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Caso Flordelis: Filho é absolvido de acusação de homicídio de pastor

Pastor Anderson do Carmo de Souza e a ex-deputada federal Flordelis - Reprodução/Facebook
Pastor Anderson do Carmo de Souza e a ex-deputada federal Flordelis Imagem: Reprodução/Facebook

Igor Mello e Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

13/04/2022 09h55Atualizada em 20/07/2022 12h20

Após mais de 21 horas de julgamento, o Tribunal de Júri de Niterói (RJ) decidiu absolver Carlos Ubiraci Francisco da Silva, filho adotivo da ex-deputada federal Flordelis, das acusações de homicídio triplamente qualificado e de tentativa de homicídio contra o pastor Anderson do Carmo, assassinado em junho de 2019.

Carlos Ubiraci e outros três réus foram condenados por uso de documento falso e associação criminosa armada por se envolveram na elaboração de uma falsa carta onde Lucas Cézar dos Santos, outro filho adotivo de Flordelis, assumiria toda a culpa pela morte de Anderson, então marido da política e pastora evangélica.

A absolvição de Carlos Ubiraci —que também é pastor evangélico— foi pedida pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), que entendeu não haver provas suficientes de seu envolvimento no assassinato de Anderson e na tentativa de envenená-lo. Por isso, a Promotoria de Justiça junto à 3ª Vara Criminal de Niterói informou que não pretende recorrer da decisão.

O MP-RJ afirmou que ainda vai avaliar se recorrerá pedindo um aumento da pena dos réus condenados hoje. "[A Promotoria] irá analisar a dosimetria das penas fixadas pela Juíza-Presidente e a eventual ocorrência de erros materiais, para então deliberar, no prazo legal, acerca de eventual recurso, que não dirá respeito à absolvição do réu Carlos Ubiraci quanto às imputações de homicídio, ocorridas a pedido do próprio Ministério Público", disse, em nota.

Flordelis, que é acusada de ser a mandante do assassinato a tiros do marido, será julgada em 9 de maio, ao lado de duas filhas e uma neta.

Veja as condenações de cada um dos réus:

  • Carlos Ibiraci - absolvido das acusações de homicídio triplamente qualificado e de tentativa de homicídio, foi condenado a 2 anos e 2 meses de prisão por associação criminosa;
  • Adriano dos Santos Rodrigues - Filho adotivo de Flordelis, foi condenado a 4 anos, 6 meses e 20 dias de prisão por associação criminosa e uso de documento falso;
  • Marcos Siqueira Costa - O ex-PM foi condenado a 5 anos e 20 dias de prisão por associação criminosa e uso de documento falso;
  • Andrea Santos Maia - Mulher de Siqueira, foi condenada a 4 anos e 3 meses e 10 dias de prisão por associação criminosa e uso de documento falso.

O advogado Carlos Melo, que defende Marcos Siqueira e Andrea Maia, afirmou que a defesa não deve recorrer das condenações. Ainda segundo ele, Andrea jé tem direito de cumprir pena em regime aberto, já que passou um período presa provisoriamente por conta de medidas cautelares pedidas durante a investigação.

André Luiz de Oliveira, outro filho adotivo de Flordelis, teve o julgamento adiado porque seu advogado passou mal ontem (13) e não pôde comparecer ao julgamento.

Filhos foram condenados em novembro

Em novembro, a Justiça condenou os primeiros envolvidos na morte de Anderson do Carmo. Os filhos da ex-deputada Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza foram julgados na ocasião.

Flávio, acusado de efetuar os disparos que mataram o pastor, foi condenado a 33 anos e dois meses de prisão por homicídio, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento falso e associação criminosa.

Já Lucas, acusado de ter comprado a arma usada no crime, foi condenado a sete anos e seis meses de prisão por homicídio.

Em agosto do ano passado, a política teve o mandato de deputada federal cassado por 437 votos a favor e apenas sete contrários, além de 12 abstenções.

Em depoimento na madrugada de hoje, o pastor Carlos Ubiraci acusou pela primeira Flordelis de matar Anderson. Ele negou envolvimento com o crime.

