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Após chacina no Rio, Fachin procura MP e se diz preocupado com letalidade

O ministro Edson Fachin, presidente do TSE, durante palestra no tribunal - Abdias Pinheiro/Secom/TSE
O ministro Edson Fachin, presidente do TSE, durante palestra no tribunal Imagem: Abdias Pinheiro/Secom/TSE

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

25/05/2022 13h04Atualizada em 27/05/2022 22h05

O ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), procurou o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) após a chacina que deixou pelo menos 25 mortos na Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio, ontem (24).

Fachin se mostrou preocupado com a letalidade e disse que "tem confiança" que o plano de redução das mortes em comunidades do Rio seja colocado em prática. A chacina de terça-feira já está entre as mais letais da história do Rio. Duas das três operações com mais mortes ocorreram em apenas um ano de gestão do governador Cláudio Castro (PL) —outra ação na favela do Jacarezinho, em maio de 2021, deixou 28 óbitos.

Segundo o STF, Fachin conversou hoje com o procurador de Justiça do Rio, Luciano de Oliveira Mattos de Souza, e "demonstrou muita preocupação com a notícia de mais uma ação policial com índice tão alto de letalidade". O Supremo diz ainda que o ministro "tem confiança de que a decisão do STF será cumprida, com a investigação de todas as circunstâncias da referida operação".

Fachin é relator da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 635, que determinou a elaboração de um plano de redução da letalidade policial em comunidades do Rio de Janeiro.

Em apenas um ano de gestão Castro, foram registradas 182 mortes em 40 chacinas, segundo levantamento do UOL com base em estudo do Instituto Fogo Cruzado junto ao Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos), grupo de estudos sobre a violência da UFF (Universidade Federal Fluminense).

Ainda ontem, o MPF (Ministério Público Federal) abriu um procedimento investigatório criminal para apurar condutas e possíveis violações cometidas por policiais na ação na Vila Cruzeiro.

O MP também abriu procedimento para investigar as "circunstâncias" das mortes e fixou prazo de dez dias para o comando do Bope enviar "procedimento de averiguação sumária dos fatos ocorridos durante a operação". Além disso, disse ainda que a ação policial ocorreu após movimentação de criminosos do CV (Comando Vermelho) da Vila Cruzeiro para a Rocinha.

A operação

A ação foi deflagrada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro sob a justificativa de impedir o movimento de criminosos ligados ao grupo criminoso CV (Comando Vermelho) da Vila Cruzeiro para a Rocinha, na zona sul do Rio.

"Nesta madrugada, identificamos grande movimentação de elementos que controlam essa e outras localidades. Provavelmente essa movimentação seria para invasão a outra comunidade", disse coronel Luiz Henrique Marinho, em entrevista coletiva realizada ontem.

No entanto, a ação, embora planejada há meses, ocorreu em caráter "emergencial" e "não tinha como objetivo cumprir mandados de prisão", segundo o comandante do Bope, Uirá do Nascimento Ferreira.

A polícia estimou que cerca de 50 criminosos iriam se deslocar da Vila Cruzeiro para a Rocinha. De acordo com os policiais, neste grupo estavam lideranças de outros estados, que têm migrado para o Rio nos últimos meses.

Segundo a PM, há um aumento no número de lideranças criminosas fora do estado em comunidades cariocas como decorrência de uma decisão judicial que limita as operações policiais no RJ, proferida pelo STF.

Sete fuzis, quatro pistolas, dez motocicletas e seis carros foram apreendidos no âmbito da operação, de acordo com a Polícia Militar do Rio de Janeiro.