Homicídio culposo: Mulher morta após lipo teve gordura aspirada em excesso
Lidiane Aparecida Fernandes, morta por complicações de uma cirurgia de lipoaspiração em Belo Horizonte, teve mais gordura retirada do seu corpo do que o valor máximo estipulado pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).
Com essa informação, obtida por laudo pericial, a polícia reforça a tese de que o médico responsável pela cirurgia, Lucas Mendes, cometeu homicídio culposo por agir com "imperícia e com a inobservância de uma regra de técnica da profissão médica".
De acordo com os laudos, o procedimento cirúrgico tirou 10,02% do peso corpóreo da vítima em gordura, quando a proporção máxima estipulada pelo CFM em uma resolução de 2003 é de até 7%.
"O médico legista afirma no seu laudo que houve a lipoaspiração de 9.320 ml gordura das áreas do abdome, flancos, dorso lombar, face interna da coxa, axila e tórax. O que por si só já gera estranheza, porque são muitas áreas", afirmou em coletiva de imprensa a delegada Lígia Mantovani.
Segundo ela, além da retirada acima do esperado de gordura, laudos técnicos mostraram que exames laboratoriais da vítima estavam alterados, com a quantidade de hemoglobina três vezes maior do que o valor de referência. "Com todas essas causas, somadas aos 18 depoimentos colhidos na unidade policial, concluiu-se que houve um homicídio culposo por parte do médico", afirmou a delegada.
O corpo de Lidiane chegou a ser enterrado dias após a morte dela, mas a polícia pediu que a vítima fosse exumada para realização de exames. Agora, outra investigação está em curso para apurar se houve negligência médica no pós-operatório da paciente.
Uma das 18 pessoas ouvidas pela polícia foi o médico responsável pela cirurgia. Segundo a delegada, ele nega qualquer problema durante o procedimento. "Ele nos conta que naquele momento tudo ocorreu de maneira normal e que essa vítima começou a apresentar uma reação depois, quando ela já estava na sala de recuperação", afirmou.
O UOL entrou em contato com o médico Lucas Mendes em busca de um posicionamento sobre a retirada de peso acima do limite e aguarda retorno sobre o assunto. Na época da morte de Lidiane, ele divulgou nota à imprensa lamentando o fato e informando que "nenhum médico acorda de manhã para trabalhar com o objetivo de causar mal ao seu paciente".
Relembre o caso
Lidiane Aparecida Fernandes Oliveira, 39, morreu na madrugada de 7 de dezembro de 2021 após duas cirurgias plásticas realizadas no Instituto Mineiro de Obesidade, com sede no bairro de Lourdes, região considerada nobre em Belo Horizonte.
As cirurgias de abdominoplastia e lipoaspiração, segundo o relato do marido de Lidiane no Boletim de Ocorrência na Polícia Militar, custaram R$ 20,5 mil, sendo R$ 5 mil de entrada e o restante no dia dos procedimentos. As cirurgias plásticas começaram às 8h30 da manhã e terminaram por volta das 13h de segunda-feira (6).
Já no quarto, ela se queixou para sua irmã muitas dores e falta de ar. Em determinado momento, com piora na dificuldade de respirar, acionou o botão de emergência e sua irmã saiu do quarto para pedir socorro. Ao voltar, Lidiane estava desacordada.
Os profissionais da clínica tentaram reanimá-la e acionaram o Samu, que entubou Lidiane e encaminhou para o Hospital Vera Cruz, onde o óbito foi constatado, de acordo com o boletim de ocorrência.
Na ocasião, a causa da morte foi constatada como embolia pulmonar. Após exumação do corpo, o laudo de óbito passou a apontar como causa da morte: choque cardiogênico, insuficiência respiratória e tromboembolismo pulmonar.
Segundo a Polícia Militar, o médico que realizou o procedimento informou que não houve complicações na cirurgia e encaminhou Lidiane para o quarto sob os cuidados do Instituto Mineiro de Obesidade, que possui apenas suporte básico.
Ele informou ainda que não é médico da clínica e apenas usa a estrutura para atender os pacientes, ressaltando que o local não possui Centro de Terapia Intensiva. Por esse motivo, Lidiane chegou a ser transferida para um hospital.
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