Gabriel Monteiro: 22 vídeos sumiram do YouTube após início de mandato
Ao menos 22 vídeos foram retirados do ar no canal do vereador Gabriel Monteiro (PL) no YouTube desde que ele assumiu o mandato na Câmara do Rio, em janeiro do ano passado.
Monteiro é alvo de um processo no Legislativo carioca que pode culminar na cassação dele e tem como um dos focos vídeos produzidos por ele com fortes indícios de fraude e manipulação.
O levantamento sobre os vídeos apagados no canal de Monteiro —que hoje soma 6,28 milhões de inscritos e 1 bilhão de visualizações— foi confirmado pelo UOL a partir de dados cedidos por uma fonte que pediu que sua identidade fosse preservada.
A reportagem procurou a defesa do vereador, mas ela não se manifestou sobre os vídeos apagados e as suspeitas de manipulação. Também alvo de denúncias por violência sexual, Gabriel Monteiro vem negando a prática de crimes e se diz vítima de um complô de ex-assessores.
Dois vídeos violaram políticas do YouTube
Entre as publicações que sumiram, duas aparecem com mensagens informando que foram retiradas do ar pelo próprio YouTube.
Uma delas, com o título "Detive homens [sic] que tentaram roubar uma mãe, tentaram fugir! - Experimento social", foi apagada por violar a "política sobre assédio e bullying da plataforma". O vídeo saiu do ar na semana passada em meio à onda de denúncias contra Monteiro.
O outro vídeo —"Queria me bater, mas fez outra coisa! Efeito surpresa!"— foi apagado em julho passado por "violar os termos de serviço do YouTube".
"Todos os conteúdos precisam seguir as Diretrizes de Comunidade, e contamos com uma combinação de sistemas inteligentes, revisores humanos e denúncias de usuários para identificar material suspeito e agimos rapidamente sobre aqueles que estão em desacordo com nossas políticas assim que são localizados", afirmou o YouTube, por meio de nota.
Justiça ordenou retirada de 4 vídeos
Ao menos quatro dos 20 vídeos restantes saíram do ar após decisão da Justiça.
Não é possível saber exatamente os motivos que levaram os outros 16 vídeos a serem apagados desde o início do mandato de Monteiro.
Em 27 de março, o vídeo intitulado "Pai troca filha por bebida, achei vendendo bala! Me emocionei como nunca!" foi retirado do ar após a TV Globo mostrar que Monteiro induziu as falas de uma criança. O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) investiga possível violação ao direito da menina.
Em julho passado, a juíza Katia Bugarim, da 42ª Vara Cível do Rio, determinou que fossem retiradas do YouTube imagens que mostram um advogado apontando um rapaz negro como o suposto autor de um assalto inexistente após ser abordado pela equipe de Gabriel Monteiro.
O advogado, que foi exposto como racista, alegou que, mesmo não tendo presenciado nenhum roubo —na verdade, tudo era uma simulação—, foi insistentemente coagido pelo vereador a apontar o rapaz negro como o autor.
Até ser retirado do ar, o vídeo, com o título "Mandaram eu prender um negro inocente! Chocante!" teve mais de 500 mil visualizações.
A juíza concedeu liminar determinando que a publicação fosse apagada por considerar que houve "má-fé em provocar situação delicada, polêmica, com provável repercussão negativa".
O processo ainda não foi concluído, já que o advogado também pede uma indenização por danos morais e materiais no valor de R$ 65 mil. Procurado pelo UOL, ele preferiu não se manifestar.
O advogado alega no processo que o uso indevido de sua imagem trouxe lucro ao vereador, uma vez que há monetização de seu canal por meio de publicidade.
A defesa do vereador afirma que não houve intimidação no vídeo e que a participação do advogado se deu de "maneira descontraída e improvisada".
A defesa de Monteiro disse ainda no processo que o canal "claramente não tem fim comercial, pois não há oferta de produto ou serviço próprios, sequer a publicidade de produtos ou serviços de terceiros".
"Sua atividade midiática tem como intenção a difusão de informações, ideias, posições políticas, por vezes de forma objetiva e de interesse público, por vezes com o intuito de descontração, não seria cabível equiparar tal atividade com a de se querer usar a imagem de alguém para promoção comercial", completou.
Segundo o jornal O Globo, um dos assessores de Monteiro disse à polícia que o faturamento mensal com os vídeos chega a R$ 300 mil somente no YouTube.
Nesta terça (12), a Câmara do Rio aprovou, em primeira discussão, um projeto de lei que pretende proibir a monetização de vídeos de vereadores em redes sociais.
Reportagem do UOL mostrou que sete assessores e ex-assessores de Monteiro que participaram da produção dos vídeos receberam ao menos R$ 871 mil em salários do Legislativo carioca. Três deles admitiram que faziam esse serviço em horário de expediente.
Indenização de R$ 40 mil
Outros três vídeos retirados do ar após ordem da Justiça envolvem o comandante do Batalhão de Copacabana da Polícia Militar, Luciano de Vasconcelos.
Ele alega que foi acusado, de forma difamatória e caluniosa, por Gabriel Monteiro de ser um policial corrupto e de ter "envolvimento com a máfia da contravenção penal" durante fiscalização pelo vereador de um bingo clandestino no bairro.
A defesa de Monteiro afirmou, no processo judicial, que "não houve qualquer ataque ao autor [Luciano], mas sim críticas à atuação da polícia, uma vez que um dos locais onde ocorriam as atividades criminosas se encontrava a cerca de 280 m do batalhão".
Em primeira instância, o 5º Juizado Especial Cível não só ordenou que os vídeos saíssem do ar, como que o comandante do batalhão fosse indenizado em R$ 40 mil por danos morais. Ainda cabe recurso à sentença.
Veja mais: Segundo a colunista Cris Guterres, naturalizamos o caso Gabriel Monteiro quando cantamos 'a novinha é especialista', diz colunista
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