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Homicídio culposo: Mulher morta após lipo teve gordura aspirada em excesso

Lidiane teve embolia pulmonar após cirurgias plásticas em Belo Horizonte - Reprodução/Facebook
Lidiane teve embolia pulmonar após cirurgias plásticas em Belo Horizonte Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

28/04/2022 22h18Atualizada em 29/04/2022 07h47

Lidiane Aparecida Fernandes, morta por complicações de uma cirurgia de lipoaspiração em Belo Horizonte, teve mais gordura retirada do seu corpo do que o valor máximo estipulado pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).

Com essa informação, obtida por laudo pericial, a polícia reforça a tese de que o médico responsável pela cirurgia, Lucas Mendes, cometeu homicídio culposo por agir com "imperícia e com a inobservância de uma regra de técnica da profissão médica".

De acordo com os laudos, o procedimento cirúrgico tirou 10,02% do peso corpóreo da vítima em gordura, quando a proporção máxima estipulada pelo CFM em uma resolução de 2003 é de até 7%.

"O médico legista afirma no seu laudo que houve a lipoaspiração de 9.320 ml gordura das áreas do abdome, flancos, dorso lombar, face interna da coxa, axila e tórax. O que por si só já gera estranheza, porque são muitas áreas", afirmou em coletiva de imprensa a delegada Lígia Mantovani.

Segundo ela, além da retirada acima do esperado de gordura, laudos técnicos mostraram que exames laboratoriais da vítima estavam alterados, com a quantidade de hemoglobina três vezes maior do que o valor de referência. "Com todas essas causas, somadas aos 18 depoimentos colhidos na unidade policial, concluiu-se que houve um homicídio culposo por parte do médico", afirmou a delegada.

O corpo de Lidiane chegou a ser enterrado dias após a morte dela, mas a polícia pediu que a vítima fosse exumada para realização de exames. Agora, outra investigação está em curso para apurar se houve negligência médica no pós-operatório da paciente.

Uma das 18 pessoas ouvidas pela polícia foi o médico responsável pela cirurgia. Segundo a delegada, ele nega qualquer problema durante o procedimento. "Ele nos conta que naquele momento tudo ocorreu de maneira normal e que essa vítima começou a apresentar uma reação depois, quando ela já estava na sala de recuperação", afirmou.

O UOL entrou em contato com o médico Lucas Mendes em busca de um posicionamento sobre a retirada de peso acima do limite e aguarda retorno sobre o assunto. Na época da morte de Lidiane, ele divulgou nota à imprensa lamentando o fato e informando que "nenhum médico acorda de manhã para trabalhar com o objetivo de causar mal ao seu paciente".

Relembre o caso

Lidiane Aparecida Fernandes Oliveira, 39, morreu na madrugada de 7 de dezembro de 2021 após duas cirurgias plásticas realizadas no Instituto Mineiro de Obesidade, com sede no bairro de Lourdes, região considerada nobre em Belo Horizonte.

As cirurgias de abdominoplastia e lipoaspiração, segundo o relato do marido de Lidiane no Boletim de Ocorrência na Polícia Militar, custaram R$ 20,5 mil, sendo R$ 5 mil de entrada e o restante no dia dos procedimentos. As cirurgias plásticas começaram às 8h30 da manhã e terminaram por volta das 13h de segunda-feira (6).

Já no quarto, ela se queixou para sua irmã muitas dores e falta de ar. Em determinado momento, com piora na dificuldade de respirar, acionou o botão de emergência e sua irmã saiu do quarto para pedir socorro. Ao voltar, Lidiane estava desacordada.

Os profissionais da clínica tentaram reanimá-la e acionaram o Samu, que entubou Lidiane e encaminhou para o Hospital Vera Cruz, onde o óbito foi constatado, de acordo com o boletim de ocorrência.

Na ocasião, a causa da morte foi constatada como embolia pulmonar. Após exumação do corpo, o laudo de óbito passou a apontar como causa da morte: choque cardiogênico, insuficiência respiratória e tromboembolismo pulmonar.

Segundo a Polícia Militar, o médico que realizou o procedimento informou que não houve complicações na cirurgia e encaminhou Lidiane para o quarto sob os cuidados do Instituto Mineiro de Obesidade, que possui apenas suporte básico.

Ele informou ainda que não é médico da clínica e apenas usa a estrutura para atender os pacientes, ressaltando que o local não possui Centro de Terapia Intensiva. Por esse motivo, Lidiane chegou a ser transferida para um hospital.