Delegada que tinha R$ 1,8 milhão em casa é presa no Rio de Janeiro
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decretou na tarde de hoje a prisão preventiva (por período indeterminado) da delegada licenciada da Polícia Civil Adriana Belém.
Mais cedo, ela foi alvo de mandado de busca e teve apreendido em sua casa, em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, cerca de R$ 1,8 milhão em espécie —o dinheiro estava em sacolas e em uma mala, segundo informou o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro).
Para os promotores de Justiça, "o valor encontrado na residência de Belém é um forte indício de lavagem de dinheiro. Até o momento, foram contabilizados aproximadamente R$ 1,8 milhões apreendidos".
"O gigantesco valor em espécie arrecadado na posse da acusada, que é Delegada de Polícia do Estado do Rio de Janeiro, aliado aos gravíssimos fatos ventilados na presente ação penal, têm-se sérios e sólidos indicativos de que a ré apresenta um grau exacerbado de comprometimento com a organização criminosa e/ou com a prática de atividade corruptiva (capaz de gerar vantagens que correspondem a cifras milionárias)", afirmou o juiz auxiliar Bruno Monteiro Ruliere, da 1ª Vara Especializada, no despacho em que decreta a prisão de Adriana.
Adriana Belém será representada pelas advogadas Luciana Pires, que também defende o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso da rachadinha, e Sandra Almeida. Elas relataram à colunista Juliana Dal Piva que a origem do dinheiro será esclarecida nos autos e que não há necessidade da prisão. Por isso, as defensoras vão entrar com um pedido de habeas corpus.
A Operação Calígula foi deflagrada hoje contra uma rede de jogos de azar comandada pelo contraventor Rogério de Andrade (foragido da Justiça) e que tem como integrante o ex-policial militar Ronnie Lessa, réu pela morte da vereadora Marielle Franco, e o motorista Anderson Gomes, em 2018.
A delegada licenciada será levada para a Corregedoria da Polícia Civil. A prisão foi deferida pela Vara Especializada do Tribunal de Justiça.
Até o momento, 12 pessoas foram presas na operação, incluindo Adriana. A operação cumpre 29 mandados de prisão e 119 de busca e apreensão, mirando um total de 30 pessoas pelos supostos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O delegado Marcos Cipriano, suspeito de participação no esquema, e de colocar a delegada em contato com Ronnie Lessa também foi preso.
Segundo a Polícia Civil, os dois delegados (Adriana e Cipriano) não têm atualmente cargos na Polícia Civil. "Eles estão afastados e lotados em outros órgãos. A Corregedoria-Geral da instituição solicitará acesso às investigações para dar andamento aos processos administrativos necessários", informou a instituição por meio de nota.
Adriana ocupa um cargo de assessora na Secretaria Municipal de Esportes do Rio de Janeiro, com salário bruto de R$ 10 mil. A prefeitura informou que ela será exonerada ainda hoje.
Apesar de estar licenciada, a delegada continua ganhando salário também do estado do Rio. Segundo o portal da transparência do governo, foram R$ 27.248 líquidos no mês de abril.
MP: Delegada se encontrou com Ronnie Lessa
Segundo o MP, a organização estabeleceu acertos de corrupção estáveis com agentes públicos ligados à segurança pública, como integrantes da Polícia Civil e da PM do RJ.
Em um desses episódios, o MP afirma que o delegado Marcos Cipriano intermediou encontro entre Ronnie Lessa, Adriana Belém, então delegada de polícia titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), e o inspetor de Polícia Jorge Luiz Camillo Alves, braço direito de Adriana.
Segundo o MP, o encontro culminou em acordo que viabilizou a retirada em caminhões de quase 80 máquinas caça-níquel apreendidas em uma casa de apostas da organização criminosa, tendo o pagamento da propina providenciado por Rogério de Andrade.
Reportagem do UOL revelou, em 25 de setembro de 2020, detalhes dessa investigação —que hoje culminou na prisão dos delegados. Na ocasião, foram publicadas conversas por aplicativo de mensagens entre Lessa e Cipriano,
Adriana Belém e Cipriano confirmaram o encontro à reportagem, mas deram relatos conflitantes. Ela contou que o delegado acompanhou Lessa na ocasião; ele disse que não esteve no Concha Doce naquele dia.
"Não participei deste encontro e nem de qualquer outro. Há um tempo Lessa me procurou porque tinha sido vítima de uma tentativa de roubo em que foi baleado. Queria saber da investigação na 16ª DP. Na ocasião, [ele] falou unicamente do roubo ", disse Cipriano ao UOL em setembro de 2020.
Amiga de Adriano Imperador
Adriana Belém é uma figura conhecida no Rio de Janeiro por sua presença nas redes sociais, o gosto por roupas de grife e a amizade com o ex-jogador Adriano Imperador, que a considera uma segunda mãe.
No Instagram, ela acumula 156 mil seguidores e exibe uma rotina de festas, eventos sociais e viagens. Sobram fotos com roupas de grife e joias, assim como registros ao lado do ex-jogador.
"Domingo feliz!!!!! Fechamento puroooooo!!! Te amo", escreveu ela em uma das fotos com Adriano.
A delegada comandou a 16ª DP (Barra da Tijuca) por vários anos e foi responsável por iniciar as investigações sobre o desabamento de dois prédios construídos pela milícia na comunidade da Muzema, no Itanhangá, também na zona oeste da capital.
Ela entregou o cargo em janeiro de 2020, em meio ao caso, depois de seu chefe de investigação —o inspetor Luiz Camillo Alves— se tornar um dos alvos da Operação Intocáveis II, que prendeu diversos integrantes da milícia que comanda as favelas do Rio das Pedras e da Muzema.
No mesmo ano, Adriana se licenciou do cargo de delegada para concorrer a uma vaga de vereadora no Rio pelo PSC, com o apoio de Adriano, mas não foi eleita. Na ocasião, ela declarou um patrimônio de R$ 1,8 milhão à Justiça Eleitoral, incluindo R$ 180 mil em espécie.
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