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Não entre! Veneno de jararaca da Ilha das Cobras (SP) é 20 vezes mais forte

A Ilha da Queimada Grande, no litoral sul de São Paulo, é infestada por milhares de cobras, principalmente jararacas-ilhoa - Reprodução/YouTube
A Ilha da Queimada Grande, no litoral sul de São Paulo, é infestada por milhares de cobras, principalmente jararacas-ilhoa Imagem: Reprodução/YouTube

Franceli Stefani

Colaboração para o UOL

11/04/2022 04h00Atualizada em 26/04/2022 08h42

Uma ilha pequena, rochosa e ocupada por 15 mil serpentes. Assim é a Ilha da Queimada Grande, conhecida como Ilha das Cobras, um território de 43 hectares, de difícil acesso, a 35 km do litoral de São Paulo. É a segunda maior concentração de cobras por área no mundo, perdendo apenas para a Ilha de Shedao, na China.

O território é habitado, principalmente, pelas jararacas ilhoas (Bothrops insularis), tipo de víbora endêmica da região cujo veneno é altamente tóxico. Uma única picada pode ser mortal e matar uma pessoa em apenas seis horas.

"São parentes das jararacas continentais, só que donas de um veneno de 12 a 20 vezes mais forte. A ilha é um paraíso com excesso de serpentes", diz um comunicado do site da Prefeitura de Itanhaém (SP), responsável pela área.

Devido aos riscos, o desembarque de turistas é proibido, apenas profissionais da área ambiental estão autorizados. A área é uma Unidade de Conservação Federal.

"A Bothrops insularis mede, em geral, entre 0,5 e 1 metro, sendo as fêmeas ligeiramente maiores", explicou o biólogo Marcelo Ribeiro Duarte, do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan, à BBC News.

Atualmente, as espécies Ilhoa e Dormideira estão espalhadas pelo terreno, sendo que a Ilhoa nunca foi encontrada em nenhum outro lugar no mundo.

Ainda segundo a prefeitura, o paraíso das cobras veio do isolamento geográfico provocado pela glaciação da terra: "Quando as águas do degelo cobriram grandes extensões de terra, formaram-se várias ilhas, como essa. A maioria dos animais migrou para o continente. Os demais, impossibilitados de nadar, ficaram confinados, sobreviveram apenas aqueles que puderam se adaptar."

A ilha foi descoberta em 1532 pela expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza.

Passeios de barco levam turistas para os arredores da Ilha das Cobras, a 35km da costa de Itanhaém - Divulgação/Pesca com Bill - Divulgação/Pesca com Bill
A 35km da costa de Itanhaém, a Ilha das Cobras é proibida de receber turistas devido aos riscos
Imagem: Divulgação/Pesca com Bill

Veneno potencializado

A serpente se alimenta de pequenos anfíbios e lacraias quando pequena, mas já adulta, ingere, exclusivamente, aves —migratórias, já que as que moram ali também mudaram o comportamento.

De coloração clara, a jararaca-ilhoa pode chegar a até dois metros de comprimento em alguns casos.

Presa numa ilha rochosa, a jararaca passou a subir em árvores, o que não é natural para as espécies do continente — é a única do Brasil que vive no alto.

Segundo os pesquisadores, os poucos corajosos que visitaram o local afirmaram que o espaço tem uma fauna escassa.

Desde que o farol da ilha foi automatizado, os seres humanos são exceção. A mudança aconteceu em 1918, devido aos acidentes fatais envolvendo a picada da cobra.

Quem entrou na ilha precisou seguir um esquema rígido de segurança, que inclui um médico junto. Mas, apesar do risco, o local é alvo de piratas e traficantes de animais que invadem o espaço para capturar a espécie e vendê-la no mercado clandestino. Elas custam cerca de R$ 30 mil cada - o comércio ilegal de animais está sujeito a prisão.

Errata: este conteúdo foi atualizado
A população de cobras é de cerca de 15 mil. O texto já foi corrigido.