Mais de 300 pinguins são encontrados mortos em 40 dias em Florianópolis
A temporada 2022 de pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus), em Florianópolis, começou com um dado alarmante: desde o primeiro registro de avistamento destes animais, em 29 de maio, até ontem, a Associação R3 Animal, organização dedicada ao atendimento de animais silvestres, monitorou o aparecimento de 309 aves da espécie, dos quais apenas cinco sobreviveram após resgate. Grande parte das mortes é associada à intervenção humana.
Em um único dia, 41 aves foram encontradas sem vida entre a Barra da Lagoa e a Praia do Moçambique. O número de mortos antes mesmo de qualquer resgate chega a 290. Os sobreviventes que resistiram seguem em reabilitação.
Os animais resgatados com vida geralmente são ainda jovens, em seu primeiro ano de vida, e esta seria a sua primeira migração ao Brasil, desde a Patagônia, no extremo sul das Américas. Como são inexperientes, após esse longo trajeto, eles chegam exaustos e magros, e alguns não resistem.
"Infelizmente, no exame de necropsia a maioria dos animais apresenta alterações compatíveis com afogamento por interação antrópica (captura não intencional por apetrechos de pesca - bycatch), além de sinais de desnutrição devido ao longo caminho percorrido durante a migração e falta de alimento neste período", explica a médica veterinária Janaína Rocha Lorenço.
A maioria dos animais foi resgatada durante monitoramento diário realizado pela associação nas praias da faixa leste, totalizando 222 pinguins. Os demais foram resgatados em outras praias. As ações de resgate, reabilitação e soltura são realizadas por meio do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos.
Os pinguins encontrados na capital catarinense que deram entrada vivos no CePRAM(Centro de Pesquisa, Reabilitação e Despetrolização de Animais Marinhos) da R3 Animal, e seguem em tratamento, se juntaram a outros cinco, que já estavam em reabilitação no local. Dois da temporada passada, que encalharam no início do ano, dois resgatados pela Univali, no Litoral Norte, e um resgatado pela Univille, na região de São Francisco do Sul.
O encalhe diário de pinguins nas praias catarinenses nesta época é comum, segundo a R3 Animal, e segue até a primavera. O que chama a atenção é o encalhe em massa, como o que aconteceu no dia 26 de junho, quando a técnica de monitoramento Amanda Lucena Fernandes encontrou 41 pinguins mortos entre as praias da Barra da Lagoa e do Moçambique. No dia seguinte, a técnica de monitoramento Paula Azevedo Figueiredo encontrou mais 14 no mesmo trecho.
A ausência de penas nas aletas, conhecida como apteria, é um indicativo de interação antrópica — ou seja, uma ação causada pelo homem. O animal acaba se enroscando em linhas de pesca, redes e anzóis, se debate para tentar se soltar e acaba perdendo as penas.
Alta mortalidade
Embora os números pareçam altos, segundo a associação eles representam um padrão de encalhe desses animais em 2022. Para se ter uma ideia, ao longo do ano de 2021, a R3 Animal registrou 1.728 pinguins nas praias da ilha. Desses, apenas 178 estavam vivos no momento do resgate.
Até o dia 14 de julho deste ano, 578 animais marinhos foram encontrados na Ilha de Santa Catarina. Apenas 92 estavam vivos no momento do resgate (486 mortos). Desse número, 456 eram aves.
Até o momento, foram encontrados 21 mamíferos marinhos, sendo 18 golfinhos mortos, entre eles 13 toninhas (Pontoporia blainvillei), o golfinho mais ameaçado de extinção do Atlântico Sul.
Os outros três mamíferos eram leões-marinhos-do-sul (Otaria flavescens) que morreram, apenas um chegando a ser resgatado.
No mesmo período, das 101 tartarugas marinhas resgatadas, apenas três estavam vivas e foram entregues no Projeto Tamar Sul para reabilitação.
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