Vítima soterrada reencontra equipe do Samu em Recife: 'Sou grato'
O professor Lucas Felipe Macêdo Ramos, 30, resgatado no último sábado (28) após ser soterrado por um deslizamento em Jardim Monte Verde, no Grande Recife, reencontrou nesta semana a equipe do Samu que o atendeu.
As fortes chuvas que atingem Pernambuco desde quarta-feira (25) provocaram o rompimento de barreiras, causando inundações e deslizamentos. Pelo menos 128 pessoas morreram.
O bairro de Ibura, onde mora o professor Lucas Ramos, foi um dos locais mais afetados pelas chuvas. Na manhã do acidente, ele tentava ajudar vizinhos soterrados, mas, quando chegou ao local, um segundo deslizamento de terra o atingiu.
Familiares de Lucas, mobilizados para ajudar no resgate dos vizinhos, também foram soterrados. Ele perdeu o irmão, José Felipe, 20 anos; o cunhado, Felipe Santos, 35 anos; e a esposa, grávida de poucas semanas, Nadine Fenelon, 26 anos.
O resgate de Lucas durou três horas. O bairro de Ibura está localizado numa região de morros e ladeiras.
Estou acamado, mas já melhorando. Consigo andar muito pouco, mas realmente preciso estar mais deitado. Foi muito peso em cima das minhas pernas. Estão inchadas, mas tudo seguindo sob controle. A lombar também está muito dolorida, mas não tive nenhuma fratura. Não quebrei nada.
Depoimento de Lucas Ramos, que sobreviveu após ser soterrado por um deslizamento em Recife
O socorrista José Francisco Neto, 33, que participou do resgate de Lucas, descreveu o cenário que encontrou ao chegar no local do deslizamento.
"Vimos o Lucas soterrado do tronco para baixo pois a população já tinha tirado bastante barro e entulhos", afirmou. "Quando você chega, as pessoas olham como se você fosse a solução. Aquele olhar de esperança da solução, junto com a adrenalina do momento."
Neto diz que, em 12 anos de profissão, nunca participou de um resgate parecido, quando toda a população ajuda a salvar a vítima.
A mais recente tragédia no Grande Recife supera as chuvas de 1975, quando 107 pessoas morreram no estado. A enchente de maio de 1966, que matou 175 pessoas, continua como o maior desastre da história de Pernambuco.
"Eles [Samu] estavam muito bem preparados, me acalmaram a todo o momento. Deus guiou todos eles naquele primeiro momento. Eles foram fora de série, sou grato por isso. Salvaram a minha vida", afirmou Lucas. "Queria deixar gratidão pela vida deles, porque também correram riscos. Que Deus continue abençoando todos, da melhor forma."
Fábio, vizinho de Lucas, também comentou o resgate. "Assim que encontramos o Lucas com vida, Neto conseguiu pegar a mão dele, desceu, cavou uma parte, ficou sentado e botou a cabeça do Lucas encostada na perna dele para dar um descanso", detalha. "Contato com remédio, soro, o tempo todo com Lucas ali e também instruindo a gente como saber cavar, como saber puxar, cortar os galhos. O Lucas sair vivo foi um milagre".
Fenômeno atípico
As fortes chuvas que atingiram o Recife e cidades vizinhas foram provocadas por um sistema climático conhecido como Distúrbio Ondulatório de Leste. Ele tem como uma de suas principais características o deslocamento da massa de ar do oceano Atlântico para o continente.
Ele se movimenta em ondas. "A primeira onda vem trazendo chuvas de moderadas a fortes. O segundo movimento é caracterizado pela ausência ou reduzida precipitação. Na terceira onda, normalmente, podemos esperar chuvas ainda mais intensas", explicou o meteorologista Fabiano Prestelo, da Apac (Agência Pernambucana de Águas e Climas).
Segundo ele, a primeira onda observada no Distúrbio Ondulatório Leste deste ano foi justamente da terça (24) para a quarta (25).
De acordo com a Agência Pernambucana de Águas e Clima, apesar da redução no volume, as precipitações devem continuar na região metropolitana do Recife e na Zona da Mata, "diminuindo no final de semana no litoral pernambucano".
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