuários comentaram ser apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado de Luciano Hang, e usaram hashtags como "#Bolsonaro2022".
Nas mensagens diretas, o fotógrafo recebe diversos tipos de xingamentos, muitos de cunho sexual, e algumas ameaças. "Assustado??? Hahahahhaha viu nada meu amigo, vai proclamar a mentira, vamos gastar milhões mas sua hora vai chegar", diz uma delas.
O fotógrafo disse ainda que o assédio se estendeu aos seus amigos e parentes e que uma das pessoas que o ataca tem feito ligações insistentes. Ele explicou que apagou ou ocultou alguns comentários muito negativos, mas garante que tirou print de todos.
Segundo Eduardo, as mensagens estão sendo compiladas por seus advogados que vão usar o conteúdo como prova para registrar boletim de ocorrência. O fotojornalista também pretende entrar com um processo contra Luciano Hang na esfera cível.
"Eu estou chocado, incrédulo, jamais imaginei isso. Eu fiquei mal, fiquei muito mal, temo ser agredido", disse. "Minha mãe entrou em pânico, ficou assustada também. É horrível", completou ao UOL.
Ataque à liberdade de imprensa
Na avaliação do fotógrafo, a ação não é apenas um ataque pessoal, mas um atentado contra o jornalismo. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) divulgou uma nota na qual também classifica o episódio como um ataque à liberdade de imprensa.
"Hang é uma das figuras públicas que agem de forma sistemática para intimidar jornalistas, promovendo assédio judicial contra profissionais e veículos, numa evidente tentativa de cercear o trabalho de informar a sociedade", diz o texto da associação.
Além da Abraji, as Arfoc (Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos) de São Paulo e do Paraná também se posicionaram em solidariedade a Eduardo, assim como políticos como a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-governador do Paraná Roberto Requião (PT).
O que diz Luciano Hang
Procurada pelo UOL, a assessoria do empresário Luciano Hang enviou um posicionamento no qual afirma que "em nenhum momento incitou qualquer tipo de ação".
"A ação de Hang foi uma resposta a Matysiak, que inicialmente expôs o empresário em suas redes sociais, após confrontá-lo em frente ao hotel em que ele e equipe estavam hospedados, questionando sobre uma suposta multa, a qual o empresário não tinha conhecimento. Até porque o ônibus Patriota não é de propriedade de Hang ou da Havan, e o local destinado ao estacionamento foi uma recomendação do hotel.", diz o texto.
A nota afirma ainda que os comentários nas redes sociais são fruto da liberdade de expressão: "Ele iniciou a exposição do fato e está colhendo as consequências. De qualquer modo, Hang enfatiza que se sente feliz por Matysiak tê-lo abordado tão cedo na porta do hotel, o que demonstrou que pelo menos uma vez na vida algum "esquerdista" soube o que é acordar cedo para trabalhar."
Entenda o caso
Na última quinta-feira (7), Eduardo Matysiak, fotojornalista da Futura Press, registrou um ônibus do empresário Luciano Hang estacionado em local proibido na Avenida Sete de Setembro, em Curitiba. O veículo foi multado por estacionamento irregular.
Na ocasião, Hang disse haver uma "máquina da multa de trânsito" na cidade e afirmou que os munícipes "trabalham apenas para pagar multas de trânsito". No dia seguinte, o empresário expôs o fotógrafo, acusando-o de querer fama às suas custas.
"Ele diminuiu meu trabalho dizendo que eu queria um minuto de fama, eu não comecei ontem. Eu lá vou ter tempo de perseguir ele? Eu estava fazendo meu trabalho", defendeu-se Eduardo, que já ganhou prêmios como fotógrafo. "O pior de tudo é que o errado era ele, que é patriota e estava fazendo uma contravenção naquele momento", completou.
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