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São 72 espécies peçonhentas: como anda a população de cobras no Brasil?

O Brasil tem 72 espécies peçonhentas de cobras, o que corresponde a 16% do total de espécies em solo nacional - Wikipedia
O Brasil tem 72 espécies peçonhentas de cobras, o que corresponde a 16% do total de espécies em solo nacional Imagem: Wikipedia

Nicole D'Almeida

Colaboração para o UOL

15/08/2022 04h00Atualizada em 15/08/2022 13h57

Até fevereiro deste ano, existiam 432 espécies de cobras mapeadas no Brasil, segundo levantamento feito pelo herpetologista (especialista em répteis e anfíbios) e diretor cultural do Instituto Butantan, Giuseppe Puorto. Mas, calma: diferente do que muita gente possa pensar, nem toda serpente é peçonhenta.

Na verdade, elas são a minoria entre as cobras. Apenas 72 espécies possuem mecanismos, como dentes ocos, para injetar o veneno no organismo de outros animais. Esse número corresponde a 16% do total. Entre elas, as mais conhecidas são: jararaca, cascavel, surucucu e coral.

Número de espécies só aumenta

A quantidade de espécies de cobras tem aumentado ao longo do anos —mas isso ocorre porque há mais pessoas pesquisando esses animais no mundo.

"Em janeiro de 2011, nós tínhamos no mundo 3.149 espécies conhecidas. Em 2021, esse número passou para 3.921. Em 2022, 3.956 espécies. Essa situação mundial se repete no Brasil", explica Puorto.

Mais espécies têm sido descobertas e outras, já conhecidas, têm se espalhado pelo país. É o caso da cascavel, por exemplo. Esse animal vive em áreas abertas e, com o desmatamento da Mata Atlântica, acaba sendo encontrado em uma área cada vez maior.

Espécies ameaçadas de extinção

Há espécies que se multiplicam pelo Brasil e há outras que correm o risco de desaparecer, como a Bothrops insularis, uma espécie de jararaca que só existe na Ilha da Queimada Grande, em São Paulo.

A Ilha da Queimada Grande, no litoral sul de São Paulo, é infestada por milhares de cobras, principalmente jararacas-ilhoa (Bothrops Insularis) - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
A Ilha da Queimada Grande, no litoral sul de São Paulo, é infestada por milhares de cobras, principalmente jararacas-ilhoa (Bothrops insularis)
Imagem: Reprodução/YouTube

"Essa população está muito sujeita a ser diminuída com muita frequência, porque está reduzida a uma ilha e, se acontece algum problema nessa pequena população, você tem um fim da espécie", explica Cláudio Machado, biólogo do Instituto Vital Brazil.

Puorto cita o exemplo da serpente conhecida como jiboia do ribeira (Corallus cropanii). Por ser encontrada em uma região muito específica e não se saber muito sobre ela, essa espécie está na lista de animais ameaçados de extinção.

"Existem ainda espécies que a gente nem conhece, descobriu há muito pouco tempo e talvez tenha outras que a gente nem vá conhecer", conta o herpetologista.

Um fator que influencia diretamente na redução da população de cobras são as questões ambientais. À medida que o ser humano modifica o meio ambiente, os animais podem perder seu espaço natural.

Tem cobra em todo lugar

Por ser um grupo muito diverso, em praticamente qualquer lugar do país é possível encontrar algum tipo de cobra, seja no solo, nas árvores, nas montanhas, nos rios ou nos mares.

Cláudio Machado explica que algumas espécies são mais "cosmopolitas", como as jararacas. As cascavéis vivem em lugares abertos, secos, pedregosos e mais áridos, sendo comuns no Cerrado e na Caatinga. No entanto, segundo Puorto, também podem ser encontradas na Amazônia.

Cobra cascavel - iStock - iStock
Cascavéis vivem em lugares secos, como no Cerrado e na Caatinga, mas também podem ser encontradas na Amazônia.
Imagem: iStock

"E as que são mais características de algum bioma, como o caso da sucuri, que você encontra no Pantanal, mas não só, você encontra sucuri também na Mata Atlântica", conta Machado.

É possível encontrar cobras até na maior metrópole do país, São Paulo, embora em uma quantidade menor em comparação a décadas passadas.

"Na década de 90, dentro da área urbana, tinha 36 espécies de serpentes. Partindo do marco zero da cidade, que é a Praça da Sé, a gente encontrava com, aproximadamente 8 km, algumas serpentes. Hoje não porque diminuímos a possibilidade desses animais sobreviverem nessa malha urbana", conta Puorto.

Segundo o herpetologista, as cobras podem ser vistas na zona norte, na região da Serra da Cantareira, ou no sul da cidade, na região de Santo Amaro, onde há uma grande "mancha verde".

Mortes causadas por cobras peçonhentas

As cobras peçonhentas não são a maioria entre as espécies existentes no Brasil, mas ainda causam mortes no país.

Atualmente, são registrados cerca de 30 mil acidentes por ano provocados por serpentes, com um índice de letalidade de 0,5%. Ou seja, aproximadamente 150 pessoas morrem a cada ano depois de serem mordidas por cobras peçonhentas.

Esse número é considerado baixo se comparado com cem anos atrás, quando a estimativa era de uma média de 20 mil acidentes por ano e cerca de 5.000 mortes.

A quantidade de mortes caiu drasticamente, mas, segundo Puorto, ninguém deveria morrer por ser mordido por uma cobra. De acordo com ele, as mortes acontecem porque a pessoa demora para ser atendida, faz algo que não é recomendado em casos de picada de cobra ou o organismo dela responde de maneira diferente.

Segundo o herpetologista, em geral, "o acidentado é do sexo masculino, de 15 a 50 anos e trabalha no campo todo dia. Esse é o perfil clássico de quem é acidentado. Aquela pessoa que foi fazer uma caminhada pode ser acidentada, mas a maioria é o pessoal que trabalha em campo todo santo dia".

Acidentes com cobras

Para evitar ser picado por uma cobra, é recomendado usar calçados fechados, de preferência de cano alto, ao andar ou trabalhar no mato. Deve-se usar luvas grossas se precisar mexer em folhas secas, lixo, lenha, palhas, etc. Também é importante evitar colocar as mãos em buracos e acumular lixo e entulho.

Caso seja picado por uma serpente, nada de pânico. A pessoa deve ser levada para o hospital ou centro de saúde mais próximo. O local da picada deve ser lavado com água e sabão e, se possível, manter elevada a parte do corpo que foi picada

"Não se deve fazer o uso de torniquetes (garrotes), incisões ou passar substâncias (folhas, pó de café, couro da cobra etc.) no local da picada. Essas medidas interferem negativamente, aumentando a chance de complicações como infecções, necrose e amputação de um membro", informa o Instituto Butantan em sua página na internet.