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PE: 'Em 1 segundo, olhei pra trás e não vi minha casa', diz sobrevivente

30,mai.2022 - Áreas de deslizamentos cobertas por lonas na Vila dos Milagres, no bairro do Ibura, zona sul do Recife - Rodrigo de Luna/UOL
30,mai.2022 - Áreas de deslizamentos cobertas por lonas na Vila dos Milagres, no bairro do Ibura, zona sul do Recife Imagem: Rodrigo de Luna/UOL

Rodrigo de Luna

Colaboração para o UOL, no Recife

30/05/2022 16h33

A dona de casa Ana Paula Nascimento e o marido, o pedreiro Alexandre Paz, conseguiram sair de casa na Vila dos Milagres, no bairro do Ibura, na zona sul do Recife, pulando o muro com os três filhos quando viram a barreira descendo com toda a força. No local, mais de 20 pessoas foram soterradas e os bombeiros ainda buscam por desaparecidos.

"Naquele momento de muita chuva, algo me disse para eu apontar o ouvido para o alto. Eu ouvi uns estalos e dei o alerta para minha família correr. Foi por pouco. Eu segurei meus filhos pelas pernas, joguei por cima do muro e eles escaparam. Logo depois eu pulei", relatou Paz ao UOL, ao lado da esposa.

Ao menos 91 pessoas morreram em cidades do Grande Recife em decorrência das fortes chuvas desde a última quarta-feira (25). O total de desabrigados subiu para "cerca de 5.000", segundo a Defesa Civil do estado. O governo decretou situação de emergência, assim como 14 municípios da região metropolitana.

"Foi um milagre a gente ter escapado com vida. Em um segundo, enquanto eu corria, quando olhei para trás, já não vi mais minha casa. A gente perdeu tudo, mas pelo menos nós estamos vivos. E nossos vizinhos que morreram? É muito triste", finalizou Ana Paula.

Ontem, a comunidade recebeu a visita do prefeito do Recife, João Campos (PSB). A área recebeu reforço de equipes dos bombeiros, das Forças Armadas e da Defesa Civil para que as buscas por vítimas que ainda não foram achadas possam ser localizadas. Até o final da manhã, restavam nove.

Por conta do risco de novos deslizamentos, muitas barreiras receberam lonas plásticas.

Uma área maior de bloqueio foi delimitada para a passagem de moradores. Quem mora nas casas em situação de perigo foi orientado. Mas muitos dizem não ter para onde ir. É o caso da dona de casa Stefany Pereira.

"A gente está dormindo em meio ao risco por não ter opção. Faz tempo que cobramos do poder público que algo seja feito. Mas não adianta. Isso foi uma tragédia anunciada", reclamou a jovem que perdeu muitos amigos na tragédia.