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Advogado de petista assassinado pedirá apurações sobre motivação política

Colaboração para o UOL, em Brasília

15/07/2022 12h49

Em entrevista ao UOL News, o advogado Daniel Godoy afirmou hoje que pedirá à Justiça do Paraná que determine que mais investigações sejam feitas para apurar se o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda teve motivação política. Filiado ao PT, Arruda foi morto a tiros pelo policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho enquanto comemorava o aniversário de 50 anos no último fim de semana, no Paraná.

"Queremos a busca da verdade. A investigação não pode ser produza para incriminar um ou afastar a responsabilidade de outro", disse. "Existe toda uma rede de disseminação de ódio e violência política no Brasil. A nossa sociedade espera dos seus mandatários que eles ajam com ética e moralidade. Esse é o fundamento da nossa constituinte e de tratados internacionais. O Brasil nunca viveu momento com esses desde a redemocratização", afirmou.

A manifestação ocorreu após a Polícia Civil do Paraná anunciar que indiciou hoje o policial penal Jorge José da Rocha Guaranho por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e por causar perigo a outras pessoas. O guarda municipal Marcelo Arruda foi morto a tiros no último sábado (9) enquanto comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática do PT em Foz do Iguaçu.

Embora a investigação tenha concluído que o atirador foi ao local para "provocar" os participantes da festa, já que é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), a Polícia Civil entende não haver provas suficientes para constatar que houve crime de ódio com motivação política.

A delegada Camila Cecconello, chefe da DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa) e responsável pela investigação, disse em entrevista coletiva concedida hoje de manhã que o atirador ficou sabendo da festa em homenagem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando participava de um churrasco do futebol com amigos e decidiu ir ao local, onde se envolveu em uma discussão envolvendo divergências políticas.

Crime foi por causa de política, diz mãe de atirador

Mãe do policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, a comerciante Dalvalice Rosa diz acreditar que a intolerância política foi o que motivou o filho a matar a tiros o guarda municipal Marcelo Aloizio Arruda na noite de sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR). "Estamos sem chão. O que aconteceu tem a ver com extremismo e intolerância política. Eles não se conheciam, e nada mais explica essa tragédia", afirmou Dalvalice ao UOL.

O crime ocorreu dentro da Aresf (Associação Recreativa Esportiva Segurança Física), clube em que Arruda comemorava o aniversário de 50 anos numa festa temática com símbolos do PT e imagens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao UOL, testemunhas dizem que Guaranho se deslocou ao local após um jantar com a esposa e um bebê de cerca de 3 meses.

A mãe do policial penal afirma que o filho tocou músicas de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) enquanto fazia uma ronda de carro pelo clube, do qual ele seria sócio. O UOL tenta contato com a direção da Aresf. Segundo registros da Polícia Civil, Guaranho fez ainda ameaças de morte a pessoas que participavam da festa de Arruda. Do banco de trás, a mulher do bolsonarista teria pedido ao marido para que parasse com as provocações e fosse embora. Eles deixaram o local após Arruda jogar pedras no veículo de Guaranho, que reagiu apontando uma arma em direção ao guarda municipal petista.

Segundo imagens de câmeras de segurança, cerca de 20 minutos depois, o policial bolsonarista retornou sozinho à Aresf. Nesse momento, a mulher de Arruda, Pâmela Suellen Silva, se identificou como policial civil. Foi quando Guaranho começou a atirar no petista. "Se eu estivesse lá, teria tentado impedir que isso acontecesse. Mal consigo imaginar a dor da outra família. Não se discute sobre religião, futebol, e politica... Ninguém ganhou nada com essa provocação, só houve perdedores", afirma a mãe do bolsonarista.

Estado grave: Guaranho levou 3 tiros, um no rosto

Ferido, o guarda municipal petista revidou os tiros que havia recebido do bolsonarista. Ao UOL, Dalvalice afirmou que o filho foi atingido no rosto e nas duas pernas. De acordo com ela, o policial penal sofreu ainda um edema na cabeça provocado por chutes desferidos por homens presentes no local em que ele havia disparado contra Arruda. A Polícia Civil investiga se as agressões contribuíram para a gravidade do estado de Guaranho.

Sem precedentes de violência na PM

Ao UOL, a Polícia Militar do Rio de Janeiro, em que Guaranho trabalhou por cerca de dois anos antes de se tornar policial penal federal, afirmou que o ex-militar não foi alvo de processos internos dentro da corporação e que não há registros de conduta violenta por parte dele. "O referido homem fez parte da PMRJ por menos de dois anos e, aparentemente, saiu da corporação por ter passado em outro concurso público", afirmou o órgão estadual em nota.

Bolsonaro repreende Guaranho e critica esquerda

O presidente Bolsonaro se pronunciou sobre o assassinato na noite de domingo. "Independente das apurações, republico essa mensagem de 2018: Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos", escreveu.

Guaranho usa as redes sociais principalmente para defender o mandatário, se diz contra o aborto e drogas e afirma que armas são sinônimo de defesa. Em junho de 2021, ele aparece numa foto ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). "Vamos fortalecer a direita", escreveu em abril deste ano.

Jorge Guaranho ao lado de Eduardo Bolsonaro - Jorge Guaranho - Jorge Guaranho
Jorge Guaranho ao lado de Eduardo Bolsonaro
Imagem: Jorge Guaranho

Prisão decretada e delegada trocada

O governo do Paraná informou na manhã de hoje a saída da delegada Iane Cardoso do comando da investigação sobre o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda. Ela foi substituída pela delegada Camila Cecconello, que chefia a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, sediada em Curitiba (PR). A mudança ocorreu depois de a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) dizer ter recebido relatos de que Iane Cardoso fez postagens contra o PT em 2016.

A Justiça decretou a prisão preventiva do agente penitenciário Jorge Guaranho, que matou o guarda municipal petista. A informação é do Ministério Público do Paraná. O promotor Tiago Lisboa disse, em entrevista a jornalistas, que um juiz plantonista aceitou o pedido de conversão da prisão em flagrante para prisão preventiva na noite de ontem.

O Ministério Público informou que tanto a arma de Guaranho quanto a de Arruda eram institucionais, ou seja, de uso ligado à profissão. O órgão afirmou que apura se o crime teve motivação política. Para o promotor do caso, a investigação deve ser "de fácil resolução", mas é preciso esclarecer a razão pela qual Guaranho estava no local. De acordo com o MP, o agente seria membro de uma associação na região, vizinha de onde aconteceu o caso.