'Prisão desnecessária', diz advogado de madrasta suspeita de envenenamento

O advogado Carlos Augusto dos Santos, que defende Cintia Mariano Dias Cabral, 49, suspeita de envenenar dois enteados na zona norte do Rio de Janeiro, avaliou a prisão da mulher como "precipitada e desnecessária".

Cintia foi presa na última sexta-feira (20) e teve a prisão temporária de 30 dias confirmada pela Justiça, após o enteado dela, Bruno, 16, passar mal depois de um jantar na casa do pai, no qual teria encontrado "pedrinhas azuis" no feijão. Dois meses antes, a irmã do jovem morreu com os mesmos sintomas apresentados pelo jovem - o que fez a mãe deles, Jane Carvalho Cabral, procurar a polícia.

Relacionadas

'Sabe como matar': jovem envenenado tinha pé atrás com madrasta, diz mãe

O que se sabe sobre o caso da madrasta suspeita de envenenar enteados no RJ

Revolta e culpa por me envolver com um monstro, diz pai de envenenados

"A prisão é uma decisão extremamente precipitada e desnecessária, pois a Cintia compareceu espontaneamente em sede policial. Nos dois primeiros depoimentos, ela negou ter confessado o crime ao filho e negou a conduta. Na terceira vez, na presença da defesa, permaneceu calada. Além disso, o feijão arrecadado pela polícia (na casa da família) foi submetido a perícia e deu negativo para substância tóxica, ou seja, sem chumbinho", disse Carlos Augusto, advogado da suspeita, em entrevista ao UOL.

A reportagem teve acesso ao laudo da perícia que confirma o resultado negativo para substância tóxica. "Não foram encontradas substâncias de natureza tóxica nos materiais analisados pelos métodos e padrões disponíveis", diz trecho do documento.

Na residência de Cintia, agentes da 33ª DP (Delegacia de Realengo) encontraram um frasco de chumbinho - veneno para ratos. Além disso, os filhos biológicos de Cintia confirmaram em depoimento que ela confessou ter colocado veneno na comida dos enteados. Cintia nega o crime.

A defesa de Cintia negou ainda que a polícia tenha encontrado chumbinho na residência. Segundo o advogado, foi recolhido "butox" - um carrapaticida avaliado como necessário devido a presença de quatro cachorros no imóvel.

Carlos Augusto disse ainda que a confirmação de que o rapaz ingeriu substância tóxica ainda não consta nos laudos disponíveis para a defesa.

A madrasta é investigada pelo homicídio de Fernanda e tentativa de homicídio contra Bruno. A Polícia Civil vai pedir a exumação do corpo da jovem, que morreu em março deste ano. Além disso, segundo a Polícia Civil, também foram abertos procedimentos para apurar se ela é a responsável pela morte de um ex-marido e de uma vizinha.

"Pague em dobro tudo que fez", diz mãe de jovens

A mãe de Fernanda e Bruno, Jane Carvalho Cabral, iniciou uma campanha nas redes sociais para buscar justiça pelos supostos crimes cometidos contra eles.

Em um longo vídeo de desabafo postado em seu perfil no Instagram, ela criticou Cíntia: "Isso não se chama de ser humano, isso se chama monstro", disse. "Eu quero que essa pessoa pague em dobro tudo que ela fez com a minha família, com meus filhos."

Ela ainda destacou a semelhança nos sintomas apresentados pelos dois filhos. Segundo ela, foi esse fato que a fez acreditar na possibilidade de um envenenamento.

"Tanto a Fernanda quanto o Bruno tiveram uma mesma coincidência, após uma refeição na casa do pai passar mal, com o mesmo sintoma. Meu filho veio para provar, para derrubar essa máscara e fazer justiça para ele e para a irmã dele", relatou.

O pai dos jovens, Adeilson Cabral, afirmou em entrevista ao jornal O Globo que se sente revoltado e culpado por ter se envolvido com Cíntia, embora a comida tenha sido servida em sua casa.

"Fico com um sentimento de revolta e culpa por me envolver com um monstro. Mas eu não tinha bola de cristal. Até briguei com Deus, perguntei à Ele por quê tirou a minha filha. Mas não foi Deus. Foi quem estava do meu lado. Infelizmente eu não sabia", afirma Adeilson.

Adeilson disse que não havia percebido nenhum sinal de que Cíntia poderia fazer isso com os filhos. Quando Fernanda ficou internada, ele afirmou que Cíntia prestou suporte à família e se comportou como uma atriz. "Ela ajudou o tempo todo. Todos os dias ela me via orando no quarto, de joelho, pedindo pela minha filha", afirma Adeilson.

Hoje o pai dos jovens diz que precisa tomar remédios para conseguir se acalmar.

Discurso nas redes sociais

Nas redes sociais, Cíntia procurava manter uma imagem de religiosa e fazia apelos constantes pela recuperação da enteada. Em seu perfil no TikTok, a madrasta postou uma série de vídeos com fotos de Fernanda e músicas gospel para desejar uma recuperação rápida da jovem, segundo a Polícia Civil.

No Instagram, a descrição de seu perfil é um versículo bíblico: "Que diremos, pois, diante dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?".