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Polícia muda delegada que investiga assassinato de petista por bolsonarista

Marcelo Arruda comemorou aniversário de 50 anos com temática petista em Foz do Iguaçu (PR) - Reprodução/Twitter/@gleisi
Marcelo Arruda comemorou aniversário de 50 anos com temática petista em Foz do Iguaçu (PR) Imagem: Reprodução/Twitter/@gleisi

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

11/07/2022 12h22

O governo do Paraná confirmou hoje de manhã a saída da delegada Iane Cardoso do comando da investigação do assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, morto a tiros na noite de sábado em Foz do Iguaçu (PR) enquanto comemorava o seu aniversário de 50 anos com uma festa temática do PT.

Ela foi substituída pela delegada Camila Cecconello, que chefia a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), sediada na capital Curitiba. Ela ainda contará com o apoio de uma equipe da delegacia especializada "para garantir celeridade na apuração dos fatos", informou nota enviada pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná.

O texto não informou o motivo da mudança, mas ela ocorreu após Gleisi Hoffmann, deputada federal pelo estado e presidente do PT, dizer ter recebido relatos de que a delegada Iane Cardoso fez postagens contra o partido em 2016, segundo informou o blog da Andréia Sadi, da GloboNews.

"Petista quando não está mentindo está roubando ou cuspindo", teria escrito. Outra postagem também atribuída à delegada contém as hashtags "#foralula" e "#forapt". A delegada negou parcialidade.

Após enviar nota confirmando a mudança, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná disse que Iane Cardoso ainda faz parte da equipe que investiga o caso —mas agora está subordinada à DHPP. "Houve um reforço com a criação de força-tarefa coordenada pela delegada Camila Cecconello, chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa", esclareceu.

O autor dos disparos foi o policial federal penal Jorge José da Rocha Guaranho, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), também baleado na ação, que está internado em estado grave no Hospital Municipal de Foz do Iguaçu. Um vídeo de câmeras de segurança mostrou o momento em que foram dados os tiros. A Justiça decretou a conversão da prisão em flagrante para prisão preventiva dele.

Guaranho entrou no local sem ser convidado e disparou contra Arruda. Segundo o boletim de ocorrência, ao invadir a festa, ele teria gritado "aqui é Bolsonaro". O petista também estava armado, reagiu e atirou no agressor. A Polícia Civil do Paraná irá investigar se houve crime de ódio com motivação política. E deve ouvir nos próximos dias testemunhas do caso.

Um inquérito paralelo foi aberto para apurar as agressões sofridas por Guaranho após ser atingido por disparos —as imagens mostram ele sendo agredido por chutes na cabeça dados por pessoas que estavam na festa de Arruda, alusiva ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O corpo de Arruda está sendo velado desde ontem à noite em cerimônia com a presença de centenas de pessoas no ginásio de esportes Sebastião Flor, em Foz do Iguaçu (PR). O caixão foi coberto com as bandeiras do PT e da Guarda Municipal. O enterro está previsto para as 14h de hoje. no cemitério Jardim São Paulo.

Após ir ao velório ontem à noite, a deputada petista Gleisi Hoffmann divulgou um vídeo cobrando providências do Judiciário.

Como foi a ação

André Alliana, amigo do aniversariante, disse ao UOL que a festa transcorria normalmente quando Guaranho chegou por volta das 23h, em um carro branco, com a mulher no banco de trás, segurando um bebê de colo.

Achamos que era um convidado, já que também tinha bolsonaristas no local. O Marcelo estava na cozinha e fomos chamá-lo para receber esse homem. Foi aí que vimos que não era brincadeira"
André Alliana, amigo de Arruda

Com medo, Arruda foi até seu carro e voltou com uma pistola, diz Alliana. Quinze minutos depois, Guaranho voltou sozinho ao local.

O vídeo mostrou Guaranho saindo do veículo com uma arma. A mulher de Arruda tenta dissuadi-lo, mostrando a carteira funcional da Polícia Civil. O atirador desobedece a policial e efetua dois disparos em direção ao salão de festas.

Outras imagens mostram Arruda de pé, caminhando com dificuldade pelo salão, mancando. Segundos depois, ele cai no chão e se abriga atrás de uma mesa. Em seguida, o policial penal surge correndo dentro do salão de festas, com arma em punho, e mira em direção ao aniversariante, que tentava se proteger.

A esposa de Arruda tenta impedir que Guaranho atire novamente. Ele se desequilibra e cai no chão, mas consegue disparar. O bolsonarista se levanta e sai correndo, ainda armado. Arruda, já ferido, atira contra Guaranho, que é atingido e cai no chão. Um homem não identificado aparece e dá chutes no rosto do bolsonarista, que para de se mover.