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SP: Quem é a suspeita de morte de amigo para assumir identidade e bens dele

Mary Munhoz, 49, é ativa nas redes, onde busca ajuda para ongs e projetos focados na comunidade LGBTQIA+ - Reprodução/Facebook
Mary Munhoz, 49, é ativa nas redes, onde busca ajuda para ongs e projetos focados na comunidade LGBTQIA+ Imagem: Reprodução/Facebook

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

01/09/2022 10h01

Marianah Munhoz e Mary Munhoz nas redes sociais. Ou Maryana Elisa Rimes Paulo, como identificou a Polícia Civil de São Paulo. Não importa o nome com que se apresenta. O fato é que a história da mulher de 49 anos presa ontem em São Bernardo do Campo (SP) — suspeita de ter matado o próprio amigo, Marcelo do Lago Limeira, para assumir seus bens e identidade — é cercada de mistério.

"Cantora, maquiadora e travesti empenhada em fazer o bem e ajudar ao próximo", são algumas das descrições de suas amigas mais famosas, que chegaram a destacar suas ações de caridade publicamente.

Em diversos vídeos, tanto no TikTok, onde ela é seguida por mais de 7 mil usuários, quanto no Instagram, que conta com mais de 18 mil seguidores, Mary se mostra benevolente. Angaria cestas básicas para mulheres transexuais em condições de pobreza. Pede ajuda financeira para instituições que cuidam da população LGBTQIA+ de baixa renda. Pede socorro médico a homens e mulheres doentes.

Uma imagem diferente da revelada pela polícia, que afirma que, desde 2021, ela fazia uso dos bens do amigo Marcelo e movimentou cerca de R$ 1 milhão em seu nome. Ela teria ido ajudá-lo após uma cirurgia no rosto, que daria início a um processo de transição de gênero, como a que a própria Munhoz passou há anos. A vítima, no entanto, ainda não havia adotado novo nome nem mesmo nas redes sociais.

No entanto, as autoridades estimam que ele foi assassinado em 21 de maio de 2021, e seu corpo foi encontrado apenas dois meses depois, na Estrada Edgar Máximo Zambotto, que liga a Grande São Paulo ao município de Jundiaí.

Segundo a investigação, desde o homicídio, Munhoz e um colega, identificado como Ronaldo Bertolini, teriam utilizado os cartões e contas bancárias da vítima, além de negociar carro e imóveis e em seu nome, usando uma procuração e documentos originais da vítima, quando a maquiadora assumia sua identidade alegando transição. As informações da linha de investigação que está sendo considerada foram confirmadas ao UOL pela Secretaria de Segurança Pública. Ronaldo está foragido.

Em um postagem publicada há três semanas, Mary pede ajuda para um abrigo gerido por segundo suspeito do crime - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Em um postagem publicada há três semanas, Mary pede ajuda para um abrigo gerido por segundo suspeito do crime
Imagem: Reprodução/Instagram

Há três semanas, em um dos vídeos postados no Instagram, Mary Munhoz pede ajuda financeira para um abrigo voltado a homens gays que não têm onde morar, chamado Casa G, gerido por Ronaldo Gomes Bertolini.

Ela também se apresenta como cantora e já fez várias performances em teatros da região central de São Paulo, sempre com objetivo de angariar fundos para ações beneficentes. Segundo ela mesma diz, suas performances incluem canções de Mariah Carrey, Lady Gaga e Maria Bethânia.

Entre suas publicidades nas redes estão restaurantes, óticas e até corretoras de imóveis. Ela vende de óculos de sol a apartamentos na planta. E seu cachê geralmente é justificado para ser convertido em doações aos projetos que cuida.

Marcelo Limeira eram conectados pelas redes socias; segundo polícia, vítima seria auxiliada por Mary Munhoz durante processo de transição de gênero - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Marcelo Limeira eram conectados pelas redes socias; segundo polícia, vítima seria auxiliada por Mary Munhoz durante processo de transição de gênero
Imagem: Reprodução/Facebook

Preocupação com imagem

Ouvido pelo UOL, o representante de um empreendimento em São Paulo disse que conheceu Mary há um mês apenas e que ela se prontificou a fazer publicidades em troca de uma ajuda financeira, para que pudesse custear suas obras sociais. Ele ficou sabendo da prisão ontem e está tentando localizar quem cuida das redes de Mary na sua ausência para poder retirar as postagens do ar.

"Ela enviou um áudio há uns dias dizendo que estaria ausente por um mês, porque a mãe estaria passando por problemas de saúde e ela teria que viajar para ficar ao lado dela e não estaria levando o celular, pois onde a mãe mora, no interior, não teria sinal. Ontem soube da prisão dela".

A estilista Michelly Summer é amiga de Mary Munhoz há pelo menos 20 anos e disse que a versão da polícia não bate com a pessoa que "todos conheciam".

"Se havia alguém que pudesse ser apontada como símbolo de bondade, de amor ao próximo, de caridade em meio à comunidade LGBTQIA+, essa pessoa era a Mary. Desde que eu a conheço, ela vivia de ajudar as pessoas. Ela era capaz de tirar a roupa do corpo para cobrir alguém necessitado", afirma.

Sobre Marcelo, a estilista diz que o conheceu há 15 anos, por meio da amiga. "Ele era muito reservado, com poucos amigos, mas muito divertido. Quanto a essa história de que ele queria fazer a transição, que a cirurgia plástica era para isso, eu não sabia disso. Pelo que todos nós sabíamos, ele fez a cirurgia para retirar um excesso de silicone das bochechas, que ele havia colocado e se arrependido. Foi quando a Mary largou tudo para ficar com ele em São Bernardo ou Santo André, onde ele morava. Ela disse que iria cuidar dele".

O UOL tentou conversar com mais amigos de Munhoz, mas nenhum outro dos diversos abordados quis dar entrevista sobre o caso.

Ontem, no início da tarde, ela postou um vídeo misterioso em seu Instagram, bloqueado para comentários, onde diz que achou necessário dar uma satisfação aos seus seguidores.

"Linda e lindo, só estou aqui para dar uma satisfação. Aconteceu um problema e eu estou pagando por ele", diz, arregalando os olhos. "Tem coisas que não posso falar. Mas o importante é que estou bem e vou ficar bem. Independente de onde eu estiver. Quero pedir para vocês não pararem de doar. Mesmo que eu não esteja aqui. Tem tanta gente precisando", encerra, com uma expressão preocupada.

A reportagem tentou localizar alguma referência a Marcelo Limeira nas postagens da cantora, além do fato deles serem amigos no Facebook, mas nada aparente foi encontrado.

O UOL entrou em contato diretamente com Mary Munhoz pelo seu perfil no Instagram, mas também não houve resposta até o momento.

Em contato com a TV Globo, a defesa dela afirmou que só irá se pronunciar depois de conclusão de todo o processo legal.