Ao falar sobre Flordelis, ele disse que "acredita, sim" que a ex-parlamentar teve participação direta no assassinato, segundo informações do jornal O Globo.

'Poder político' do pastor incomodava

Os delegados Bárbara Lomba e Allan Duarte —que conduziram as investigações da DHNSG (Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí) sobre a morte — prestaram depoimento no julgamento e responderam a questões sobre o inquérito policial.

Em sua fala, Barbara Lomba, que chefiou a primeira parte das investigações, afirmou que a vítima tinha grande poder político —o que, segundo ela, incomodava parte dos filhos de Flordelis.

A delegada afirmou que o pastor era "uma pessoa de ação", que tomava para si muitas responsabilidades. Em relação à atividade política de Flordelis, Barbara disse que "todo mundo" no meio sabia que ele era o responsável pelas articulações políticas.

"O grupo que ficou descontente com o que o Anderson estava representando queria deixar claro que tudo foi construído com a imagem da Flordelis. No meio político, havia pessoas que tratavam com ele, não com ela. Há uma decisão que a ação de Anderson precisava ser interrompida, e não podia ser pela separação", disse ela.

Ex-deputada federal Flordelis e pastor assassinado Anderson do Carmo - Reprodução - Reprodução
Ex-deputada federal Flordelis e pastor assassinado Anderson do Carmo
Imagem: Reprodução

O depoimento de Bárbara Lomba foi corroborado por outra testemunha. Luana Pimenta, mulher de Wagner Andrade Pimenta, o Misael, filho afetivo de Flordelis, disse que alguns dos filhos reclamavam do protagonismo de Anderson.

A nora de Flordelis relatou que havia um núcleo de filhos "preferidos", que não gostavam da grande influência de Anderson na carreira como cantora e no mandato de Flordelis na Câmara dos Deputados.

Luana disse que Simone dos Santos Rodrigues, uma das filhas biológicas, era uma das que mais reclamavam de Anderson. Flordelis, de acordo com a nora, fazia coro às reclamações.

"Eu perguntei: 'por que não separa?' Mas ela [Flordelis] dizia que a separação iria queimar a imagem da igreja, que seria um escândalo. Então ela falava que Deus iria levar ele, que até o final do ano ele iria morrer", afirmou Luana.

Plano de envenenamento descoberto após suco

Além de Luana, depuseram Misael e Alexander Felipe Matos Mendes, o Luan, dois filhos afetivos de Flordelis. Alexander, aliás, pediu que não fosse chamado de Luan no plenário —era prática comum de Flordelis mudar o nome de quem chegava à casa da família.

Ambos os filhos contaram que ficaram chocados na ocasião da morte do pastor.

As filhas de Carlos Ubiraci também prestaram depoimento: Roberta (filha afetiva) e Raquel (filha biológica), além de uma outra filha afetiva, menor de idade.

Ubiraci foi absolvido da acusação de tentativa envenenamento. As três mulheres afirmaram que só souberam de uma tentativa de envenenamento quando a mãe delas, mulher de Ubiraci, bebeu um suco da geladeira de Flordelis na igreja e passou mal a ponto de ir a um hospital.

Raquel afirmou que, ao saber que a nora tinha ido ao hospital, Flordelis reclamou. A ex-deputada federal teria dito que deveria ter sido procurada pela família para que ela pudesse "reverter".

Todas contaram que uma outra neta biológica de Flordelis tomou uma bebida láctea da mesma geladeira e também passou mal. Durante o depoimento, a mãe das jovens estava no plenário e confirmou, afirmando com a cabeça, a versão da filha.

Ex-PM participou de maior chacina do Rio

Não é a primeira vez que o nome de Marcos Siqueira Costa, ex-PM condenado hoje, é envolvido em homicídios. Ainda quando estava na PM, ele participou da Chacina da Baixada, a maior já praticada no estado, em 2005.

Marcos dirigiu o carro usado por outros quatro policiais para matar 29 pessoas pelas ruas de Nova Iguaçu e Queimados em menos de duas horas. Pela participação no crime, ele foi condenado a 480 anos e seis meses de prisão, por homicídio, tentativa de homicídio e formação de quadrilha.